O cancelamento dos desfiles de Carnaval deste ano, motivado pela grande quantidade de casos de dengue que assola a cidade, pode ser o início do fim de um ciclo iniciado na segunda metade do século passado. Apesar do cancelamento ter um propósito válido, a grande verdade é que o Carnaval de rua está com os dias contados há algum tempo.
Antigos carnavalescos acreditam ser muito difícil que o Carnaval itapirense volte a ser como antes. Para eles, são inúmeros os motivos que levam a esse pensamento.
Nome tradicional nos meios carnavalescos, Conceição Pavezi Dantas credita à falta de elementos a atual fase do Carnaval. Para ela os jovens de hoje não sabem o que é o verdadeiro Carnaval. “Eles não conhecem o verdadeiro Carnaval”, destaca. “Acredito que não há salvação, pois não dá liga como antigamente”.
Para descrever a atual situação, Conceição recorda de um fato ocorrido no ano passado e que reflete o atual estágio do Carnaval da cidade. “Quando terminou o Carnaval do ano passado o Gordo Moraes (Antonio Carlos Pereira de Moraes) deu uma entrevista na Rádio Clube afirmando que colocaria uma escola de grande porte na avenida este ano”, frisa. “Foi formado um grupo para organizar tudo e dele faziam parte, além do Gordo, a Kim Pavezi, a Ruth Moraes, o Sidnei e tudo foi decidido e organizado, mas nós tínhamos os chefes de grupo e não tínhamos os grupos, pois faltam elementos dispostos a participar. A única ala que conseguimos de fato foi a das baianas”.
Conceição se mostra totalmente contrária ao processo normalmente utilizado, no qual as escolas dependem, praticamente, só da verba oferecida pela Prefeitura. “Sou totalmente contra, acredito que cada agremiação tenha que ter vida própria, pois do contrário a dona da escola é a Prefeitura, que paga tudo”, critica. “Sem esse vício, acredito que tudo seria melhor”.
Outro nome de peso quando o assunto é Carnaval, João Adílson Ravetta, 72, carrega consigo nada menos que 12 títulos de campeão do Carnaval com a Unidos da Nove de Julho. Para ele dificilmente a cidade terá novamente os desfiles como antigamente. “A gente vai desanimando, vendo o apoio do poder público diminuir e não ter nem onde guardar as fantasias. Isso acaba com a vontade de participar”, explica. “Lembro que praticamente tínhamos que mendigar um barracão para guardar carros alegóricos e fantasias, mas chegava a quarta-feira de Cinzas tínhamos que devolver o local e ficávamos sem um lugar adequado”.
Para ele, assim como para Conceição, o pessoal de hoje não mostra interesse. “Ninguém tem mais aquela vontade, aquela raça. Qualquer coisinha e já pedem dinheiro para desfilar”, revela. “Nós chegamos a sair, nos últimos anos, com mais de 1,2 mil integrantes”.
Ravetta, porém, entende que se for oferecida uma boa estrutura, com um local onde a escola possa se reunir, as coisas podem mudar. “A escola precisa ter seu lugar onde possa receber seus participantes, onde a gente possa se organizar, conversar com todo mundo, desde as costureiras até passistas”, explica.
União
Por dois anos, José Antonio Job Fadul, 58, presidiu a comissão organizadora do carnaval itapirense. Com larga experiência no assunto, acredita que somente com a volta dos velhos carnavalescos poderia ser encontrada uma solução. “Tudo teria que ser repensado a partir de agora, em conjunto com os antigos carnavalescos”, destaca. “Teria que ser formada uma liga, com a presença dos antigos carnavalescos, para que eles pudessem passar aos mais novos a experiência”.
Fadul entende que em um primeiro instante deveriam ser formadas duas ou três escolas, sem disputa, para que no ano seguinte tudo fosse reorganizado e valendo título. “Seria uma forma de mostrar o caminho e fazer retornar a adrenalina do Carnaval”, explica.
Para destacar a importância de antigos carnavalescos, Fadul enumerou alguns como Gordo Moraes, Fifo (Adolfo Santa Luccia Júnior), Jácomo Brioschi, Bujija (Pedro Bagini Filho), Luiz Hermano Colferai, Adilson Ravetta, Paulinho Manha, Paraná (João do Carmo Daniel), Conceição Pavezi Dantas, Kim Pavezi, Elza Tarraschi, entre outros. “São pessoas que devem ser ouvidas se o assunto for Carnaval”, finaliza.
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