Um
morador desta cidade foi preso, semana passada, acusado de ser o estuprador que
atuava em Itapira e região. Imaginavam tratar-se do maníaco da luva. Um
meliante que atacava as suas vítimas, preferencialmente acompanhadas, namorando
em pontos ermos. Usava o veículo da desavisada, indicava um caminho e a conduzia
para um local, cuidadosamente selecionado, onde daria cabo às suas loucuras
psíquicas. Rezam alguns relatos de que além das luvas e do capuz, onde declarava
apenas os olhos, esse criminoso manifestava um bom português, era perfumado e
raspava os pelos pubianos.
Logo
que a notícia foi espalhada pela cidade, imediatamente, antes que os fatos
fossem apurados com maior precisão, com base na informação de reconhecimento
dos olhos e da voz por parte de algumas vítimas, a pessoa detida foi
automaticamente julgada e condenada. Pesava contra essa pessoa outro crime que
se caracterizou pela tentativa de estupro de uma lavradora e tentativa de
assassinato de uma menina testemunha. Crime em que ele foi julgado e condenado,
quitado com alguns anos de reclusão. Para a maioria, quem pratica uma vez,
repete. Pode não ser sempre assim. Por falta de provas convincentes, ganhou a
liberdade. Ninguém deve ser preso ou condenado sem indícios cabais.
Quando
saímos dos conceitos que definem uma sociedade organizada e embarcamos no
delírio coletivo, na prática chegamos perto dos portadores de distúrbios
psíquicos de qualquer natureza. O medo que nos assola, não sem razão, nos
torna, muita vezes, irracionais. Irracionalidade que nos conduz ao preconceito,
ao comprometimento da vida cotidiana, ao medo demasiado, à vida empobrecida.
Como
brasileiros, salvo a calhorda política e a violência urbana a que somos
submetidos, como povo, nós não vivenciamos grandes traumas, como guerras ou
desastres naturais de grandes proporções. Experiências quase que inimagináveis,
para nós, graças a Deus. Se de um lado somos abençoados por isso, do outro, tal
inexperiência nos leva a histeria coletiva, muitas vezes.
É
sabido que parte da população, em torno de dois a três por cento, é acometida
de distúrbios de personalidade, donde podem ser encaixados os casos dos
estupradores que não se importam com o sofrimento das vítimas ao usarem a
violência física e moral acentuadas e nos casos onde se busca a ação com
casais. Por incrível que possa parecer,
o estupro é pouco estudado pela ciência, mas para os casos graves, há
tratamentos. Considerando que o sexo forçado, com ocorrências mais frequentes
do que a maioria das pessoas imagina, que pelas ligações humanas estabelecidas não
são denunciadas, as aberrações acabam enquadradas como desavergonhamento
masculino. Naqueles casos, é doença.
A ciência define três tipos de homens que buscam o sexo
forçado: no fim da adolescência e início da vida adulta por conta da
impulsividade sexual natural, mas sem noção dos riscos; homens que levam esse
comportamento para o resto da vida e os psicopatas. Testes laboratoriais
realizados com criminosos diversos revelaram que entre os estupradores o grau de
excitação era maior diante das histórias de sexo forçado em relação às de sexo
consensual.
O melhor caminho para resolver os males que aflige a
sociedade é a reflexão e os cuidados apropriados. É fazer a discussão
extrapolar os mecanismos oficiais, jurídicos e penais, fazendo-a chegar às
rodas costumeiras, desde que desprovida de preconceitos e medos desnaturados.
Para evitar os ataques do estuprador, não precisamos nos
guardar sobre as quatro paredes da nossa casa. Devemos - isso sim - não nos isolar,
jamais, nas quebradas escuras da cidade. A última coisa que um estuprador quer,
é ver uma testemunha por perto. Esse agressor pode ser doente, mas não é burro.
Planeja suas ações, com fino trato.
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