INTRODUÇÃO
Dados sobre o Movimento Revolucionário Constitucionalista de 1932
Uma das primeiras e mais importantes reações contra a nova ordem política instaurada pela revolução de 1930 foi o movimento Constitucionalista de 1932, ocorrido em São Paulo. Com esse movimento, as elites paulistas, que tinham sido as maiores beneficiárias do sistema vigente na Primeira República, tentaram retomar o controle político que haviam perdido com a Revolução de 1930.
Na época, Getúlio Vargas ocupava a presidência da República devido a um golpe de Estado, aplicado após sua derrota para o paulista Julio Prestes nas eleições presidenciais de 1930. O período ficou conhecido como "A Era Vargas". A Revolução Constitucionalista de 1932 representa o inconformismo de São Paulo em relação à ditadura de Getúlio Vargas. Podemos dizer que o Brasil teve quase uma guerra civil.
Uma das principais causas do conflito foi a ruptura da política do café-com-leite - alternância de poder entre as elites de Minas Gerais e São Paulo, que caracterizou a República Velha (1889-1930). Alijada do poder, a classe dominante de São Paulo passou a exigir do governo federal maior participação.
Os paulistas nunca chegaram a aceitar a nomeação de interventores para o governo do estado. Estes encontraram sempre forte oposição política. Inicialmente, São Paulo reivindicava a nomeação de um interventor que não fosse militar e que tivesse nascido em São Paulo. Isso levou o presidente Vargas a nomear para o cargo Pedro de Toledo, civil e paulista como desejavam os políticos de São Paulo.
A nomeação de Pedro de Toledo, porém, não diminuiu o descontentamento dos paulistas com o governo da República. Isso porque alguns auxiliares do novo interventor eram figuras impopulares.
Estes foram os principais fatores que provocaram a revolução de 1932 em são Paulo:
• Inconformismo de setores políticos ligados aos grupos econômicos mais poderosos de São Paulo, por verem enfraquecida sua influência no governo da República.
• O problema político da nomeação dos interventores.
• Interesse na reconstitucionalização do regime, que resultariam na democratização do país.
Em resumo, os conspiradores de São Paulo pretendiam reconquistar o poder que haviam perdido com a revolução anterior.
O movimento revolucionário de 1932 despertou o sentimento patriótico da maior parte da população do Estado. Mesmo em outros Estados, era grande o número de simpatizantes à causa da revolução paulista.
Não foram apenas elementos das elites paulistas que tomaram parte da revolução Constitucionalista de 1932.
Como resposta, Getúlio Vargas não apenas se negou a dividir poder com os paulistas como ameaçou reduzir seu poder dentro do próprio estado de São Paulo, com a nomeação de um interventor não paulista para governar o estado. Os paulistas não aceitaram as arbitrariedades de Getúlio Vargas, o que levou ao conflito que opôs São Paulo ao resto do país.
Martins, Miragaia, Dráuzio e Camargo, o MMDC
Vários jovens morreram na luta pela constituição. Entre eles, destacam-se quatro estudantes que representam a participação da juventude no conflito: Martins, Miragaia, Dráuzio e Camargo, o célebre MMDC. O movimento marcou a vida de outros milhares de paulistanos e brasileiros.
Governistas X constitucionalistas
No dia 9 de julho, o Brasil assistiu ao início de seu maior conflito armado, e também a maior mobilização popular de sua história. Homens e mulheres - estudantes, políticos, industriais- participaram da revolta contra Getúlio e o governo provisório de São Paulo.
O desequilíbrio entre as forças governistas e constitucionalistas era grande. O governo federal tinha o poder militar e os rebeldes contavam apenas com a mobilização civil. As tropas paulistas lutaram praticamente sozinhas contra o resto do país. As armas e alimentos eram fornecidos pelo próprio estado, que mais tarde conseguiu o apoio do Mato Grosso.
Adesão
Entre os voluntários que se apresentaram para a luta e morreram pela causa de São Paulo, encontramos, ao lado de estudantes, engenheiros, advogados e médicos, elementos que pertenciam às camadas mais humildes da população: lavradores, operários, ferroviários, motoristas, etc.
Alguns revolucionários estavam na casa dos 60 anos, os mais novos tinham apenas 15 ou 16 anos.
Cerca de 135 mil homens aderiram à luta, que durou três meses e deixou quase 900 soldados mortos no lado paulista - quase o dobro das perdas da Força Expedicionária Brasileira durante a Segunda Guerra Mundial.
Embora o movimento tenha nascido de reivindicações da elite paulista, ele teve ampla participação popular. Um dos motivos foi a utilização dos meios de comunicação de massa para mobilizar a população. Os jornais de São Paulo faziam campanha pela revolução, assim como as emissoras de rádio, que artingiam audiência bem maior.
Até hoje, a história da Revolução de 32 é mal contada. Ou, pelo menos, é contada de duas formas. Há a versão dos governistas (getulistas) e a dos revolucionários (constitucionalistas). Durante muito tempo, a versão dos getulistas foi a mais disseminada nos livros escolares do país, mas hoje, com uma maior participação dos professores na escolha do material didático, a história também já é contada sob a ótica dos rebeldes.
A importância do movimento é incontestável. Seu principal resultado foi a convocação da Assembléia Nacional Constituinte, dois anos mais tarde. Mesmo assim, a Revolução de 32 continua como um dos fatos históricos do país menos analisados, tanto no tocante às causas quanto em relação às suas conseqüências. Os livros didáticos ainda trazem pouco sobre o tema.
“No dia 10 de julho, isto é, um dia depois de estourado o movimento, na reunião com os comandantes das guarnições federais e estaduais, o Coronel Euclides de Figueiredo, declarou que o movimento revolucionário não deveria rebentar já. Os acontecimentos, porém, haviam-se precipitado em virtude da atitude assumida pelo General Bertoldo Klinger.
JORNAL DIÁRIO DE SÃO PAULO - 10.07.1932
“... São Paulo bate-se pela causa constitucionalista. Não tem outro propósito, não visa outro objetivo senão o de repor o Brasil no regime da lei. Como se bate por essa causa? Mandando para as fronteiras, para as linhas de fogo, a flor de sua mocidade, as expressões mais nobres da sua inteligência e da sua riqueza!...”
JORNAL O ESTADO DE SÃO PAULO – Julho, 1932
“... Do Rio Grande do Sul e de Minas Gerais, já se anuncia, nos comunicados oficiais, a marcha de contingentes de tropas que se juntam às de São Paulo, vindo participar dos avanços, ininterruptos e gloriosos (...). São Paulo tem forçosamente de vencer pela bravura, denodo e intrepidez de seus exércitos (...). São Paulo tem à frente de seu governo, neste momento de transe, homens de alto valor e de nítida compreensão das responsabilidades que pesam sobre seus ombros. O Dr. Pedro de Toledo, governador do Estado, por aclamação do povo, tem se mantido no amplo sentido patriótico à altura de um magistrado que, a par dos deveres que impõe o alto cargo que desempenha, se devota com máxima solicitude à causa heróica dos exércitos constitucionalistas, sem descuidar de coisa alguma nas missões de retaguarda que conforte e assegure a ação vencedora dessa laudeada legião de bravos, disposta ao máximo de sacrifícios para a libertação do Brasil”.
JORNAL O ESTADO DE SÃO PAULO – Julho, 1932
Em Itapira
Após o anúncio de Guerra expedido por São Paulo na manhã do dia 09 de Julho, a grande maioria das cidades do interior do Estado começaram a se movimentar e se organizar para a Revolução.
Em Itapira, o Delegado de Polícia Dacio A. de Moraes recomendou que fossem levados para a Capital os soldados que ficavam na Cadeia e na Delegacia locais; para tanto, solicitou um caminhão na Câmara Municipal. O Coronel Francisco Vieira, responsável pelo Tiro-de-guerra em Itapira, intimou seu funcionário mecânico, Alcides de Oliveira a ser o motorista.
Chegando na Capital, os policiais foram desembarcados junto a um Batalhão postado na Avenida Tiradentes. Lá, recebeu descontente, cerca de 80 fuzis. Colocou-os no caminhão e trouxe-os a Itapira entregando todo o material ao pessoal da Prefeitura.
No dia seguinte, 10 de Julho começou-se a organizar o que seria o 14º Batalhão de Amadores, sob o comando do Coronel Francisco Vieira e ajuda de Caetano Munhoz, então funcionário municipal; do escrivão de polícia Quinzote Venâncio, do famoso padre Luiz de Abreu (que se tornou célebre pelas suas façanhas guerreiras), do professor Pedro Ferreira Cintra, do 3º Sargento Reformado da PM Antônio Guedes, do Elpídio Onório da Silva e do José Morais. Agregaram-se três ou quatro policiais vindos, em pequenos grupos, das cidades de Mogi Mirim, Amparo, Socorro, Rio Claro; também outros componentes, a maioria voluntários.
No dia 14 de Julho o Batalhão seguiu rumo à Pouso Alegre, motorizado de caminhões, fazendo paradas em Monte Sião e Borda da Mata. Uma parte seguiu de trem sem, contudo, continuarem o trajeto porque a linha foi danificada.
Houve boatos de que ouviram alguns comandantes dizendo que o encontro em Pouso Alegre era de aliança; para seguirem, conjuntamente, até ao Rio de Janeiro; que o sucedido, porém, saiu pela culatra, isto é, o Governo Federal – Getúlio Vargas – numa inesperada estratégia, mudara o pessoal do comando do exército de Pouso Alegre.
Além do imprevisto e da confusão generalizada, esse primeiro grupo de soldados voluntários não tinha treinamento nenhum, nem mesmo condições de resistir, não bastando, aviões lançavam bombas em cima deles! O recuo do pessoal foi de muito sofrimento; os caminhões Paulistas foram todos danificados.
A Refrega de Pouso Alegre
Um dos soldados incorporados ao Batalhão 23 de Maio, contou à reportagem de O Diário de São Paulo que: “O candelário e o relógio perdem a razão de ser, pois, na febre belicosa na linha de fogo, tira aos soldados o conhecimento de tempo; que recebia a ordem de avançar, partiu o batalhão, levando cada soldado a certeza do sucesso e da vitória; que de Socorro seguiram sem novidade até a cidade de Monte Sião, já no Estado de Minas Gerais, onde foram recebidos festivamente pelos civis, partindo em seguida para Ouro Fino, ali também recebidos com calorosos aplausos. Depois, Borda da Mata, onde este batalhão se reuniu ao Batalhão Paes Leme, tendo assumido o comando de toda a tropa o Capitão Pietscher, designado nosso comandante Caítão Castro de Oliveira, para comandar a vanguarda formada pelo 2º de Maio e por um reforço do Batalhão Paes Leme, sob as ordens do malofrado Tenente Fernão Salles!.
JORNAL O DIÁRIO DE SÃO PAULO
O Combate
“Dispostas as ordens gerais pelos chefes e oficiais, a vanguarda partiu de Borda da Mata, na direção do objetivo, Pouso Alegre, levando nossos soldados, os voluntários e nossa oficialidade, ânimo forte, vibrantes, e tão bem dispostos como se fossem para uma parada militar! Os nossos testes da vanguarda, atingiram a divisa do município atacado, na primeira hora da tarde; então as patrulhas avançadas inimigas, romperam o primeiro fogo, o fogo do sinal, e recuaram para as suas posições de defesa”.
JORNAL O DIÁRIO DE SÃO PAULO
O Começo
“Nossas tropas foram dispostas em linhas de atiradores; nossos fuzis e metralhadoras despejaram a carga; o inimigo parecia recuar sempre, mas a artilharia de Pouso Alegre, não cessava de descarregar sua verdadeira chuva de granadas sobre a nossa valente rapaziada; o ribombar ecoava pelas montanhas que circundavam o nosso campo de operações... Avançamos! Atingimos a crista da montanha que nos separa das posições inimigas, por um vale imenso, a 3 ou 4Km da nossa cidade.”
“ Caiu a Tarde. E os nossos agüentavam a saraivada ininterrupta das balas de fuzilaria... Pipocar contínuo das metralhadoras cobertas... Reboar dos Canhões... Música bárbara de extermínio...”
JORNAL O DIÁRIO DE SÃO PAULO
“... Aliás, ainda que tivessem funcionando e em ordem, não daria porque as estradas, naquele tempo, eram precárias, acrescido das chuvas fortes.
Recuando a pé, de lá até Itapira, o pessoal espalhou-se; alguns vieram por Monte Sião, outros por Eleutério, cada qual a defender-se como podia, pois como eu disse, além da precariedade dos nossos armamentos, a maioria não tinha nenhum treinamento. Por solidariedade humana, por companheirismo de luta e ideal, por forças das circunstâncias adversas, o meu dever de cristão impôs-me ainda, a dolorosa tarefa de acudir e transportar muita gente ferida nesse combate memorável e de tão amarga recordação... Alguns morreram... Num dado momento, quando eu transportava os feridos, chegou-se a mim um soldado de São Paulo. Estava com medo e disse sentir imensas saudades de sua família e querer ir embora. Gaguejando, angustiado, rogou-me: “Seu Alcides, o senhor poderia me deitar junto com os feridos e levar-me?” Titubeei na minha consciência, tive pena do soldado, ao mesmo tempo, não podia me comprometer, assim, respondi: “Não! Eu não posso fazer isso!” E reiniciei meus afazeres. Nem bem tinha virado-lhe as costas, ouvi uma detonação, pois é... o soldado deu um tiro no seu próprio pé, então, não tive outro jeito, carreguei-o acomodando-o entre os feridos e... Trazendo-o!”...
(Alcides de Oliveira – Voluntário)
Terça-feira, 16 de Julho de 1932
É grande o entusiasmo que se nota em Itapira, bem como em todo o Estado. De toda parte surgem novas adesões ao sagrado movimento e, os batalhões patrióticos enchem-se de novos voluntários.
É o que se observa em Itapira, onde, desde o dia em que circulou a notícia do movimento revolucionário, continua sempre o mesmo estado de ânimo, em dedicar, casa um dos seus habitantes, o melhor dos seus esforços, em prol do triunfo da causa abraçada, que é considerada das mais santas que até hoje se tem procurado defender no país. São Paulo, neste momento, sente-se bem o irmão abenedado que oferece o seu sangue pela rendição do Brasil.
E Itapira com a sua alma verdadeiramente paulista, demonstrou o reconhecimento da parte que lhe toca, nesse grande empreendimento, assumido pelo povo paulista. Assim é que o alistamento na cidade continua sempre animado e os comícios sucedem-se dia após dia.
Chegou neste dia a Caravana Cívica que corre o interior do Estado de São Paulo em propaganda do movimento. Compõe-se ela de homens de grande valor intelectual, notável ardor cívico e oradores muito conceituados.
Dela fazem parte o Dr. Vicente de Azevedo, promotor público da capital; Dr. Fabio de Camargo Aranha, conhecido advogado nos auditórios na capital; Dr. Boaventura Nogueira da Silva, advogado e jornalista também na capital; e o coronel Cianciulli, ex-comandante do Batalhão de Bombeiros da Força Pública.
A cidade aguardava ansiosa, a chegada da caravana que viria trazer à Itapira a sua palavra cheia de patriotismo, de brasilidade e de fé na "sagrada" causa porque se batem os paulistas.
Ao meio dia, a corporação musical começou a tocar, e ao aviso expedido pela sede da Comissão Revolucionária, instalada à Agência Chevrolet, apareceu uma grande massa popular à Praça da Matriz onde deveria realizar-se o comício.
Os caravanistas, que haviam acabado de chegar, preferiram marcar o comício para algumas horas mais tarde, de modo a permitir maior divulgação do convite feito à população e conseqüentemente, maior a afluência de gente – o Dr. Alcides Faro, então Juiz de Direito da Comarca, subiu ao coreto e apresentou ao povo de Itapira os membros da Caravana Cívica e em nome desta convidou o povo a comparecer no mesmo local, às 14h.
E assim, à hora indicada, um grande número de pessoas, após o concerto da Banda de Música das senhoras, e desfile de parte das forças que aqui se encontravam acantoadas, iniciou-se o comício, usando da palavra, em primeiro lugar, o Dr. Vicente de Azevedo, que produziu um belíssimo discurso, sendo calorosamente aplaudido.
Falaram em seguida os Drs. Fabio de Camargo Aranha e Boaventura Nogueira da Silva, que seguido pelo orador que os havia precedido, faziam um apelo ao povo de Itapira para que cerrasse fileira com os revolucionários, na defesa dos "nobres intuitos" do povo paulista. Encerrando o comício, usou então da palavra o Comandante Cianciulli, que fazendo também uma brilhante alocução, despedia-se de Itapira, de cujo povo, levaria uma ótima impressão. Terminado o discurso do Comandante Cianciulli que, como os anteriormente proferidos, foi vibrantemente aplaudido, entoou-se a canção do Soldado Paulista com o concurso de todos os elementos presentes, autoridades, caravanistas, senhoras e senhorinhas, soldados, comerciantes e gente do povo.
Na quarta-feira, dia 17 de Julho, jornais começaram a divulgar que Itapira se organizava para enfrentar com toda a força a batalha contra os exércitos federalistas que, depois de haver enfrentado um Batalhão paulista em Pouso Alegre, já se encontravam a postos a cerca de 180 km de Itapira, em Minas Gerais.
“DO INTERIOR, ITAPIRA – Partido Democrático Itapira reunião hoje nomeou seu presidente João Ribeiro, para, em harmonia frente única, tomar medidas tendentes interesses defesa movimento revolucionário constitucionalista. – Dr. José Secchi, secretário.”
JORNAL A COMARCA - Mogi - Mirim, Domingo, 17 de Julho de 1932
Como forma de prevenção, a Prefeitura Municipal decidiu unificar os preços de alguns alimentos comercializados em mercearias e vendas por toda a cidade, também restringiu o número de unidades que as famílias deveriam comprar. Do jornal Cidade de Itapira:
“ABASTECIMENTO LOCAL - De conformidade com as ordens recebidas e com as circunstâncias excepcionais que atravessamos, o Sr. Major João Manoel Pereira de Oliveira, Prefeito Municipal local, fez levantar a lista dos estoques das mercadorias do município e que constituem gêneros de primeira necessidade, ao lado dos preços porque eram vendidos no dia 8 do corrente.
De posso dessa lista, s.s.organizou uma tabela de preços, pela média dos que lhe foram fornecidos, e convocou uma reunião do comércio para melhor estudar a tabela.Como, porém, não houvessem comparecido à reunião marcada para ontem, às 12h, s.s. resolveu que os preços para vendas a dinheiro, deverão obedecer à lista abaixo, sob pena de multas previstas.
Outrosim, como seja bastante pequeno o estoque total, aqui existente, aconselha os srs. Negociantes a não efetuarem vendas de grande vulto, afim de que ninguém sofra privações.
A seguinte tabela vigorará até aviso em contrário:
Feijão Litro $300
Querozene Litro 1$500
Arroz 1ª. Litro $800
Carne Seca KG 2$500
Arroz 2ª. Litro $700
Bacalhau KG 3$000
Arroz 3ª. Litro $600
Macarrão KG 1$200
Arroz 4ª. Litro $500
Óleo Salada KG 3$00
Açúcar Refinado KG 1$000
Maça Tomate Nacional KG 5$000
Açúcar Redondo KG $800
Maça Tomate Ext. KG 8$500
Açúcar Mascavo KG $700
Vela Rio Branco Maço 2$000
Sal KG $300
Café em Frão KG 1$000
Batatinha KG $500
Café em Pó KG 1$800
Farinha de Trigo KG 1$000
Sóda Cáustica Ext. KG 2$500
Banha em Lata KG 3$000
Sóda Cáustica Nacional KG 2$000
Banha a Granél KG 3$600
Manteiga KG 10$000
Óleo "Sol levante" KG 3$200
Manteiga 2ª. KG 8$800
Milho Litro $200
Maisena Pacote 1$000
Cebola KG 1$000
Queijo Fresco KG 2$500
Farinha de Milho Litro $200
Queijo Curado KG 5$000
Farinha de Mandioca Litro $300
Vassoura KG 2$500
Gasolina Litro 1$370
A Prefeitura usou de todos os meios possíveis para conseguir o maior número de alistamentos possível. Desde a idade mínima de 15 anos, até a divulgação nos jornais, de um pedido aos negros itapirenses:
UM APELO AOS NEGROS DE ITAPIRA - O Sr. Dr. Delegado de Polícia acaba de receber o seguinte telegrama: “De ordem chefe de polícia ficais autorizado requisitar passe estradas de ferro para todos os homens de cor, de preferência reservistas, que queiram alistar-se Legião Negros de São Paulo sob domínio capitão Gastão Goulart designado pelo Sr. General comandante forças constitucionalistas. Os voluntários devem ser encaminhados quartel situado alameda Eduardo Prado Nº sessenta e nove Capital.”.
Lei, conspurcadas por uma ditadura corrupta e agonizante, no momento em que todos, homens, paulistas e não paulistas, se irmanam no sagrado anseio pela constituição e a ordem, cabe aqui o nosso apelo aos negros de Itapira para que, secundando o gesto altamente patriótico de seus companheiros de São Paulo, ofereçam os seus serviços à grande causa nacional.
A raça negra que tem cooperado na formação e no engrandecimento da pátria brasileira, e de cujo heroísmo nos falam as páginas vibrantes da nossa história, não há de faltam nesta hora solene em que São Paulo de pé, de armas na mão, luta pela felicidade de todos os brasileiros;
Assim, pois, todos os negros de Itapira que desejarem combater pela nossa causa, só terão que procurar o Sr. Dr. Delegado de Polícia, que os encaminhará ao quartel competente em São Paulo.
Às armas, pela glória de São Paulo e do Brasil!
JORNAL CIDADE DE ITAPIRA - Número 1.744 - Domingo, 17 de Julho de 1932
Devido a toda essa tensão instaurada na cidade, muitos dos eventos populares foram suspensos, como se vê nesta nota encontrada no jornal Cidade de Itapira:
“FUTEBOL - A diretoria do Itapira Futebol Club resolveu, devido à situação anormal que atravessamos, suspender o jogo entre o nosso quadro representativo com o A. A. Mogyana, de Mogy-Mirim, ficando para outra ocasião que será oportunamente avisada.
Pela Diretoria do I.F.C.
Dr. Anisio Simões – Sec. Geral”
JORNAL CIDADE DE ITAPIRA - Número 1.744 - Domingo, 17 de Julho de 1932
VOLUNTÁRIOS ITAPIRENSES
Logo nos primeiros dias da Revolução, Itapira já entregava para a causa Paulista a sua primeira leva de patrióticos soldados da constituição, de várias idades ou classes sociais. Os nomes desses voluntários de Itapira, como aliás todos os outros bravos soldados que lutaram nesta Guerra Civil, devem ser guardados e relembrados por todos os livros que contam a história de nosso país. Todos completamente conscientes de que lutavam por uma causa justa, por um país livre, mas também, de que lutavam contra seus próprios irmãos, porque também eram brasileiros os seus adversários, não hesitaram um só instante e acorreram prontamente ao apelo de São Paulo, pela “salvação do Brasil”.
Afinal, contra a razão e contra a justiça de uma causa, - pensavam os paulistas - não há força que prevaleça! Porque, segundo os paulistas, era uma luta pelo bem contra o mal.
Os jovens voluntários Itapirenses até esta data eram:
- Francisco da Cunha Ribeiro
- Bento Geraldo Pereira da Cruz
- Francisco da Rocha Pereira
- Arsenio Bianchi
- Thimotheo Rocha
- Bento Lupercio Pereira da Silva
- Adolpho da Fonseca Filho
- Decio Bueno
- Francisco Salles Rocha
- Olavo Pereira da Silva
- Jacys de Oliveira Pereira
- Agenor Aguiar
- Jacinto da Fonseca Pinto
- Fidêncio de Almeida Trigo
- Adelelmo Witter
- Jorge Wittier
- Albionte Millan
- Luiz Soares Alvarenga
- José Cintra de Oliveira
- Alexandre Pinto de Barros
- Wenceslau Ribeiro Miranda
- José Martins Vianna
- José Francisco dos Reis
- Oscar Pires de Oliveira
- Maximiano Pereira de O. Netto
- Oluntho Meirelles de A. Souza
Além desses nomes, outros jovens de Itapira que residiam fora, atenderam ao chamado da “Pátria ansiosa por liberdade”.
São eles:
- José Norberto da Fonseca
- Geraldo Quartim Barboza
- Oswaldo Leme Barboza
- Dr. Paulo Vieira
- Dr. Joaquim Vieira Filho
- Francisco Vieira Filho
- Walter Velho
- Francisco Magalhães
- Mario Magalhães
- Abilio Magalhães
- João Baptista Magalhães
- Dauro Ferreira Cintra
- Francisco Ferreira Cintra
Assim noticiou a Cidade de Itapira:
A PARTIDA DOS BRAVOS ITAPIRENSES - O movimento revolucionário constitucional não adormeceu no coração de nossos bravos rapazes e bem ao contrário, falou alto ao seu brio de cidadões paulistas.
Desde o inicio do movimento em S. Paulo, os denodados conterrâneos: Adolpho Fonseca Filho, Francisco da Cunha Ribeiro, Arsenio Bianchi, Bento Geraldo Pereira da Cruz, Bento Lupercio Pereira, Fidencio Trigo, Olavo e Jacyr Pereira, Luiz Delfino de Alvarenga, Agenor Aguiar, Francisco da Rocha Pereira, José Cintra de Oliveira, Olyntho de Azevedo e Souza, Macimiano de Oliveira Netto, Adelelmo Witter, Albionte Milan, Jacyntho da Fonseca Pinto, José Norberto da Fonseca e outros, já se preparavam para auxiliar o governo paulista na defesa da grande causa nacional; o levantamento da lei e da liberdade, por conseguinte a restauração das garantias do cidadão brasileiro.
Quarta-feira, às 19h30 horas, um grupo de senhorinhas empunhando bandeiras de São Paulo e do Brasil, percorreu as principais ruas da cidade entoando hinos, erguendo “Vivas”.
Entrementes, fizeram-se ouvir diversos oradores: - Cap. João Ribeiro Pereira da Cruz, senhorinha Nazareth Ferreira Alves, Dr. Alcides da Silveira Faro, Dr. Theodoro Quartim Barbosa e Francisco da Cunha Ribeiro.
As últimas palavras de cada orador seguia-se ruidosa salva de palmas.
A oração do acadêmico Francisco da Cunha Ribeiro empolgou sobremodo a mocidade itapirense, tal o entusiasmo leal e sincero que resaltava de suas palavras vibrantes, a convidar seus amigos e conterrâneos a atender o apelo de São Paulo e a participar consigo ao campo de luta para a reconquista da liberdade política, econônica e moral.
Efetivamente; no dia seguinte às 15h, a população de Itapira se deslocava para a “gare” da Mogyana em homenagem à garbosa comitiva que partia.
Belos rapazes! Valentes soldados! Ostentavam nos lábios um sorriso e no cérebro o propósito firme, imutável, coerente de lutar por São Paulo até o “último cartucho”.
“Morrer, mil vezes, que um viver de escravos!”
JORNAL CIDADE DE ITAPIRA - Número 1.744 - Domingo, 17 de Julho de 1932
Organizou-se a comissão de alistamento de voluntários, composta por: Estulano Pereira da Cruz, Dr. Henrique Warne e Cyro de Campos Vergueiiro.
Também foi fundada a Cruz Vermelha de Itapira, ao mesmo tempo em que era aberta grande lista de donativos destinados á aquisição de capacetes de aço e a agência local do Banco Comercial do Estado de São Paulo iniciava o recebimento de ouro para a campanha do Ouro para a Vitória.
Infelizmente, algumas pessoas usaram de muita má fé, aproveitando de toda empolgação e o empenho da população para o bem da Campanha Revolucionária. Há relatos de que um homem, muito bem aparentado, vestido da melhor maneira, com seu terno de fino corte e que nunca antes tinha sido visto por essas bandas, apresentava-se para as pessoas de Itapira, em nome do Governo. Recebendo em algumas casas o ouro para a campanha.
Mesmo a campanha do ouro tento uma sede própria no centro da cidade, algumas pessoas entregaram com a melhor das vontades algumas jóias para esse senhor, que, depois de poucos dias desapareceu da cidade. Há também, relatos em Mogi Mirim sobre um homem com as mesmas características, que executou o mesmo crime naquela cidade e depois simplesmente desapareceu tão repentinamente como surgiu.
Durante todo o final do mês de Julho, Itapira recebeu um grande número de soldados vindos de várias cidades da região e outros lugares do Estado de São Paulo. Sempre que o trem chegava com mais e mais soldados voluntários e da força pública, a cidade festejava sua chegada, com uma grande recepção. Por toda Itapira, havia bandeirinhas, flores enfeitando as residências, as sacadas, os postes e fitas com as cores da bandeira paulista.
Os soldados, também muito animados com toda a recepção, em troca, distribuíam balas soltas ou às vezes até pentes com algumas balas.
No final do mês, com as batalhas se intensificando mais e mais, e o exército constitucional, resistindo com grande dificuldade, afinal, não devemos esquecer de que São Paulo entrou na guerra apenas com o contingente bélico que possuía em seus quartéis, delegacias e prefeituras; contra o exército federalista, tendo praticamente infinita reposição de munições e soldados.
Devido a essa dificuldade, a Prefeitura impôs um decreto, exigindo que a população devolvesse toda a munição distribuída pelos soldados durante o mês de Julho:
AO POVO DE ITAPIRA - O Delegado Técnico desta Cidade, informado que existem esparsos nesta cidade grande número de pentes, balas e outras munições, que os nossos voluntários distribuíram como lembrança, vem rogar a todas essas pessoas, que tão generoso acolhimento dispensaram aos mesmos, o sacrifício de entregar a esta Delegacia Técnica, todas essas provas da boa acolhida dispensada à nossa valorosa tropa.
Assim, pois, espera-se a devolução e entrega de todas essas munições na sede da nossa Delegacia Técnica, na Prefeitura Municipal.
Itapira, 30 de Julho de 1932
VISTO
(a)Major Dacio A. de Moraes
Delegado Técnico de Itapira
Talvez, para evitar futuros transtornos, saques ou qualquer outro ato de violência, a Prefeitura também decretou que se declarasse a posse de toda e qualquer arma de fogo:
ARMAS E MUNIÇÕES - Carabinas Winchester, calibre 44 - De ordem do Governo do Estado, ficam os Comerciantes, Oficinas, Empresas de Transportes e Particulares, obrigados a declarar à Delegacia Técnica desta cidade, na Prefeitura Municipal, a existência de Carabinas Winchester, calibre 44 e respectivas munições.
Na zona rural, os prepostos dos proprietários ficam obrigados à esta declaração na ausência destes.
Itapira, 30 de Julho de 1932.
VISTO
(a) Major Dacio A. de Moraes
Delegado Técnico de Itapira
Para a semana de 07 a 14 do corrente, sobre gêneros alimentícios, conforme a lista ao lado.
Aos infratores será aplicada a pena de fechamento sumário de seus estabelecimentos.
Itapira, 7 de Julho de 1932,
O Prefeito
Manoel Pereira de Oliveira
O Delegado Técnico
Major Dacio A.de Morais
Arroz Especial Litro $800
Açúcar Filtrado Especial KG 1$100
Arroz Bica Corrida Bom Litro $700
Açúcar Filtrado de 1ª. KG 1$000
Arroz Bica Corrida 2ª. Litro $600
Açúcar Moído KG $900
Meio Arroz Litro $500
Sal KG $300
Feijão Novo Litro $300
Macarrão KG 1$200
Feijão Velho Litro $200
Óleo Salada KG 3$300
Farinha de Trigo de 1ª. Litro 1$050
Óleo Sol Levante KG 3$300
Farinha de Trigo de 2ª. Litro $950
Manteiga Fresca KG 8$000
Farinha de Trigo de 3ª. Litro $800
Cebola KG 1$500
Farinha de Milho Litro $200
Batatinha KG $500
Fubá Litro $200
Farinha Maisena Pacote KG 1$000
Açúcar Mascavo KG $800
Massa de Tomate Lata 1/8 KG 1$300
Açúcar Redondo KG $900