Um fenômeno tem chamado a atenção das pessoas mais observadoras. Aquele enorme contingente de catadores de material reciclável que percorria as ruas da cidade diminuiu bastante. Em linhas gerais, são três elementos que se misturam nesta equação: o poder de fogo exercido pela Ascorsi (Associação dos Coletores de Resíduos Sólidos de Itapira , a epidemia de dengue e a queda acentuada dos preços dos produtos revendidos.
Segundo informações obtidas pela própria Ascorsi, o número de associados saltou de sete para cerca de 60 em quatro anos de atividades. Os associados recebem uma remuneração que é dividida conforme o que é vendido para a indústria, cesta básica e auxílio transporte. Uma fonte familiarizada com a Ascorsi afirmou que o ganho médio de cada um tem oscilado em torno de menos de um salário mínimo por mês e que a luta atualmente seria a de sensibilizar o Poder Público municipal no sentido de oferecer um apoio adicional para os associados.
Ao oferecer à Ascorsi condições mais efetivas de funcionamento a partir da administração do ex-prefeito Toninho Bellini com aumento gradual do subsídio repassado, a Prefeitura faz uma aposta no sentido de popularizar a coleta seletiva, apostando numa intensa campanha de conscientização cujos resultados hoje são bastante visíveis. A coleta seletiva já atinge 100% da cidade e a quantidade recolhida está prestes a atingir 100 toneladas/mês. Além do componente social,os agentes municipais entendem que ao subsidiar a Ascorsi, o município ganha ao aumentar a vida útil de seu aterro sanitário.
A outra colaboração da Prefeitura que supostamente tem ajudado a diminuir o número de catadores autônomos é apoiada em razões de saúde pública. A partir da intensificação do aparecimento dos casos de Dengue no segundo semestre do ano passado, a Vigilância Sanitária tem agido de forma mais rigorosa, proibindo o armazenamento deste tipo de material em quintais de diversas residências espalhadas, sobretudo, na periferia da cidade.
O aposentado José Eurico Martins de Souza, 64, morador no Nosso Teto, recolhe material reciclável há dez anos. Ele conta que muitos colegas desistiram de recolher material por causa das exigências da prefeitura. “O preço já é baixo e com a fiscalização em cima, muita gente deixou de lado”, contou.
Com relação ao preço dos materiais, ele acredita que os coletores estejam experimentando um dos piores momentos desde que se dedicou à atividade. “Eu vendia o quilo da latinha a R$ 3 e hoje consigo pouco mais de R$ 2”, comentou. A situação do papel e papelão é ainda pior, segundo ele: “Não tá nem compensando recolher”, afirmou .
Outro coletor, que se identificou apenas como Barba, que atua nas imediações da Fábrica de Papel e Papelão Nossa Senhora da Penha, referendou a queixa do colega. “Em tempos de vacas gordas cheguei a vender o quilo do papelão em torno de R$ 0,50. Hoje está cotado por menos da metade disso. O momento para vender é ruim. Prefiro segurar um pouco”, comentou. Ele também opina que a queda do preço é fator preponderante para a queda do número de coletores. “Sei de muita gente que desistiu”, garantiu.
Mercado
O empresário João Roberto Panizzola Junior, 25, proprietário da Leão Sucatas, apesar da pouca idade vivencia este mercado desde os 15 anos, quando acompanhava a mãe Elisete até a empresa e desde então vem aprendendo todos os macetes, assumindo ele próprio o gerenciamento do negócio. Ele explica que a retração da economia naturalmente derruba o preço de vários insumos adquiridos pela indústria, mas, porém, existe segundo ele outros fatores que funcionam como formadores de preços. “O dólar mais caro inibe a importaçãode metais como cobre , o zinco, entre outros”, frisa. “Quem compra passa a dar preferência para o produto nacional e isso tem feito aumentar o valor de face”, avaliou.
O cobre continua sendo ainda o mais atraente dos metais, cotado atualmente a cerca de R$ 12 o quilo.O ferro, por sua vez, está custando cerca de 25% menos . “Caiu muito a procura”, justificou Panizzola Junior. Dos materiais menos nobres, o plástico e o papelão são os que, segundo ele, tiveram a maior queda nos preços.
Já o proprietário da Sancar Comércio de Ferros, Oscar Bueno de Carvalho Neto, afirma categoricamente que o setor enfrenta o pior momento desde a crise financeira global de 2008. “Estou bastante preocupado, a paradeira é geral”, afirmou. Segundo informou, além da queda de preços, o mercado enfrenta efeitos colaterais comoo aumento da inadimplência.
Há quarenta anos no ramo, Carvalho Neto é uma referência regional para a destinação de muitos resíduos industriais que são, por sua vez, requisitados por um tipo de indústria de transformação muito específico, o da fundição. Ele se queixa ainda do aumento dos custos. Muitos dos equipamentos que utiliza para o manuseio dos diferente tipos de metal são movimentados por eletricidade. “Com o preço do óleo diesel e da energia nas alturas, o impacto na contabilidade da empresa é devastador”, lamenta
Carvalho Neto: vendas em baixa e custos mais elevados
Panizzola Junior: dólar mais alto melhora preço de alguns insumos
José Eurico: momento muito ruim
Barba: esperando momento mais adequado
Comentários, artigos e outras opiniões de colaboradores e articulistas não refletem necessariamente o pensamento do site, sendo de única e total responsabilidade de seus autores.