A dona de casa E. procurou na tarde de quinta-feira a redação do jornal A Cidade para relatar um episódio que joga um facho de luz num problema que, segundo relatos velados de muitos educadores, vem se tornando uma constância na maioria das escolas estaduais : casos de agressão entre estudantes, principalmente meninas. Ela relatou que a filha L., de 15 anos, vinha sendo alvo de sérias ameaças por parte de uma colega de classe do 1º ano C da Escola Antonio Caio. Contou que diante daquilo que definiu como falta de ação efetiva da direção da escola, decidiu tornar o caso público.
Na presença da menina e de uma prima que reside perto da referida escola, contou que no dia 27 de agosto, L. teve uma discussão com K., que é filha de um dos representantes da população com assento na atual legislatura da Câmara Municipal. De acordo com a mãe de uma outra menina, R., tomou as dores de K. e partiu para cima de L. “Ela fez graves ameaças a minha filha, prometendo desfigurar o rosto dela”, descreveu.
O caso acabou parando na diretoria, onde as tentativas de agressão teriam continuado, tendo até mesmo a diretora da escola, conforme um Termo de Declaração feito no Conselho Tutelar pela mãe, sido agredida pela aluna K. “Por causa disso ela acabou recebendo suspensão de três dias. Depois que voltou da suspensão K. começou a ameaçar novamente minha filha. Minha indignação vem daí. Como pode uma escola manter na mesma classe duas estudantes nesta situação. Minha filha vai lá para estudar e não para ser ameaçada de morte”, protestou a mãe.
Por causa disso ela decidiu procurar o Conselho Tutelar e relatar o caso. Teria recebido orientação para registrar um Boletim de Ocorrência, que não foi feito na quinta-feira porque a DEPOL local estava com seu sistema digital fora do ar. E. disse que estava disposta a entrar com uma ação contra o Estado. “Se o governo não pode garantir a segurança de minha filha numa escola sob seus cuidados, então que me garanta recursos para que eu possa colocá-la numa escola particular”, ameaçou.
No termo de declaração que elaborou no Conselho Tutelar, a mãe alega que a desafeta da filha já tinha histórico de mau comportamento com transferência de escola devido ao seu comportamento antissocial e faz ilações de que K. seria usuária de drogas.
“Pegando fogo”
A Conselheira Tutelar Andresa Magyori de Mattos confirmou que atendeu a mãe da menina. Ela explicou que o Conselho tem que ter uma conduta de isenção em casos como este, atuando para assegurar a proteção e os direitos de L. sem tolir os direitos de K. A Conselheira disse que K., apesar do seu histórico de problemas no relacionamento com outras colegas, também tem sua situação resguardada por direitos assegurados pela legislação o que, segundo ainda Andresa, não implica que não deva responder por algo de errado que tenha cometido. Segundo seu raciocínio, a menina também é uma vítima da sociedade. O caso da garota, segundo revelou, vinha tendo acompanhamento psicológico por intermédio do Serviço de Promoção Social do Município.
Indagada se casos como este têm sido muito frequente, Andresa disse que as escolas estão pegando fogo, numa alusão ao aumento do número de relatos de agressões entre estudantes na rede estadual de ensino. “Impressionante que a maioria dos casos envolve meninas”, revelou.
O outro lado
Por intermédio da assessoria de comunicação da Secretaria de Estado da Educação, a Direção de Ensino de Mogi Mirim se pronunciou sobre o assunto. Segundo foi explicado, os pais das meninas envolvidas foram convocados pela escola e que as estudantes estavam sendo acompanhadas pelo professor mediador da escola. Foi confirmado que K. possui histórico de problemas com transferência de outras escolas. Sobre a disposição da mãe em processar o Estado, a assessoria de comunicação informou que direção da Escola Antonio Caio se dispõe a colocar as estudantes em salas separadas se assim a mãe de L. preferir. Questionada sobre a reincidência deste tipo de desinteligência nas escolas da cidade, a assessoria de comunicação informou que existem casos pontuais como esse, negando haver um processo epidêmico nas escolas como alguns depoimentos dão a entender.
Comentários, artigos e outras opiniões de colaboradores e articulistas não refletem necessariamente o pensamento do site, sendo de única e total responsabilidade de seus autores.