Os mais novos certamente ignoram o assunto. Mas se for perguntado para aqueles açougueiros mais antigos sobre a mudança de comportamento do consumidor em épocas de Semana Santa com relação ao consumo de carne vermelha, não existe mais parâmetro de comparação dos dias atuais com relação ao que ocorria há pelo menos três décadas.
“Semana Santa como eu conheci um dia não existe mais. Passávamos praticamente uma semana sem vender nada.Na quarta e na quinta-feira atualizávamos o estoque. Sexta-feira poucos trabalhavam. No sábado e no domingo o movimento retornava com força”, recorda Luiz Eugênio Cima, 57 anos, do Comércio de Carne e Frios São José,na rua da Penha , talvez o mais antigo ainda em atividade em Itapira. “Hoje eu nem me assusto mais quando tem gente que compra carne dizendo que vai fazer churrasco na Sexta-feira Santa”, constata.
O empresário do setor de supermercados, Carlos Alberto de Almeida, 48 anos, desde os 19 lidando com carne, ainda se lembra que o consumo da carne vermelha caía mais da metade nesse período. “Acho que com a reinterpretação dos fatos históricos e religiosos como aquela passagem que fala que o pecado é o que sai pela boca do homem e não o que entra acabaram contribuindo para este tipo de flexibilização dos costumes”, acredita.
Embora não se declare católico praticante, o comerciante José Benedito Quilzini, o Zé Dito, 44, que tem sua casa de carnes localizada logo abaixo do Viaduto Tiradentes, afirma que se tivesse uma situação financeira mais sólida não iria vender carne vermelha na Semana Santa. “É uma tradição que está caindo em desuso e que sempre considerei um sinal de respeito. Açougue se tornou um local que vende variedades e até por isso não podemos fechar. Abro também na sexta-feira. Vivo disso. Mas que eu particularmente não como carne vermelha na Sexta-Feira Santa, pode ter certeza disso”, comentou.
Fechado
Benedito Francischini, o Nego, de 74 anos, hoje aposentado, passou 50 anos de sua vida dentro de um açougue. Ele fala que nos velhos tempos seu açougue fechava quase uma semana inteira. “Tínhamos uma rotina que não falhava: lavávamos o açougue na segunda-feira e fechávamos as portas até sexta-feira, dia em que trazíamos os bois do matadouro para dentro do açougue. No matadouro havia outra rotina consolidada, que era a de esperar o momento do abate de seu gado. O atendimento era pela ordem de chegada e como o movimento era grande, tínhamos muitas vezes que esperar dois ou três dias para conseguir liberar a carne”, relembrou
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