O amor materno foi de tal modo cantado em prosa e verso que pouco resta a dizer. Até o papa João Paulo I disse que Deus "é uma mãe". No final dos anos cinqüenta assisti um drama no Circo Teatro Irmãos Almeida, aqui em Itapira. O nome da peça era "Coração Materno" e o enredo era assim:
“Disse um campônio à sua amada:
- Minha idolatrada, diga o que quer! Por ti vou matar, vou roubar, embora tristeza me causes mulher. Provar quero eu que te quero, venero teus olhos, teu porte, teu ser. Mas diga, tua ordem espero, por ti não importa matar ou morrer.
E ela disse ao campônio a brincar:
- Se é verdade tua louca paixão, parte já e prá mim vai buscar, de tua mãe inteiro o coração.
E a correr o campônio partiu, como um raio na estrada sumiu. Sua amada qual louca ficou e a chorar na estrada tombou.
Chega à choupana o campônio e encontra a mãezinha ajoelhada a rezar. Rasga-lhe o peito o demônio, tombando a velhinha aos pés do altar. Tira do peito sangrando da velha mãezinha o pobre coração, e volta a correr proclamando:
- Vitória! Vitória! Tem minha paixão!
Mas em meio à estrada caiu e na queda uma perna partiu, e à distância saltou-lhe da mão, sobre a terra o pobre coração. Nesse instante uma voz ecoou:
- Magoou-se pobre filho meu? Vem buscar-me filho, aqui estou, vem buscar-me que ainda sou teu!”.
Esta é a letra da música de Vicente Celestino (gravada em 1937) que tocava na hora que o filho desnaturado, interpretado por Walter de Almeida, apunhalava a mãe. Não tinha quem não chorasse!
Sei que elas, as mães, são a rainha do lar, umas santas, só tem uma, com a minha ninguém mexe e coisas tais, mas não precisava exagerar tanto. Mesmo tendo os do contra. Não sei se foi o Nélson Rodrigues ou o Freud que disse que "mãe é doença".
Antes de serem mães elas são mulheres. Algumas bem e outras mal. Umas foram esposas, outras amantes e algumas nada disso. Mas estão ai, lutando, segurando a barra, quase nunca desistem. Na procriação a natureza foi injusta com elas, pois ao macho cabe apenas o prazeroso papel de fecundar e quase sempre são elas que têm de agüentar o rojão (sem associações maliciosas): a gravidez, o parto, amamentação, primeiros, segundos e terceiros cuidados (conheço mães que cuidam da comidinha e da roupinha de filhinhos cinquentões).
Filhos! Na celebração do dia desta que te gerou, por favor, não dêem mais um utensílio doméstico Pense que talvez ela ande um pouco cansada de casa e cozinha. Valorize a pessoa atrás da função. Ela é antes de qualquer coisa uma mulher; um ser humano com desejos, frustrações, sonhos, esperanças.
O dia das mães cai perto do 13 de maio, data marco da história da escravidão no Brasil. Proclame uma Lei Áurea para sua mãe! Liberte-a dos excessos de trabalho, de preocupação (apesar de isso ser meio impossível) e não se assuste quando sua mãezinha, num arroubo de felicidade incontida, transformar-se um pouco naquela mocinha feliz e cheia de sonhos que ela foi um dia. Seja mãe para sua mãe nesse dia e sempre que tiver oportunidade!
Feliz dia das mães para elas, pais, filhos, netos, bisnetos, maridos, genros e noras. Se todo mundo fosse um pouquinho mãe de vez em quando o mundo seria melhor!
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