O registro de um jumento que morreu há cerca de 40 dias na região do bairro dos Limas, acendeu definitivamente o sinal vermelho das autoridades sanitárias do município sobre o avanço da raiva animal que tem sido registrado em cidades vizinhas. O médico veterinário Jeferson Pupo Nogueira, chefe do setor de zoonoses da Secretaria de Saúde do Município, disse que o animal “veio importado” de Amparo, mas que isso não muda em nada a preocupação em relação ao assunto. “É fato que a raiva vem avançando a partir de várias cidades da região. Estamos em permanente estado de alerta e solicitamos aos proprietários rurais que estejam atentos a qualquer sintoma de debilidade em algum animal de pequeno, médio e grande porte que possam sugerir que ele tenha contraído a doença e principalmente, que vacinem seus rebanhos contra a raiva”, disse Pupo Nogueira para o Jornal A Cidade. Ainda coforme explicação do especialista, depois que o animal é levado a óbito procede-se a remoção do cérebro e da medula para envio ao Instituto Pasteur, onde é feito o exame para se detectar se foi mesmo a raiva a causa da morte. Ele aponta a falta de mão de obra especializada em torno do assunto para a ausência de medidas como o combate às colônias de morcego que infestam toda a região por parte da Secretaria de Estado da Agricultura. “É o tipo de trabalho que exige um comprometimento muito grande de quem se propõe a realizá-lo. A pessoa tem que gostar”, detalhou.
Rodrigo Silva Bertini, médico veterinário também lotado na divisão de zoonoses do município, é um dos maiores especialistas no assunto em toda a região. Ele integrou durante a segunda metade da década de 1990, ao lado do atual chefe da Casa da Agricultura Ivo Marcos Perez Faria e do técnico Nelson Gouvêa (já falecido), a equipe que vasculhou toda a zona rural da cidade eliminando colônias de morcegos hematófagos. Por conta desta sua experiência frequentemente é requisitado para recolher material para exame da raiva.
Ele afirmou que a situação é “altamente preocupante. Segundo explicou os dados estatísticos comprovam que a cada dez anos ocorrem aquilo que chama de “picos de epizotia”, ou seja, uma incidência elevada de casos de raiva animal. “O último grande surto que tivemos aqui em Itapira e na região ocorreu em 2002”, reforçou. Bertini relatou que em Espírito Santo do Pinhal foram confirmados nos últimos 12 meses nove casos positivos, dois em equinos e sete em bovinos. “Tivemos casos comprovados também em Mogi Guaçu em Amparo”, revelou. No dia 11 de agosto passado ele foi solicitado a recolher material de um cavalo achado morto em Santo Antonio da Posse. O resultado foi positivo. Ainda na quarta-feira ele foi chamado numa outra propriedade para retirar material de um bovino, cujo resultado oficial deve ser anunciado nesta segunda-feira. “ Todos os sintomas apresentados eram de raiva. Como acontece nestes casos, também aí houve contato de pessoas com fluídos corporais do animal e na confirmação destas doenças todas estas pessoas deverão passar por um severo controle médico”, alertou. Esta última propriedade fica a poucos metros da divisa com Itapira.
Circulação
Bertini acredita que o trabalho feito por ele e Ivo Perez para eliminação das colônias já esteja “com prazo de validade vencido”. Ele mencionou o caso de uma propriedade na zona rural da cidade onde foi chamado recentemente para dar uma opinião a respeito de uma colônia de morcegos encontrada no local. “Realizamos um trabalho de eliminação de morcegos neste mesmo local há 12 anos mapeamos cerca de 25 abrigos o que enseja uma população com centenas de indivíduos. Eliminamos, tenho certeza, a maioria. Mas a alta incidência de casos registrados neste período demonstra que as colônias voltaram a se procriar novamente. O grande problema é que o um morcego infectado favorece a circulação do vírus da raiva em toda a colônia. A situação pode ficar fora de controle se nada for feito”, adverte.
A Casa da Agricultura também preocupada com o recrudescimento da doença iniciou uma série de contatos objetivando a realização de um encontro para esclarecer os proprietários. Vanderli Edésio Leandro, o Dél, da empresa Agrodél foi solicitado a colaborar com o evento que deverá ocorrer na própria Casa da Agricultura no dia 10 de outubro, uma quarta-feira.