Em meio a inúmeros escândalos como as obras da Copa, compra da refinaria de Pasadena, Mais Médicos, porto de Cuba etc., eis que surge uma pesquisa produzida por um Instituto do governo, oportunamente, para mudar o foco das atenções. Inclusive, para justificar os recentes casos de abusos sexuais em trens e metros de São Paulo que estavam aparecendo na mídia. Coincidência?
A pesquisa de percepção sobre a violência contra a mulher divulgada recentemente pelo Instituto de Pesquisa Econômica Aplicada (Ipea) gerou grande repercussão ao concluir que 63% dos brasileiros concordavam com a frase “Mulheres que usam roupas que mostram o corpo merecem ser atacadas”. Mas era mentira. Um equívoco de quase 40 pontos percentuais.
A constatação dos graves erros cometidos no levantamento sobre a violência contra a mulher nos revela, nitidamente, o interesse do órgão em subsidiar o governo na manipulação da opinião pública. Um lobby para impressionar a imprensa nacional e internacional, forjar campanhas e desfocar a ineficiência do Estado, que covardemente insiste em jogar a culpa da falta de segurança pública em seus cidadãos.
Não é a primeira vez que o IPEA solta uma pesquisa suspeita e com graves falhas de metodologia. Há pouco tempo divulgou um levantamento concluindo que negros eram mortos só porque eram negros. Outros dois estudos divulgados em 2013 pelo mesmo Instituto sobre armas de fogo no Brasil apresentam, abertamente, o interesse do órgão em subsidiar a Política de Desarmamento do governo federal. O estudo “Mapa das Armas de Fogo nas Microrregiões Brasileiras” e o “Impactos do Estatuto do Desarmamento Sobre a Demanda Pessoal de Arma de Fogo” são exemplos claros de dados meticulosamente manipulados para tentar provar a tese de que o número de armas de fogo tem relação objetiva com o índice de homicídios.
O esforço conceitual para atrelar o número de homicídios à posse de arma de fogo tem sido a principal atividade do órgão, em seus estudos sobre segurança pública. Durante apresentação do Mapa das Armas de Fogo nas Microrregiões Brasileiras, no Rio de Janeiro, Daniel Cerqueira, diretor de Estudos e Políticas do Estado, das Instituições e da Democracia (Diest/Ipea), afirmou, categoricamente, que “a taxa de homicídio no Brasil é de 26 por cem mil habitantes, porém esse número poderia estar em torno de 13, não fosse a corrida armamentista dos anos 90”. Conforme o órgão, maior controle, menor número de homicídios. Não foi o que aconteceu, tendo, ao contrário, apresentado crescimento de 15,1% entre 2000 e 2011 (período em que foi implantado o Estatuto do Desarmamento no país). Os dados são do Mapa da Violência 2013, editado pelo Centro Brasileiro de Estudos Latino Americanos.
Outra questão relevante e que merece esclarecimento é o fato dos dados estatísticos sobre a distribuição e prevalência de armas de fogo presentes em um dos estudos serem retirados do SIM/Datasus. A prevalência das armas de fogo no Brasil é controlada pelo Sistema Nacional de Armas (Sinarm), da Polícia Federal, sendo esse o único órgão com essa competência. Já o SIM/Datasus é o sistema do Ministério da Saúde que armazena dados de mortes registradas na rede pública.
Sendo assim, mais uma vez, pudemos ver que as pesquisas deste Instituto não representam a realidade e, tão pouco, tem um compromisso sério com a análise dos temas. Um órgão que se vale da missão de instruir o conhecimento pela metodologia científica não pode favorecer bases ideológicas para construção de um discurso falacioso. O brasileiro não merece ser enganado pelo IPEA, para isso já contamos com as promessas políticas em um ano eleitoral.
*Bene Barbosa é especialista em segurança pública e presidente do Movimento Viva Brasil.
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