Em assembleia, funcionários da Açoplast decidem retomar atividades, mas empresa deve mesmo deixar a cidade num futuro próximo

Cerca de 80 dos 150 funcionários devem ser dispensados

Nesta quinta-feira, após nova paralisação dos funcionários da Açoplast, o Sindicato dos Metalúrgicos de Itapira esteve no local para mais uma assembleia. Após reunião com a direção da empresa, ficou estabelecido que os funcionários voltassem às atividad

es, com a promessa de que irão receber o vale e o salário de junho já na próxima segunda-feira, dia 30. Após a realização da assembleia, a maioria optou por retomar as atividades. 

“Eles poderiam muito bem ter feito como a Teka e ido embora sem acertar nada. Mas a direção da empresa quer acertar, dentro das possibilidades, com todos os funcionários e pediu para que eles cumprissem as metas pelo menos mais estes dois dias”, explicou Luizão, presidente do Sindicato dos Metalúrgicos.

Atualmente, a Açoplast possui cerca de 150 funcionários. Na manhã de terça-feira, 24, as atividades foram paralisadas por meioperíodo como forma de pressionar a direção da empresa pelo pagamento de salários e benefícios atrasados. Segundo informações colhidas no local pela nossa reportagem, há mais de seis anos, o Fundo de Garantida por Tempo de Serviço (FGTS) não é depositado. Além disso, o chamado “vale”, adiantamento do salário, que geralmente acontece no dia 21, ainda não foi pago. Some-se a isso o não pagamento do abono salarial, que deveria ter sido pago em três parcelas a partir de janeiro e o encerramento do convênio com as farmácias.

“Eles descontavam da nossa folha de pagamento, mas não repassavam para as farmácias. Desta forma, os convênios foram encerrados. A cesta básica também está atrasada. Em relação ao vale, a empresa informou que só vai acertar junto com a recisão. Desta forma, optamos por paralisar as atividades até termos uma posição da direção”, destacou um funcionário que não quis se identificar.

Ainda segundo os funcionários, especula-se a mudança da empresa para o sul de Minas Gerais, sendo que o setor que produz os filtros para indústria automobilística iria para Ouro Fino (MG SUL), com aproximadamente 44 funcionários, enquanto que a calderaria seria transferida para Jacutinga. Ao todo, 70 funcionários serão reaproveitados, enquanto que os outros 80 estarão, automaticamente, dispensados.

“Estão convidando alguns funcionários para ir para Ouro Fino, sob a condição de abrir mão dos 40% de multa e recebendo o mesmo salário. O restante será dispensado e irá receber em até sessenta vezes. Esta é a proposta da empresa”.

Logo mais, na TVPCI, estará disponível a cobertura da assembleia e a entrevista concedida pelo presidente Sindicato dos Metalúrgicos de Itapira Luiz Roberto da Silva que abordou o acordo até segunda-feira, os problemas da empresa, a questão do emprego em Itapira entre outros assuntos. Durante a conversa com os trabalhadores, Luizão chegou a dizer que os problemas da Açoplast começaram com o pedido do imóvel pela Prefeitura de Itapira. Na entrevista ele esclareceu. 

Crise econômica e mercado chinês

Em contato com o empresário Francisco José Gill, nossa reportagem tomou conhecido da real situação da empresa. Segundo Gill, o setor automobilístico brasileiro vem passando por uma fase de desaceleração, o que vem afetando diretamente a empresa, que está com todos seus estoques abarrotados. “Todas as empresas do setor estão operando com apenas 50% da mão de obra. Só a General Motors esta semana demitiu mais de 3 mil funcionários e está prevendo mandar mais 3 mil embora. Se somarmos a isso a concorrência com os produtos chineses, a alta carga tributária, chegamos a esta realidade. O maior problema foi o corte de programação, que nos deixou com o estoque cheio”, destacou Gill.

Ainda segundo o empresário, durante esta semana, vem mantendo tratativas com as empresas do setor com o intuito de desovar a produção e que caso isso aconteça, poderá fazer a folha de pagamento e retornar a cadeia produtiva. “Eu não tiro a razão deles (funcionários). Mas a retração do mercado e a concorrência com os produtos chineses mais baratos vêm inviabilizando a produção. Vamos ter que aguardar a recuperação do setor”, concluiu.

Sobre a negociação com a empresa de Ouro Fino, confessou que existe sim uma negociação e a possibilidade de absorção de alguns funcionários, mas nada foi concluído: “A minha preocupação é tentar resolver os problemas que se arrastam desde a crise de 2008, ainda não cicatrizada, sem afetar os trabalhadores”.

Embora a direção da empresa não confirme, o encerramento das atividades no município deve ser apenas uma questão de tempo.