Um dos primeiros integran­tes da safra de grandes atletas e, futuramente, professores de Educação Física, formada atra­vés do trabalho protagonizado pelo professor aposentado José de Oliveira Barretto Sobrinho, Paulo Roberto de Oliveira, o Paulinho Teté, entende que o grande mestre foi uma re­ferência para todos os alunos que tiveram a oportunidade de conviver com o mesmo. Formado em Educação Física pela Universidade de São Paulo em 1970, com especialização técnica em atletismo no Brasil (1972) e no exterior (Espa­nha-1972) e Alemanha (1976); pós graduação na primeira tur­ma de mestrado em Educação Física do Brasil (USP-1977) e doutorado (UNICAMP); diretor técnico da Secretaria Estadual de Esportes do Paraná, entre 77 e 81; secretário de Esportes na cidade de Londrina, entre 2009 e 2010; atualmente aposentado pela UNICAMP, Paulinho Teté presta assessoria para a CBAt (Confederação Brasileira de Atletismo), Paulinho lembra que desde quando chegou na cidade com seu grande entusiasmo, Barretto se transformou em uma espécie de referencial para muitas gerações.

“Barretto foi referência não só para mim como para todos os alunos que tiveram a oportunidade de conviver com o mesmo, especialmen­te nos anos 60 quando por aqui chegou com seu grande entusiasmo após a histórica viagem da Praça da Repúbli­ca, em São Paulo, até Itapira”, lembra Paulinho Teté. “Fomos contagiados pelo seu entusias­mo, sua dedicação, assiduidade e antes de tudo pela maneira competente e respeitosa com que abraçou a causa da edu­cação dos alunos do IEESO. Barretto contribuiu juntamente com os demais docentes da escola para nossa formação pessoal; deu personalidade à velha sala de Educação Física, construiu a pista de atletismo com a ajuda da comunidade e dos alunos; oportunizou a realização de intercâmbios esportivos, promoveu passeios campestres, colocou nossa escola em destaque na região e posteriormente, no Estado de São Paulo; com tal conduta me fez descobrir que a carreira de professor de Educação Física valeria a pena uma vez que apresentou o desporto dentro de uma perspectiva privilegiada na sociedade que adicionado ao idealismo do profissional pode contribuir para preparar pessoas para a vida”.

Paulinho Teté participou de uma época em que muitos valores foram revelados no atletismo por Barretto. E tem recordações daquele tempo especial. “Penso que se no IEESO tivesse uma piscina de natação talvez o professor Bar­retto pudesse seguir outro caminho, pois além de ser um bom nadador, tanto que até hoje participa de competições, sua formação de especialista foi desenvolvida dentro da natação, na época titulou-se técnico de natação; evidentemente, ao se deparar com a realidade da escola pública paulista teve que ajustar seus ideais à estrutura física e material disponível; assim, acredito, visualizou o atletismo como um possível caminho”, explica. “As crianças e jovens da época ocupavam muito bem os espaços físicos fartamente disponíveis pelos bairros da cidade e praticavam espontaneamente o futebol desenvolvendo assim suas ca­pacidades e habilidades, antes mesmo de entrar no ensino médio; o professor Barretto foi sensível ao detectar talentos para a prática do atletismo e, gradativamente, desenvolveu na juventude o gosto pela mo­dalidade; vieram as conquistas e assim Itapira ganhou o respeito como cidade de tradição no atletismo escolar do Estado de São Paulo”.

Paulinho Teté também des­taca aquele que foi o primeiro na lista de seguidores de Bar­retto. “Como desportista de destaque o Valdir Barbanti foi o maior de todos que eu conheci em toda a minha vida; dotado de uma coordenação refinada aprendia tudo com muita fa­cilidade, fosse no atletismo, basquetebol, futebol, tênis de mesa, natação, ginástica olímpica, etc”, frisa. “Assim, independente do caminho que viesse a seguir sempre teve potencial para ser um campeão independente de modalidade; outro talentoso era meu irmão João Carlos (o médico cardiologista João Carlos de Oliveira), jogava muito bem o basquetebol e chegou até seleção carioca universitária de basquetebol; é uma pena que jamais dedicou integralmente aos treinamentos; outro grande desportista foi o irmão mais novo José Alair (hoje secretário municipal de Agricultura e Meio Ambiente), atleta de atletismo, campeão paulista e brasileiro de triatlo, heptatlo, foi também campeão brasileiro de salto em altura; ainda destacaria o José Roberto Rocha, no atletismo; Eliézer Rizzo de Oliveira, no basquetebol e futsal; o Cabrita (Eliel Corazza), no futebol e fut­sal; Joel de Mello, no futebol e futsal, e tantos outros que não foram para o atletismo mas serviram de motivação para a nossa opção profissional”.

Paulinho também reme­mora um fato curioso ocorri­do na década de 60. “Em 65, caso a equipe de 4x100m do IEESO ficasse a frente da es­cola Estadual de Pirassununga conquistaríamos pela primeira vez o título de campeões do Estado de São Paulo”, recor­da. “O Barretto estava mais nervoso que os atletas, afinal estávamos próximos de uma conquista inédita; para registrar o possível feito, comprou uma potente máquina fotográfica, super moderna e colocou-se junto a linha de chegada na expectativa de registrar o fato histórico; o juiz deu a largada e os atletas partiram; o primeiro da equipe era o Netinho, que entregou o bastão para o ines­quecível Lima; estávamos em quinto lugar no momento em que o Valdir recebeu o bastão; correu como nunca e entregou o bastão em terceiro lugar (atrás de Pirassununga); eu e o Valdir tínhamos uma passagem de bastão quase perfeita; recebi o bastão correndo de último homem e cruzei a linha de che­gada na frente do nosso grande adversário; conseguimos assim realizar o sonho. Bem, mas onde está o Barretto nesta história? Do lado de fora da pista do Pacaembú, o Barre­to pulava como aqueles que ganham na loteria; queria nos abraçar, queria correr, queria pular; nosso querido mestre estava tão eufórico que saiu correndo e esqueceu a tal da máquina sobre a mureta do alambrado; mais tarde, quando deu conta, voltamos ao local e a sofisticada máquina havia desaparecido; final da história: Barretto ganhou o seu primeiro título de campeão e perdeu sua primeira máquina”.

Segundo Paulinho, naquele tempo era tudo mais difícil, por isso, tudo que era alcançado tinha mais valor. “De fato, tí­nhamos poucas oportunida­des de crescimento na nossa comunidade; tudo era mais difícil, mais simples, no entanto havia mais comprometimento e mais solidariedade; não havia escola de formação musical, não havia escola de teatro, não havia academia, sequer internet ou celular; o momento era outro, afinal Itapira tinha um pouco mais de vinte e cinco mil habitantes; começava a engatinhar. Penso que Barretto aproveitou muito bem o vazio que o momento propiciou e com seus ideais criou para os jovens estudantes do IEESO um verdadeiro laboratório de oportunidades”, elogia. “As olimpíadas estudantis, antes de ser um evento competiti­vo, restrito aos desportistas talentosos, era uma grande festa de integração; a verda­deira e única oportunidade de integrar a escola em torno de uma idéia educacional; afinal, havia espaço para todos aqueles que desejassem participar: concurso de oratória, cartazes, desenhos, fotografias, desfile pela cidade com as bandeiras representadas. Imaginem um desfile noturno com as luzes da cidade apagadas e os alu­nos desfilando com uniformes coloridos alusivos às bandeiras empunhando tochas de bambu feitas com a contribuição do professor de trabalhos manu­ais, o inesquecível e querido José silveira, o Zé Quarqué?; jamais poderemos esquecer espetáculo tão lindo; portanto, o evento não era apenas para apontar o melhor, senão criar um ambiente propício para a prática da cidadania; ali estavam embutidos sofisticados princí­pios de gestão participativa (co­-gestão), co-responsabilidade, respeito às regras e aos colegas, integração social, integração docente-discente, experiência única e rica em relações huma­nas e solidariedade, valores fundamentais na formação do cidadão e, construção de uma sociedade justa; sim foram estes os valores vivenciados naquele espaço; a comunidade participava e vivia intensamente aqueles dias\noites no IEESO, torcendo para as equipes e comparecendo massivamente aos jogos”.

Valores

Professor de Educação Física de capacidade inegável, Paulo Roberto de Oliveira carrega consigo os ensinamentos do professor Barretto em sua carreira e em sua vida. “Valores como entusiasmo, dedicação, assiduidade, generosidade, responsabilidade e, antes de tudo, o amor à profissão; as atitudes do dia a dia foram os mais importantes exemplos que o Barretto deixou; aprendemos a valorizar as oportunidades, participar com empenho e, se necessário lutar pelos nossos direitos; claro que como um grande mestre sempre tentare­mos seguir seus ensinamentos, consideradas as diferentes realidades e os diferentes mo­mentos da história”, agradece.

Atualmente Paulinho Teté participa de importantes pro­jetos do atletismo nacional. Em agosto do ano de 2014 foi convidado pela Confederação Brasileira de Atletismo para estruturar e organizar o trei­namento do melhor atleta de provas combinadas, o decatlo, do Brasil, quinto ranqueado no mundo em 2013, com grande perspectiva de medalha nas olimpíadas 2016. “Mas, infe­lizmente, uma série de lesões durante os últimos seis meses impediu que eu prosseguisse na missão”, explica. “Neste momento estou com a incum­bência de elaborar material didático sobre o processo de formação a longo prazo para o atletismo brasileiro, desde a seleção do talento até que se chegue ao alto nível. Assim, pre­cisamos refletir sobre as bases metodológicas do treinamento desde a etapa de preparação preliminar, passando pelas etapas de especialização inicial, especialização profunda até chegar na maestria desportiva; portanto, estou trabalhando no sentido de estabelecer parâmetros para seleção dos diferentes componentes dos grupos de provas do atletismo (corridas, saltos, arremessos e provas combinadas) com os respectivos conteúdos de treinamento”.

Segundo ele, o trabalho é realizado a longo prazo. “Trata­-se de uma missão importante pela concepção macro pois é uma maneira de tratar o atletis­mo dentro de uma perspectiva longitudinal em longo prazo, evitando-se as improvisações e os investimentos de última hora visando obter uma medalha a qualquer custo; espero trazer sugestões valiosas para um atletismo consistente”, explica.

Ao longo da carreira na Educação Física, Paulinho desempenhou funções em diversos setores e regiões do país. “Trabalhei em escolas publicas do estado de São Paulo e Paraná; fui professor das escolas de educação físi­ca da USP, Guarulhos, Santo André; professor de escola municipal em São Caetano do Sul; professor de Educação do Colégio Objetivo (São Paulo); técnico desportivo no CEPEUSP; professor das Faculdades de Educação Física da Universidade Estadual de Londrina; professor da Universidade Estadual de Campinas (UNICAMP); coor­denador da Educação Física do Colégio Objetivo em Itapira; ministrei inúmeros cursos de pós graduação em vários esta­dos do Brasil; proferi inúmeras palestras; apresentei trabalhos científicos em congressos da área; orientei teses de mestrado e doutorado, entre outros”, destaca. “Fui preparador físico da equipe do Londrina Espor­te Clube durante cinco anos, técnico da equipe de juniores, supervisionei o treinamento de atletas de voleibol, canoagem, remo voleibol, judô, atletismo, enfim são mais de 50 anos dedicados ao desporto”.

Aposentado, Paulinho participa de projetos da CBAt

Em sua época de atleta, um dos ícones do atletismo local