Sempre defendi com unhas e dentes o poder legislativo. Brinco, às vezes, que prefiro as nossas casas dos representantes, mesmo envergonhadoras, às mais belas, dóceis e competentes ditaduras.
O poder executivo tem sido mais valorizado pelos brasileiros. Talvez pela condição de ter a caneta na mão. De ser o ente resolutivo das paradas do dia a dia. Condição que leva muitos governantes ao populismo, ao papel de pai e de protetor. Daí, um pequeno pulo para a ditadura, de consequências catastróficas, é um “tirico”. O poder legislativo é o avalista da democracia.
Os prefeitos, governadores, senadores e o presidente da república se destacam pelo carisma, pela iniciativa, pela liderança, pela força e pela capacidade política em acomodar de um lado os interesses da população e do outro a base que lhe dá apoio. Todos são eleitos pelo voto majoritário. Aquele que receber mais votos.
O voto da maioria nem sempre é sinônimo de melhor escolha. O eleito não necessariamente reflete ou incorpora o perfil do eleitorado. No máximo, agrega as prioridades do povo que o elegeu, mas politicamente pode se transformar numa grande negação. Entretanto, a maioria, histórica e mundialmente, erra menos do que a minoria.
No legislativo a chance de errar na escolha, em tese, é menor. Apesar das críticas contundentes direcionadas aos vereadores e deputados, a resposta à pergunta onde foi que erramos, não pode ser respondida com naturalidade ou graciosidade.
Observemos, por exemplo, quantas pessoas se lembram dos votos dados aos vereadores e deputados na última eleição. A maioria faz-se de esquecida. Envergonham-se do voto concedido. E o que é pior, quase todos repetem os mesmos critérios, nas seguintes, quando não repetem as mesmas pessoas.
O voto para as casas legislativas é diferente do executivo. É proporcional. As cadeiras para cada partido ou coligação são determinadas pela soma dos votos recebidos pelos candidatos daquele partido ou coligação. E aí, os mais votados são chamados para as cadeiras determinadas.Para ter uma cadeira, o partido ou coligação deve conseguir votação equivalente ao resultado da divisão do número de votos válidos pelo número de vereadores do município (Itapira = 10). Essa explicação, aparentemente complicada, serve para esclarecer o real significado do voto proporcional. Um voto que representa o pensamento do eleitor e a identificação com o candidato votado. Politicamente, todos os candidatos de um partido ou coligação devem estar ideologicamente afinados, devem ter os mesmos princípios éticos, para que os eleitos representem uma unidade de pensamento. O pensamento do eleitor.
Os vereadores e os deputados se destacam pela representatividade. Eles não votam pela consciência deles, como costumam dizer, mas em sintonia com a vontade dos eleitores que os elegeram.
As pesquisas de opinião, a partir de uma amostra tecnicamente bem construída, determinam as tendências do objeto pesquisado. Hoje, o mundo não vive sem saber o que a opinião pública pensa. Nenhum produto, por exemplo, é colocado no mercado sem passar pelo crivo das pesquisas.
Oras, se as tendências são facilmente reveladas em pesquisas através de amostras inferiores a 3% da população, qual seria a segurança de uma amostra beirando os 100%? Total! Uma eleição não estaria nessa condição?
Nessa hipótese, não é incorreto afirmar que os eleitos proporcionalmente representam com fidelidade a população que os elegeram. Esses vereadores e deputados nada mais são do que um extrato do povo que representa, com suas virtudes e defeitos.
Isto posto, quando os vereadores de Itapira aprovaram na calada da noite, sem discussão, um aumento de 30% nos subsídios, eles nada mais fizeram do que qualquer outro itapirense faria se lá estivesse para aquela decisão.
Os vereadores podem, no entanto, ter contrariado, expressamente, a vontade do povo. Mas isso a gente só vai descobrir no dia sete de outubro. O resto é conversa mole para boi dormir.