A maior parte do credo trata de afirmações dogmáticas de alguma maneira, distanciadas da experiência imediata dos cristãos. Por isso, a necessidade da afirmação da fé, sistematizando o pensamento, circunscrevendo a verdade e dando precisão aos conceitos. O credo apostólico fala de Deus como criador e de Deus como o Pai que gerou um Filho. Ensina que esse Filho gerado desde a eternidade, no tempo, encarnou-se, fez-se homem no ventre de uma virgem chamada Maria e que padeceu, foi crucificado, morto, sepultado e que ressuscitou ao terceiro dia. O credo declara a existência do Espírito Santo, o que fecundou o ventre da virgem e inspirou as Escrituras (essa última aparece somente no Credo Niceno-Constantinopolitano). Outro artigo de fé inegociável para os crentes confessionais, é que Jesus ascendeu aos céus e de lá voltará para o juízo final. Todas essas verdades irrenunciáveis da fé cristã não fazem parte da experiência histórica, pessoal e imediata dos crentes. Nós as recebemos pela fé e pela catequese da igreja. Entretanto, o credo também ensina o que o cristão deve crer igualmente na realidade da igreja. Isso porque, os que são salvos são ajuntados à igreja. Nem todos, porém, os que estão na igreja, de fato, são salvos. Todavia, todos os salvos, sem exceção, estão na igreja, porque fora dela, não há salvação. Ela não salva, mas nela estão os poderes daquele que salva e a toma por instrumento do seu Evangelho. Assim, em um primeiro momento, essa experiência histórica da salvação na igreja, do salvo ter como resultado e finalidade, ser igreja e caminhar em uma comunidade concreta e fazer a experiência pessoal da vida em comunidade, não conheceu a necessidade em se afirmar a crença nela, pois era algo comum, alguma coisa que não carecia de maiores explicações. Mas, como a igreja é uma comunidade de pecadores salvos, salvos, mas, contudo, pecadores; e porque muitos em seu seio não são verdadeiramente salvos, com o tempo, precisou desse conteúdo credal. Então, somos chamados a crer e a entender a igreja como alguma coisa para além da nossa simples experiência pessoal. Ela é uma realidade espiritual, sobrenatural, criada pelo Espírito Santo para ser o Corpo Místico e ‘visível’ de Cristo para ser visto pela humanidade, pela criação. É a única ‘imagem autorizada’ por Deus para a sua representação entre os homens. A igreja é o recorte na humanidade que recebeu o Reino de Deus, que nele entrou e para ele se destina definitivamente, não obstante essa realidade seja vivida ‘já e ainda não’. E mais, é a parte da humanidade que tem tanto o privilégio, como a responsabilidade intransferíveis de anunciar e testemunhar de Jesus Cristo para o mundo. Assim, o credo faz duas declarações fundamentais sobre a igreja: 1. Creio na igreja católica. Essa declaração trata da natureza da igreja. É uma comunidade que transcende todas as barreiras da criação e do pecado. Não se limita ao tempo, à geografia ou cultura. Não se identifica com nenhuma ideologia ou partido político e não pode ser confinada a um povo ou etnia. É, na verdade, uma comunidade internacional, multirracial e multicultural. Como católica se pode entender também que é uma realidade invisível e espiritual e dela fazem parte tanto os santos que militam na história quanto os que na presença do Eterno, aguardam enquanto adoram, que sejamos todos reunidos quando o Reino for definitivo, nos novos céus e nova terra. Conquanto, agora, não haja nenhum contato entre esses membros (militantes e os que aguardam na glória), indubitavelmente pertencemos à mesma e única igreja. E por católico (a), entendemos também que em qualquer lugar, sob qualquer circunstância em qualquer língua, onde Jesus for adorado e servido, a Palavra pregada com fidelidade e os sacramentos forem dispensados de maneira correta, ali, onde se fizerem orações ao Pai mediante o Filho e Deus for o centro do culto, a essa igreja pertencemos e nesse povo nos reconhecemos. Daqui decorre a outra declaração. 2. Creio na comunhão dos santos. Essa comunhão é a que experimentamos agora como membros da família de Deus, como parte de uma igreja local concreta que concretamente se reúne para adorar, para exercer a mutualidade cristã, que serve na causa dos santos e ainda, oferece um serviço transformador na localidade onde se encontra. A comunhão dos santos é um espaço vital para o desenvolvimento do caráter cristão, para o fomento do amor e as iniciativas missionais. A comunhão dos santos é a experiência que nos leva a viver a vida descentralizados de nós mesmo, para vive-la de maneira ‘outrocentrada’. Essa bendita comunhão nos faz compreender o que ensinou um dia Martinho Lutero: “Ou o fiel vive em Cristo e no irmão ou não será um fiel”. Creia na igreja, volte para a igreja, ame a sua igreja. Seja e viva como igreja. Eu (apesar de tudo e apesar de mim) creio na igreja!
Reverendo Luiz Fernando Dos Santos é Ministro da Igreja Presbiteriana do Brasil
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