Nesta semana acaba o período de férias dos estudantes da rede particular. Há duas semanas foi a rede pública quem retornou ao batente. Uma consequência prática do efeito deste fenômeno é sentido na pele pelo comerciante Luciano Ferez, 36 anos, um paulistano radicado na cidade, mais especificamente no jardim Bonfim, onde mora há 11 anos.
Ferez , melhor dizendo, Bin Laden, apelido que ganhou por causa de um adesivo que levava em seu veículo reproduzindo uma imagem que se assemelhava ao finado líder da rede terrorista Al Qaeda, talvez seja o nome mais em evidência na cidade quando o assunto são pipas e maranhão. E faz por merecer. Em sua residência na rua Heitor Soares, tem um sortimento não somente de pipas feitas, mas com tudo aquilo que cerca sua confecção.
Antes de se dedicar a este tipo de comércio, era conferente logístico. Problemas familiares e a percepção de que vender pipas poderia ser um negócio lucrativo o levaram a deixar a antiga profissão. Pesou em sua decisão uma certa intimidade com o assunto. “Quando morava em São Paulo gostava de soltar pipas. Certa vez trouxe muitas delas para casa e a garotada via e me perguntava se eu não vendia. Comecei fazendo uma experiência inicial e me surpreendi com a receptividade. Depois virou negócio de verdade”, relembra.
Ele visita regularmente os principais fornecedores destes acessórios em São Paulo, onde consegue preços competitivos para sua revenda. “Adquiro linhas, carretéis, folhas, varetas, folhas diversas, rabiolas e pipas prontas”, informou. Em sua casa se dá ao luxo de ter um equipamento que tira a linha do carretel e a enrola em cones ou carretilhas numa questão de minutos. Tem artigos com preço a partir de R$ 0,50. Conforme o modelo e o tamanho, o artigo pode custar até R$ 3,50, quando exposto em sua loja. Quando se trata de encomendas específicas, aí tem que negociar o preço. “Tem que ver o material, o tamanho, tudo isso tem um custo específico”, ensina.
Na parede e no teto de sua loja, é possível ver pipas feitas de forma artesanal, com pinturas sugestivas. “É puro artesanato. Deixo aqui de exposição e se alguém quiser um modelo exclusivo – algo comum de acontecer – faço a encomenda”, revela. Ele explica que o “maranhão” é mais simples do que a pipa, porque o primeiro leva apenas duas varetas, enquanto que a pipa leva três delas.
Indagado a respeito do impacto que o final das férias causa ao seu negócio, afirma que a demanda cai bastante, mas que ainda assim existe uma procura uniforme ao longo do ano, com a qual ele se mantém. Disse que está em conversação com outros colegas da região para criar formas de popularizar a atividade ao longo do ano todo. “É uma atividade que entre outras coisas serve para tirar as crianças da frente do computador, do videogame, sem falar no fato de que preenche o tempo da garotada com uma coisa saudável”, avalia.
Bin Laden conta ainda que muitas vezes é requisitado para falar de sua arte em encontros comunitários. “Fico orgulhoso de poder falar de minha atividade, exatamente porque ela diz respeito ao universo infantil”.
Cerol
Bin Laden também foi questionado sobre o uso do cerol - recurso no qual mistura-se cola e vidro moído na linha - por parte da garotada e afirmou que procura sempre orientar aos praticantes para que não usem o material. “Sempre falo do risco que o cerol oferece a quem pilota moto, ou até quem está andando de bicicleta. Mas seria hipocrisia achar que seu uso é pouco difundido. A maioria usa. Talvez pela sensação de competição que envolve a soltura das pipas e dos maranhões, uma espécie de combate onde os antagonistas se sentem vencedores quando derrubam o equipamento do outro”, opina.
Comentários, artigos e outras opiniões de colaboradores e articulistas não refletem necessariamente o pensamento do site, sendo de única e total responsabilidade de seus autores.