A sessão de Câmara desta terça-feira, 19, foi aberta pela leitura de um texto escrito pelos organizadores do movimento que pede a revogação do reajuste dos subsídios dos vereadores a partir de janeiro de 2013. Para requerer o espaço na tribuna livre, cem assinaturas foram apresentadas.
O presidente da Câmara, Manoel Marques, disse, ao final da sessão, que o texto lido por Luiz Rogério de Oliveira perdeu o foco em relação ao que deu início ao movimento. O vereador não explicou tal mudança, mas tentou caracterizar a manifestação como partidária.
O projeto de iniciativa popular que angariou 2.950 assinaturas de eleitores itapirenses começou a tramitar nas comissões e deverá entrar na pauta, para apreciação, na próxima sessão.
Veja a íntegra do documento lido por Luiz Rogério de Oliveira:
Estamos aqui mais uma vez na tribuna livre desta casa, para solicitarmos aos senhores vereadores, que corrijam um erro grave, e para que desfaçam uma INJUSTIÇA inaceitável que cometeram contra a população de Itapira.
Trata-se do aumento salarial que os senhores vereadores concederam a si próprios, sem consultar a população.
Lembrando que, os senhores são ética e legalmente os representantes políticos desta população, na prática, os defensores do interesse público.
Vale lembrar também que cada cidadão itapirense é um contribuinte, ou seja, pagamos nossos impostos com o nosso suor, para que os senhores recebam seus salários todos os meses.
E convenhamos, concederem a si próprios um aumento salarial tal como fizeram, não é representar o interesse publico, mas sim o interesse particular de cada um dos senhores, sobretudo quando há uma repulsa da maioria da população pela atitude que tiveram.
Isso é profundamente lamentável.
E é por isso que o povo de Itapira, contrariado nos seus interesses pelos senhores vereadores, está aqui, representado nesta tribuna, mais uma vez, com a intenção de reverter esse absurdo.
LEMBREMOS aos senhores vereadores, que a maioria do povo de Itapira que pagam os seus salários, vivem com muito menos do que os senhores recebem.
Mesmo assim, são desrespeitados nos seus direitos básicos que deveriam ser garantidos pelo poder público. Na saúde, por exemplo, o atendimento é precário, as filas de espera são enormes e as dificuldades para se agendar um exame são muitas.
Duvido que algum dos senhores vereadores sinta na pele essa realidade, já que, com o salário que ganham e a posição social que ocupam na cidade, desfrutam certamente de dinheiro e bons planos de saúde para tratar de seus problemas.
É por isso que o aumento salarial dos vereadores não se justifica do ponto de vista do interesse público.
Como aceitar que os vereadores de Itapira, que já ganham muito, tenham um reajuste, se falta verba para a população ter uma assistência médica decente?
Isto não é justo, isto não é honesto com o povo itapirense, sobretudo com os que mais necessitam dos serviços públicos.
Em outras palavras, esse aumento mostra o quanto os interesses da população e dos senhores vereadores são diferentes e divergentes. Assim sendo, a iniciativa corporativista dos senhores de aumentarem os seus próprios salários, mesmo conscientes do repúdio da população à essa decisão, só pode ser interpretada como desprezo, desrespeito e pouco caso da vontade popular, sobretudo daqueles que votaram nos senhores na última eleição, os quais, certamente não votarão mais, se os senhores insistirem nessa injustiça contra o povo itapirense.
Lamentavelmente, entre os vereadores que defendem com unhas e dentes o próprio aumento salarial estão munhozistas e bellinistas.
Assim sendo, não podemos, até este momento, absolver nenhum dos lados que compõem o quadro político itapirense. Ambos estão comprometidos com este projeto de lei imoral, já que a população de Itapira ganha em media 6 vezes menos que os senhores.
Em suma, munhozistas e bellinistas não estão do lado da população itapirense, mas sim do lado dos seus próprios interesses.
Reiteramos mais uma vez que, condenamos totalmente qualquer uso eleitoral deste debate que estamos travando. Nossa intenção era exatamente dar voz e vez ao povo de Itapira, insatisfeito com esse aumento injustificável, demonstrar que há uma parcela do povo que é consciente, que não aceita qualquer tipo de imposição por parte dos seus representantes, e que rejeita prontamente o uso do poder que PRIVILEGIE os interesses privados em DETRIMENTO dos interesses públicos.
Neste sentido, queremos ir mais longe na reflexão desenvolvida na primeira vez que estivemos aqui. Naquela oportunidade destacamos o aspecto moral deste aumento de salário.
Entendíamos e compreendíamos as razões legais daquele aumento, mas fazíamos coro com a população e com alguns órgãos da imprensa, e destacávamos a imoralidade do aumento. Devemos dizer que ainda não tínhamos atingido uma radicalidade maior no nosso questionamento, pois o argumento foi utilizado sem grandes dificuldades por pessoas que possuem visões políticas bastante diferentes, até contraditórias.
O grande problema do aumento salarial não é a sua legalidade, mas também não se trata simplesmente de um problema moral. Ele também é político, na medida em que revela o posicionamento individualista e antirrepublicano dos nossos vereadores.
A defesa deste aumento injusto, mostra o distanciamento da classe política itapirense em relação ao povo, do qual os senhores se dizem “representantes”.
Autorizar um aumento salarial para mais de seis mil e quatrocentos reais, enquanto os trabalhadores comuns desta cidade ganham em torno de mil e cem reais por mês, é consolidar um abismo social entre grupos diferenciados, que tem a mesma terra como lugar comum.
No fundo, essa escolha política dos vereadores, de colocarem os seus próprios interesses acima dos interesses da população, demonstra que, de fato, os senhores pertencem a uma casta superior na cidade, ao lado dos ricos e poderosos, das classes dominantes do papel, da cana, dos laboratórios, e cada vez mais distantes dos pobres e trabalhadores que labutam cotidianamente para conseguir um mínimo de sobrevivência decente e ainda por cima, pagarem os seus salários
É triste conversar com pessoas nas ruas que assinaram o projeto e que diziam ganhar 600,00 ou 800,00 de salário.
Certamente, estas pessoas também não podem se dar ao luxo de terem empregados domésticos, como muito dos senhores vereadores possuem, e muito menos pagarem uma faculdade para seus filhos, sobre o qual justificam a necessidade do aumento. É importante ressaltar que os senhores vereadores não são seres humanos diferenciados, tampouco especiais que justifiquem privilégios dos cofres públicos.
Todavia, ainda não dissemos o mais grave. Senhores vereadores: entendemos que o trabalho do legislador nunca pode se desvincular do povo que o elegeu. Então, por que não consultar a população sobre o aumento do salário, saber o que ela realmente acha disso?
Os senhores verificarão que a esmagadora maioria é contrária a ele.
Constatamos também durante a campanha pelas assinaturas, várias pessoas desanimadas com a política, dizendo que todos os políticos são farinha do mesmo saco, que todos são irremediavelmente corruptos.
Percebam, senhores vereadores, o mal que este aumento pode significar à imagem dos políticos e da política. Na verdade, ainda há tempo dos senhores recuperarem a moral perdida. Assim sendo, atendam ao apelo da imensa maioria da população itapirense:
Aprovem este projeto de iniciativa popular que impede o aumento de salário dos senhores.
Não aprová-la nos dará o direito de divulgar que a Câmara Municipal de Itapira não é uma instituição que representa o interesse da população e sim um escritório de defesa de interesses de grupos privilegiados.
QUE A VOZ DO INTERESSE PÚBLICO FALE ALTO AOS SEUS OUVIDOS E QUE SE FAÇA A JUSTIÇA.