A dona de casa Magarete dos Santos Oliveira levou um susto na semana passada quando foi comprar sua marca de leite preferida. O produto tinha aumentado exatos R$0,40 o litro, de R$ 2,25 para R$ 2,65. “Levei um susto. Não parece muito, mas se colocar na ponta do lápis vai pesar no fim do mês”, lamentou.
A costureira industrial Izaura Rodrigues Alione relatou um caso oposto. “Notei que alguns dos produtos que uso muito no dia-a-dia como feijão, batata e cenoura caíram bastante de preço”, disse feliz da vida.
Este tipo de constatação tem passado no radar da maioria dos consumidores que não conseguem entender bem o que está acontecendo. Renato Zeferino, do setor de compras do Supermercado Cubatão, disse que nem só de fatores sazonais como a atual estiagem determinam o comportamento dos preços. Ele relatou que a alta do leite tem sua justificativa na estiagem e que eventuais casos de uma oferta mais ampla do que normalmente ocorre - como o caso do feijão - ajudam a entender o antagonismo dos casos relatados, mas fez uma observação de que até fatores geopolíticos influenciam na formação dos preços, avisando que o preço da carne vai subir bastante.
Ele conta que o recente imbróglio envolvendo Estados Unidos, União Europeia e a Rússia - os dois primeiros determinaram por conta dos conflitos registrados na Ucrânia impor sanções comerciais contra a Rússia e este último, para retaliar, decidiu suspender importações dos outros países com os quais está em litígio - trouxe como resultado prático a seleção de dezenas de frigoríficos e abatedouros de aves em todo o Brasil para exportação de carne. “A carne de vaca já tinha subido em média 20%, a carne de porco cerca de 12% e os abatedouros de ave estão falando em aumento também de 20%”, entregou.
Com relação ao leite informou que é comum neste período buscar outras marcas que tenham um preço menor. “Negociamos desta forma para que principalmente o consumidor de menor poder aquisitivo tenha como se defender da alta”, mencionou.
O colega Adilson Delalana, do Supermercado Delalana, outro estabelecimento forte na venda de carne,confirmou que a negociação com os fornecedores de carne tem sido difícil. “Não vai ter como segurar”, adiantou. Ele diz que este estado de coisas não é bom para ninguém. “A verdade é que os preços já estão elevados para o padrão de consumo da maioria das pessoas. A tendência, a continuar esta pressão sobre os preços, é pela diminuição do consumo, algo desastroso para todos nós”, recrimina.
O reflexo do repasse do preço só não deve chegar aos pescados, segundo José Marcos Pádua,psicultor e presidente da ASPEI (Associação dos Psicultores de Itapira). Segundo ele, o preço do pescado já está elevado para os padrões atuais. “Um quilo de filé de tilápia já custa R$ 20. Subir mais que jeito?”, questiona. O vilão nesta história segundo ele pode ser a estiagem. “Muitos criadores de locais tradicionais como o norte deSão Paulo e no entorno da represa de Furnas, em Minas Gerais, estão passando apuros por causa da seca”, afrimou.
O representante comercial da marca de leite Mococa, Fábio Zavarizze, de Mogi Mirim, informouque pelo menos nos próximos 60 dias o preço do produto terá viés de elevação. “Além da seca aqui no sudeste, teve muita chuva na região sul. Isso tudo somado ao preço reprimido de quem produz, cria um cenário onde fica impossível enxergar a curto prazo queda no preço”, afirmou.
O produtor José Francisco Miotto Torres, do Sítio 3 Barras, em Eleutério, avisa que está faltando leite no mercado. “A indústria tem tido dificuldade de encontrar produto e a alta é inevitável”, informou. Ele revela que o produtor tem vendido o leite para a indústria em média por R$ 0,95 e briga por pelo menos R$ 1,15. Segundo ele o custo de produção tem aumentado muito e em período de estiagem os preços explodem. “A corda vai arrebentar do lado do consumidor. Não tem jeito”, raciocina.
Super safra
Com relação ao feijão, o IBGE (Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística) calcula que o preço do feijão carioca caiu em média até 40% nos últimos três meses.Nos supermercados esta queda já é perceptível também em outras variedades. O cerealista Zoroastro Marcos Viola, 65, com 40 anos de atuação no ramo, afirmou que houve uma super safra do produto nos estados da região norte e que isso vem derrubando os preços também no varejo. “É uma tendência que deve se estabilizar dentro de mais alguns dias”, avalia.
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