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26/05/2014 | Conselho rejeita implantação da Escola em Tempo Integral no Cândido de Moura

Em votação realizada na noite da última quarta-feira, 21, a maioria do Conselho de Educação da Escola Es­tadual Professor Cândido de Moura rejeitou a proposta de implantação do Projeto Escola de Tempo Integral da Secretaria Estadual de Edu­cação. Com 18 votos contra e 12 a favor da implantação, a unidade escolar localizada no bairro Jardim Raquel perdeu a oportunidade de receber um modelo diferenciado de ensino para alunos do 6º ao 9º ano do Ensino Fundamental.

Segundo nota enviada pela diretora do Cândido, Luci Aparecida Viola Cruz, a escola foi pré-selecionada para participar do projeto a partir de 2015. “Assim que tomei conhecimento através de memorando que a escola tinha sido selecionada, parti­cipei de reuniões para saber mais sobre o processo, onde tomei conhecimento que os estudantes que já frequentam a escola têm matrícula reno­vada, automaticamente, uma vez confirmado o interesse em continuar na unidade. Nos casos pontuais de alunos que não podem permanecer em tempo integral, será feito o deslocamento de matrí­cula para uma escola mais próxima”, explica a diretora no documento.

O projeto do governo estadual foi implantado em 2012 em 16 escolas de Ensino Médio e foi amplia­do em 2013, atingindo ou­tras 53 unidades do Ensino Fundamental. Neste ano, o programa foi novamente expandido, alcançando um total de 182 escolas, be­neficiando cerca de 50 mil alunos. Em todas as cidades onde foi implantada, a Escola de Tempo Integral tem sido aprovada e elogiada por pais, alunos, professores e pela comunidade em geral que notam a melhoria no aprendizado do aluno.

De acordo com a nota enviada pela diretora e tam­bém com o texto que consta no site oficial da Secretaria Estadual de Educação, nes­te modelo educacional, a jornada no Ensino Funda­mental é de oito horas e meia e com três refeições diárias. Salas temáticas de português, história, arte e geografia e também sa­las de leitura e informáti­ca compõem a estrutura. “Na matriz curricular, os alunos terão orientação de estudos, prática de ciências, preparação acadêmica e para o mundo do trabalho e auxílio na elaboração de um projeto de vida, que consiste em um plano para o seu futuro. Além das disciplinas obrigatórias, os estudantes contam também com dis­ciplinas eletivas, que são escolhidas de acordo com seu objetivo”, informam os textos. Em relação à situação dos professores, em nota, a escola Cândido informou que “Os professores que aderissem a Escola Integral teriam regime de dedicação exclusiva totalizando 40 horas semanais e, para isso, receberiam gratificação de 75% sobre o salário-base”. 

Entre as cidades que compõem a Diretoria de Ensino de Mogi Mirim, ape­nas cinco conta com o modelo implantado, sendo duas em Mogi Guaçu, uma em Mogi Mirim, uma em Pedreira e uma em Águas de Lindóia. Em todas elas destacam-se o método de ensino diferenciado e que une teoria e prática. Na Escola Estadual ”Doutor Francisco Tozzi”, de Águas de Lindóia, um dos projetos desenvolvidos envolveu alunos skatistas e aspirantes a engenheiros e resultou na construção de uma pista de skate. Surgido dentro das disciplinas eletivas de português e matemática, a ação envolveu um gran­de número de alunos que, através de um objetivo em comum, passaram a ter mais contato com as áreas de Matemática, Engenharia, Física, Português e Arte. 

A diretora Luci Cruz, da Escola Cândido, explicou que todos os pais, alunos, docentes, funcionários e comunidade em geral foram convidados para participar da exposição do projeto feita pela dirigente regional de ensino Elin de Freitas Monte Claro Vasconcellos e por seus supervisores. “Na oportu­nidade, todos os presentes tiveram a oportunidade de tirar as suas dúvidas, que foram sanadas pela equipe da dirigente”, afirmou Luci.

Apesar de todos os be­nefícios, em especial para a comunidade do bairro Jar­dim Raquel, que é marcada por diversos problemas de âmbito social, 18 dos 30 componentes do Conselho de Educação decidiram pela não implantação no projeto. Deste modo, o Cândido de Moura não terá o modelo implantado para o próximo ano e novas oportunidades de seleção são incertas. Essa é a segunda vez que há a negativa para a im­plantação do programa naquela unidade, sendo que a primeira dela ocorreu em 2012, também por negativa da maioria dos votantes.

Resultado gerou indignação

Em contato com pessoas daquela comunidade, ficou fácil perceber a indignação por um grande número de pessoas. Muitas delas afirma­vam não entender o por quê de um projeto tão benéfico para o bairro ter sido negado. Pelo e-mail da redação, uma cidadã enviou um texto, que está registrado na íntegra, preservando apenas seu nome completo.

 APENAS UM DESABAFO (M.C.B.)

“ Trabalho na Escola Estadual Professor Cân­dido de Moura, que fica em uma comunidade ca­rente, porém de crianças acolhedoras. Crianças carentes de amor, caren­tes de oportunidades, carentes de qualidade, carentes do mundo, do mundo além do ‘portão’, do ‘portão’ da sua casa, além do ‘portão’ do bair­ro, além do ‘portão’ da escola.

Aluno que tem o direi­to de saber, que o mundo não se resume, não se limita. Que o mundo é além, é o aqui, é o agora, é o amanhã. E o agora forma o amanhã e o ama­nhã é o futuro. E o futuro é hoje, o futuro é daqui um segundo, o futuro é o piscar dos olhos.

A escola teve a opor­tunidade de mudar para transformar em uma Es­cola de Tempo Integral e, por uma democracia, opinião e votação, a Esco­la perdeu tal oportunida­de, a população perdeu. Perdeu de 18 ‘não’ por 12 ‘sim’.

Fico tentando enten­der que democracia é essa onde, com quase 700 alunos, tivemos 30 pessoas que decidiram por uma comunidade. E fico tentando entender: porque a comunidade votou contra.

Causou-me estranhe­za a comunidade com a oportunidade de ter para seus filhos uma escola padrão, uma es­cola modelo, formando cidadão, com qualidade, com projetos, materiais para estudos, laborató­rios, equipamento com lousa digital, coisa de primeiro mundo, alimen­tação, tenha perdido essa oportunidade.

Teríamos uma escola de apenas Ensino Funda­mental, os nossos alunos do Ensino Médio teriam seus direitos garantidos em outra escola do bairro. Os alunos do Ensino Fun­damental que por algum motivo não pudessem frequentar a Escola de Tempo Integral, porque faz cursos ou porque tem que olhar o irmão, tam­bém teria seus direitos garantidos em outra es­cola do bairro.

O que me indigna é o porquê do egoísmo. Se você não quer, se você não pode, deixa para quem quer. 

Por que falar não à oportunidade? No que não seria bom para o alu­no? Querem melhorias, mas porque não aceitam a mudança? Se isso não é bom para o aluno me mostre o que é, então. Mostre-me o que fazer para mudar para o bem do aluno. Onde ficam os direitos dos alunos que querem? Dos pais que querem? Se não tentar­mos como vamos saber? E por que não tentar? Por que não acreditar no aluno? Acreditar nessas crianças que precisam da gente? Fazer com que minha escola vença?!

Acredito no meu tra­balho que, em conjunto, é capaz de formar cidadão. Teríamos uma grande mudança e, às vezes, a mudança assusta, mas não mudamos uma casa sem reformas.

O ambiente faz o alu­no. As oportunidades fazem as pessoas. As pessoas formam uma sociedade. Estudam-se médicos para cuidar de doentes. Estudam-se professores para Educar. “

 

Fonte: Da Redação do PCI

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