Conhecer para mudar - por Aline de Campos Canto*
Neste primeiro artigo, darei uma dica de leitura. Na verdade, não é só uma dica, é uma lição. Há pouco tempo comecei a leitura do livro 'Raízes do Brasil' de Sérgio Buarque de Holanda e pude constatar que além de ser um prazeroso entretenimento, é uma grande fonte de aprendizado.
A 26ª edição da obra nos traz uma análise sobre a formação de nossa cultura, as influências e legados da colonização portuguesa, bem como os papéis das raças indígena e negra. No entanto, o foco do autor está na herança ibérica (Portugal e Espanha). Holanda ressalta o quanto as características portuguesas modelaram as formações político-sociais do Brasil e a adaptação delas as culturas indígena e negra.
É dentro deste contexto, que é feito um exame sobre as dificuldades da formação e fortalecimento da democracia no país até os dias atuais. Valores, conceitos e qualidades que percebemos hoje em nossa sociedade são explicados do ponto de vista expresso no livro, como: o individualismo, a falta de rigidez das instituições, a confusão entre os ambientes públicos e privados, a corrupção, o nepotismo (o ato de empregar parentes), o gosto pelo ócio, o repúdio ao trabalho manual, o desejo de estabelecer intimidade, entre outros.
Em relação aos costumes há dois exemplos que gostaria de destacar ambos relativos a linguagem. O primeiro é sobre o uso do diminutivo, o "inho", que reforça a ideia de necessidade de estreitar os laços das relações. O outro argumento está relacionado ao uso do primeiro nome em vez do sobrenome, pois há a premissa de valorização/distinção da pessoa por si mesma.
No exame da democracia que é feito nas páginas do Raízes, Holanda diferencia-se de outros escritores, ampliando (por assim dizer) o conceito de democracia. Porque para ele, é imprescindível a participação da sociedade, das massas, nos processos políticos. Uma das conclusões do livro, é sobre a precisão de uma verdadeira revolução nas instituições culturais, sociais e parlamentares, para desenvolver a tal democracia modelada pela sociedade.
A indicação de leitura não foi feita com a intenção de prover argumentos para a justificativa dos defeitos (nossos e do ambiente) que por vezes temos consciência deles, mas de munir de conhecimento e estímulo para, então, o pleno exercício da cidadania.
*Aline de Campos Canto é graduada em Relações Internacionais pelas Faculdades Integradas Rio Branco. Para entrar em contato envie um e-mail para: [email protected]