Foi sepultado na tarde de terça-feira, 30, o advogado Fernando Serra, referencial em Itapira e região dentro das Ciências Jurídicas ao longo de praticamente 60 anos de atividades ininterruptas. Serra faleceu no final da tarde de segunda-feira, 29, na Santa Casa, onde estava internado há vários dias em decorrência de complicações de seu quadro de saúde.
Formado pela Escola de Direito do Largo São Francisco (USP), tinha 85 anos e deixa a esposa Maria Nadalete e os filhos Fernando Olga e Ana Paula, além de cinco netos. Seu funeral atraiu ao Cemitério da Saudade amigos, familiares, autoridades diversas e uma grande representatividade da classe a qual perfilou de maneira honrosa durante maior parte de sua vida. “Era um homem de muitas virtudes, grande advogado, um pai de família valoroso e que exerceu com dignidade também a atividade política”, disse o prefeito José Natalino Paganini, referindo-se ao fato de Serra ter exercido o cargo de vice-prefeito na gestão de Hélio Pegorari (1969 /1973).
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Para o presidente da OAB (Ordem dos Advogados do Brasil) sub-seção de Itapira, Thomás Antonio Moraes, Fernando Serra foi alguém que representou a categoria em toda sua plenitude, elencando outras virtudes do ponto de vista pessoal que faziam dele, segundo Moraes, um ícone da advocacia. Muito emocionado, o Desembargador da Justiça do Trabalho, José Otávio de Souza Ferreira, do qual era sobrinho, disse que considerava Fernando Serra seu mentor, tio, amigo e professor.
O cartorário Katsumi Inoue, de 82 anos, foi seu contemporâneo. Quando veio com a família da cidade de Adamantina-SP para tocar o Cartório de Registro de Imóveis e Anexos da cidade, em 1958, Fernando Serra, foi , segundo seu relato, uma das primeiras pessoas com as quais se relacionou. “Uma figura proba, carismática, que vai deixar uma lacuna muito grande”, considerou. O também cartorário Maurício Sabbag Law fez relato parecido. “Quando eu e minha família nos mudamos de Dois Córregos para Itapira tivemos em Fernando Serra uma acolhida calorosa e muito carinhosa. Já faz muita falta sua ausência”, comentou.
O advogado Daniel Ranzatto disse que foi Fernando Serra quem o incentivou a seguir carreira. “Era um exemplo de ética, de profissionalismo e um grande chefe de família”, frisou. Contou ainda uma curiosidade de que o primeiro caso que Fernando Serra se ocupou quando recebeu licença para advogar foi retificar o nome de seu avô Mario Ranzatto e de seu pai Laércio Ranzatto junto ao Cartório de Registros. “Desde então, se meu pai levasse a ele alguma causa, se recusava a cobrar”, relembrou.
Memória
Durante o sepultamento, o advogado Ariovaldo Risolla, um dos maiores tribunos do mundo jurídico do país, fez uma derradeira homenagem ao amigo. Emocionado, Risolla falou do sentimento de perda que a ausência de Fernando Serra ocasiona, das virtudes do falecido e de sua importância como referencial para toda a classe de advogados da cidade, agradecendo por tudo o que ele fez pela categoria.
Embora saibamos que a morte espreita a vida todos os dias, todos os dias somos surpreendidos pela crueldade dela. Desta vez não foi diferente: fomos surpreendidos pela notícia da morte de Fernando Serra, eminente advogado itapirense e sinônimo de ética profissional e lhaneza no trato pessoal para com todos.
Falar sobre os atributos do grande advogado Fernando Serra é chover no molhado, é discursar a obviedade. Tinha eu pelo doutor Fernando mais do que uma admiração profissional e pessoal. A bem da verdade, tínhamos praticamente uma relação paternal/filial, a ponto de meus filhos se referirem ao ilustre advogado como “Vô Fernando”.
Suas peças processuais eram um primor de técnica jurídica. Seu português escorreito e culto era, contudo, de singela compreensão. Era um adversário difícil de ser batido, nada obstante a sua lhaneza no trato profissional e pessoal.
Sabia ser duro e inflexível em suas defesas mais apaixonadas, mas nunca se deixava levar pela verborragia, pelo ataque grosseiro e pedante que fugia às regras da urbanidade, da ética e da boa educação que sempre devem nortear a relação entre colegas de profissão e terceiros, ainda que postulantes em lados opostos.
Foi um profissional exemplar, avô amoroso, marido próvido, pai acolhedor e um amigo sem-igual. Por isso a perplexidade do corpo social diante da notícia da morte do zeloso advogado.
Lembro-me de nossas inúmeras pescarias que fizemos no Pantanal sul matogrossense, da alegria contagiante que demonstrava ao ver seus amigos reunidos após as pescarias, saboreando os produtos de nosso “trabalho”, os quais sempre eram degustados acompanhados da inseparável cerveja. Nós o chamávamos carinhosamente de ‘Português’ e ele abria seu largo e luminoso sorriso.
O insigne doutor Fernando Serra deixa como legado a lição de que é possível ser adversário duro sem ser leviano, grosseiro e mal educado. Que é possível tratar com a mesma urbanidade e cortesia, familiares, amigos, conhecidos e adversários. Que é possível fazer fama e ganhar dinheiro com inteligência acurada e dignidade, sem venalidade, diante de uma situação que envolva valores pecuniários. Que é possível perder causas sem perder a dignidade. Que é possível ser o depositário da gratidão coletiva mercê tão somente da competência e seriedade de conduta.
É constrangedor sequer imaginar que um ser humano da grandiosidade e generosidade do doutor Fernando Serra pôde ter, em seus últimos dias, vivenciado um calvário sem-fim. Não se encontram explicações para este fato, exceto, por óbvio, se o imputarmos aos desígnios insondáveis do Criador. Ainda assim, cabe-nos a indignação, como mortais que somos.
Obrigado amigo Fernando! Que em outras esferas onde o nosso conhecimento não alcança, você possa continuar zelando por todos nós, seus amigos e eternos admiradores. Descanse em paz!
BRÁS GERDAL DE FREITAS ADVOGADOr
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Itapira, 03 de Maio de 2025
08/10/2014 | Falecimento de Fernando Serra deixa vácuo na área do Direito
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