Nesta semana, não fosse o assunto figurar no radar de revistas e periódicos científicos, muito provavelmente passaria assim meio que despercebida, a visita empreendida na região por um cientista mundialmente renomado, que desde terça-feira passada esteve hospedado no Monte Real Resort Hotel, em Águas de Lindóia, que foi palco nesta semana que se encerra, do 57º Congresso Anual da Sociedade Brasileira de Genética (SBN). Trata-se de Werner Arber, 82 anos, que reside na cidade suíça de Basel.
A Cidade compareceu ao Congresso na quinta-feira, dia 1º de setembro. A coordenadora do evento Agnes Pierri Portella informou que participaram 2.100 pessoas entre estudantes das áreas de biologia, medicina, genética; professores, pesquisadores, enfim, a nata do universo científico que gravita em torno do assunto, não só do Brasil, mas também quase meia centena de convidados do exterior.
Entre eles, evidentemente, se destacou a presença do professor – doutor Werner Arber, microbiologista, que em 1978 foi laureado com o Prêmio Nobel na área de fisiologia/medicina, compartilhado com os colegas Daniel Nathans e Hamilton O. Smith, ambos americanos, por causa da descoberta e uso de enzimas de restrição que quebram as moléculas gigantes de DNA em pedaços pequenos, o suficiente para ser separado para estudo individual, mas grande o suficiente para reter quantidades significativas da informação genética da substância original. Ele também observou que bacteriófagos podem causar mutação em seus hospedeiros de bactérias e sofrer mutações hereditárias.
Em entrevista exclusiva concedida para A Cidade, onde nossa reportagem contou com a valiosa colaboração da funcionária Vânia de Paula Alves, da SBG, ele tentou explicar numa linguagem mais simples o que representou esta sua descoberta para o mundo científico. Em linhas gerais disse que a descoberta abriu caminho para o entendimento de como funciona o mecanismo de variação e mutação de determinados seres unicelulares (como as bactérias), permitindo o desenvolvimento de fármacos que agem com precisão em diversos casos de patologias clínicas. “Difícil falar hoje, mais de 30 anos depois em resultados práticos destes estudos. Diria que o principal mérito foi o de descortinar novos caminhos para que atingíssemos um estágio onde se tornou possível um avanço sem precedentes na área genética, da química e da própria fisiologia”, interpretou.
Indagado de que forma a obtenção do mais cobiçado prêmio do mundo científico alterou sua vida, Arber disse que lhe trouxe mais responsabilidades. “Passei a viajar mais pelo mundo, fazendo palestras, que é exatamente o que estou fazendo aqui hoje”, contou. Com o reconhecimento internacional foi convidado a participar e presidir importantes sociedades científicas européias, como por exemplo, a Academia Pontifícia de Ciências, vinculada ao Vaticano e a Sociedade Internacional de Ciências.
Foi ainda perguntado a ele se conhecia o trabalho da geneticista brasileira Dra. Mayana Zats, da Universidade de São Paulo (USP), famosa pelos estudos do seqüenciamento genético humano. Arber disse que já tinha ouvido falar nela, mas que não conhecia seu trabalho. Quanto ao neurocientista Miguel Nicolelis, muito cotado para receber um prêmio Nobel, comentou que já conhece algo de seu trabalho. Daí foi inevitável a pergunta se um prêmio Nobel para a ciência brasileira estaria mais próximo, em sua opinião. Arber disse que da forma como as informações correm tão rapidamente nos dias de hoje, abre possibilidade para a divulgação do trabalho de cientistas originário de países menos tradicionais nesta área e que dentro deste contexto acha sim que o Brasil tem chances de ter o seu Prêmio Nobel dentro de mais alguns anos “por causa dos grandes pesquisadores de excelência mundial que possui”. Acrescentou ainda que “seria fantástico, um grande estímulo à produção científica no país”.
Simplicidade
Apesar de toda sua fama, Werner Arber nem de longe demonstrava aquela fleuma com que muita gente deste meio costuma se exibir. Ao contrário, circulava como um participante qualquer do encontro, pelas dependências do Hotel. Contou que neste tipo de evento, se sente bastante satisfeito com o contato próximo com pesquisadores, professores e mesmo estudantes. “É um ambiente onde me sinto sempre rejuvenescido”, acrescentou.
Disse ainda que gostou de sua estadia em Águas de Lindóia. “O relevo montanhoso me fez lembrar da minha terra e o clima, apesar do forte calor do primeiro dia, esteve ameno. Gostei muito”, garantiu.
Foi a sexta vez que veio ao Brasil e a segunda vez no interior de São Paulo. Antes já havia passado por São Paulo, Rio de Janeiro e há cerca de 4 anos, em São Carlos. “Se tiver oportunidade, volto novamente”, anunciou.
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