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Artigo
09/08/2015 | Valeria Vassoler: Dor no nervo ciático é sintoma de hérnia de disco em 90% dos casos

Do UOL, em São Paulo

 
Muitas vezes interpretada como doença, a dor no nervo ciático – aquela que se inicia na região lombar, passa pelas nádegas e vai até a parte mais baixa de uma ou das duas pernas – é na verdade um sintoma de outro problema.
Na grande maioria das vezes, cerca de 90% das queixas, o motivo é uma hérnia de disco que, segundo dados do IBGE (Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística), afeta cerca de cinco milhões de brasileiros. Os outros 10% podem ter causas como atividades físicas pesadas, posturas erradas, tumores e fraturas na coluna.
De acordo com o médico Alexandre Elias, neurocirurgião especialista em coluna, chefe do setor de cirurgia da coluna vertebral na Unifesp (Universidade Federal de São Paulo), a hérnia de disco é uma doença que ocorre pelo desgaste ou trauma dos discos vertebrais lombares ou cervicais, que acabam pressionando as raízes nervosas mais próximas, provocando a dor. Com o passar do tempo, o problema chega a interferir na qualidade de vida, até mesmo limitando atividades rotineiras.
 
“Além da dor no nervo ciático, acompanhada de dormência e fraqueza que correm para as pernas e dedos, o paciente pode apresentar ainda sintomas como formigamento e dor na região do quadril”, alerta Elias.
“Mais comum em pessoas entre 30 e 50 anos, o problema acontece quando o disco intervertebral é enfraquecido ou sobrecarregado, sofrendo pequenas fissuras e rompendo as fibras que o constituem. Isto faz com que o núcleo pulposo (um material semelhante a uma gelatina de cor esbranquiçada que fica dentro de cada disco e que serve como amortecedor da coluna) ultrapasse seus limites, isto é, vá para fora do disco, pressionando o nervo que passa bem ali ao lado, no caso o ciático”, reforça o profissional.
 
Outros fatores
 
Fatores como envelhecimento natural, exercícios físicos intensos praticados por atletas “de fim de semana”; o vício de manter a coluna com postura errada, ou o hábito de carregar pesadas mochilas nas costas (que começa ainda na infância) prejudicam a coluna ao longo do tempo e também levam à dor no nervo ciático.
Muitos homens têm o costume de levar a carteira no bolso de trás da calça, sempre do mesmo lado, e não a tiram de lá quando sentam no carro, nem quando chegam ao trabalho. Acabam passando várias horas do dia com um desequilíbrio na postura em função da carteira no bolso. Anos depois, começam a aparecer as dores e a pessoa nem imagina o motivo
O ortopedista Rogério Sawaia, do Hospital Samaritano de São Paulo, lembra que existem vícios de postura que não são percebidos no dia a dia: “Muitos homens têm o costume de levar a carteira no bolso de trás da calça, sempre do mesmo lado, e não a tiram de lá quando sentam no carro, nem quando chegam ao trabalho. Acabam passando várias horas do dia com um desequilíbrio na postura em função da carteira no bolso. Anos depois, começam a aparecer as dores e a pessoa nem imagina o motivo”.
 
Para avaliar se a dor no nervo ciático é decorrente de hérnia de disco ou de alguma outra causa, deve-se procurar um especialista, que poderá dar o diagnóstico correto. “O exame é clínico e só pode ser feito pelo médico, que analisará o quadro e, dependendo do caso, solicitará exames”, explica Elias.
Tratamentos
 
Em relação ao tratamento, o médico Alexandre Elias conta que, em 90% dos casos, a dor é bem controlada com medicamentos (anti-inflamatórios, analgésicos e relaxantes musculares). E que podem ser acompanhados de fisioterapia analgésica, RPG ou acupuntura, sempre sob orientação médica.
“A acupuntura, por exemplo, é amplamente empregada para aliviar a dor. E a melhora já ocorre após algumas sessões. Mas, ao contrário do que se pensa, apenas os pacientes graves, que não apresentam melhora da dor com os tratamentos conservadores, possuem indicação para cirurgia”, complementa.
Nestes casos, a técnica cirúrgica empregada é videolaparoscópica, em que são feitos pequenos cortes na pele e no músculo para remover esse material gelatinoso que causa a pressão contra o nervo, com o auxílio de um microscópio. Em 95% dos casos, a melhora do paciente é significante ou definitiva.
“Apenas a remoção da hérnia é suficiente na extrema maioria dos casos. Alguns pacientes, no entanto, podem necessitar de cirurgias maiores e invasivas, como o implante de parafusos que, no entanto, é importante observar, deve ser considerada uma rara e última opção”, pondera Elias.
Roger Brock, neurologista do Hospital Sírio Libanês, de São Paulo, complementa: “A técnica para remoção de hérnia é realizada apenas em 5 a 10% dos pacientes. A dor de hérnia de disco só leva à cirurgia quando o paciente tem a chamada dor refratária, que persiste após cerca de quatro meses de tratamento e repouso”.
 
Mudança de hábito
 
O especialista do Hospital Sírio Libanês comenta ainda que, para evitar o problema, é preciso adquirir hábitos saudáveis como: cuidar da postura, carregar peso de forma correta, praticar atividade física com orientação, não ter sobrepeso, não ser sedentário e não ficar horas seguidas sentado no trabalho. “Deve-se mudar a posição, levantar, alongar e caminhar em intervalos de uma hora durante o trabalho ou estudo”, ensina.
 
Alexandre Elias afirma também que é importante praticar atividade física regular e ter o peso equilibrado: “Assim, a musculatura se mantém mais firme, o que ajuda a preservar a coluna no lugar e sem sobrecarga, contribuindo para afastar as dores do nervo ciático. Porém, atividades físicas como caminhar ou nadar são contraindicadas durante uma crise aguda (com dor forte) porque existe o risco de se agravar o problema”.
 
E o médico Rogério Sawaia, por sua vez, recomenda: “Desde criança, deve-se observar a postura. Ao assistir TV, ao estudar, ao brincar. E a mochila da escola deve ser a de rodinhas, para não ter de carregar o peso do material. Além disso, é preciso escolher atividades físicas que não forcem a coluna, a exemplo da natação. Já outras práticas esportivas que envolvam saltos frequentes e sem o devido preparo da musculatura, como acontece muitas vezes com crianças que praticam ginástica olímpica, devem ser evitadas para afastar problemas futuros”, conclui.
Fonte: Valeria Vassoler

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