Reza uma antiga lenda que os vereadores Manoel Marques e Sonia Santos, nos quatro primeiros anos deste século, em treze noites, depois das torturantes sessões legislativas, subiam a João de Moraes, paravam na esquina, olhavam para o prédio da prefeitura e juravam: “um dia nós pegaremos as rédeas do município”. 

 

A lenda acima não circula e nunca circulou pela cidade. É prólogo de uma história quase ficcional. Manoel e Sonia participaram ativamente da campanha de 2004 que levou Toninho Bellini ao poder executivo. Ela virou líder. Ele ocupou a secretaria de governo. Em alguns momentos, os dois se rebelaram e partiram para o banco dos independentes, mas voltavam, voando, para o ninho. Em 2011, Manoel trocou a secretaria pela presidência da câmara. De lá para cá, ocorreram uma série de acontecimentos inimagináveis. Como sou adepto do ficcionalismo, resolvi torná-los imagináveis, pelo menos na minha cabeça.

 

Para o grupo que sempre se opôs a Barros Munhoz, histórica ou eventualmente, Sonia e Manoel desempenharam um papel importante. Mas a carga governista não lhes fez bem. Na última eleição, os dois, por muito pouco não ficaram fora do legislativo. Caso isso ocorresse, seria um desastre para ambos. Talvez ocupassem postos importantes, mas poderiam cair no esquecimento. Um fim, nada justo, diga-se de passagem. Precisavam de fatos políticos de reversão e eles aconteceram, premeditadamente ou não. A eficiência será medida ainda neste ano.

 

Primeiro veio a eleição da Presidência da Casa. Sonia defendeu, até o último minuto, o desejo de ser candidata para coroar os relevantes serviços prestados ao grupo. Mas, Manoel foi o vencedor. Levou consigo alguns vereadores oposicionistas. Sonia, visivelmente ressentida, manifestou traição, mas honrou a palavra, votando em Manoel.  Mais tarde, a vereadora rompeu com o prefeito Toninho Bellini, cansada dos passa-moleques. 

 

Manoel, defenestrado por parte do grupo, mesmo fora do governo, continuava tendo o apoio do prefeito e atendido pelos secretários e diretores para dar conta dos reclamos da população. Marques saiu da linha de fogo para tentar limpar a barra e cair nos braços do povo. Estruturou os partidos que conseguiu e organizou os candidatos à vereança. 

 

Manoel nunca morreu de amores pelos integrantes do PT no governo, mas esses nunca foram molestados. Antonio Carlos só saiu, pedindo demissão. Mas a relação entre os membros do PT e a vereadora Sonia foi se agravando até ela ficar totalmente fora das decisões partidárias. Nessa época, a composição do diretório já estava irregular, mas ninguém comentava ou denunciava. 

 

Paralelamente, um folheto apócrifo insultou a advogada Sonia. Depois numa situação tensa, o vereador Mino Nicolai, um tanto “adrenalinado” falou o que não devia. Nos dois casos, propositadamente ou não, Sônia soube transformar os ataques a seu favor. 

 

Na câmara, a vereadora criticava a administração, mas em nenhum momento fez o que fazia no mandato original, quando era oposicionista de fato. Veio 2012 e com ele a rejeição das contas de 2007 por insignificantes trinta e seis mil reais de diferença. Mas o barulho foi grande. Seguiram-se três meses com Sonia garantindo o voto contrário, até mudá-lo no último minuto do segundo tempo. Transformou o voto, no primeiro ponto de união. Sonia e Manoel se transformaram nos protagonistas da decisão. 

 

Agora, a possibilidade de intervenção do Diretório Estadual sobre o local poderá devolver a Sonia o controle sobre as decisões internas do PT. Sonia sinaliza, também, um afastamento delicado de Alberto Mendes, aproximando-se de Manoel, no momento em que o vereador pevista é oficializado pré-candidato.

 

Não tenho dúvida: a chapa governista terá dois nomes: Manoel e Sonia.