Em votação realizada na noite da última quarta-feira, 21, a maioria do Conselho de Educação da Escola Estadual Professor Cândido de Moura rejeitou a proposta de implantação do Projeto Escola de Tempo Integral da Secretaria Estadual de Educação. Com 18 votos contra e 12 a favor da implantação, a unidade escolar localizada no bairro Jardim Raquel perdeu a oportunidade de receber um modelo diferenciado de ensino para alunos do 6º ao 9º ano do Ensino Fundamental.
Segundo nota enviada pela diretora do Cândido, Luci Aparecida Viola Cruz, a escola foi pré-selecionada para participar do projeto a partir de 2015. “Assim que tomei conhecimento através de memorando que a escola tinha sido selecionada, participei de reuniões para saber mais sobre o processo, onde tomei conhecimento que os estudantes que já frequentam a escola têm matrícula renovada, automaticamente, uma vez confirmado o interesse em continuar na unidade. Nos casos pontuais de alunos que não podem permanecer em tempo integral, será feito o deslocamento de matrícula para uma escola mais próxima”, explica a diretora no documento.
O projeto do governo estadual foi implantado em 2012 em 16 escolas de Ensino Médio e foi ampliado em 2013, atingindo outras 53 unidades do Ensino Fundamental. Neste ano, o programa foi novamente expandido, alcançando um total de 182 escolas, beneficiando cerca de 50 mil alunos. Em todas as cidades onde foi implantada, a Escola de Tempo Integral tem sido aprovada e elogiada por pais, alunos, professores e pela comunidade em geral que notam a melhoria no aprendizado do aluno.
De acordo com a nota enviada pela diretora e também com o texto que consta no site oficial da Secretaria Estadual de Educação, neste modelo educacional, a jornada no Ensino Fundamental é de oito horas e meia e com três refeições diárias. Salas temáticas de português, história, arte e geografia e também salas de leitura e informática compõem a estrutura. “Na matriz curricular, os alunos terão orientação de estudos, prática de ciências, preparação acadêmica e para o mundo do trabalho e auxílio na elaboração de um projeto de vida, que consiste em um plano para o seu futuro. Além das disciplinas obrigatórias, os estudantes contam também com disciplinas eletivas, que são escolhidas de acordo com seu objetivo”, informam os textos. Em relação à situação dos professores, em nota, a escola Cândido informou que “Os professores que aderissem a Escola Integral teriam regime de dedicação exclusiva totalizando 40 horas semanais e, para isso, receberiam gratificação de 75% sobre o salário-base”.
Entre as cidades que compõem a Diretoria de Ensino de Mogi Mirim, apenas cinco conta com o modelo implantado, sendo duas em Mogi Guaçu, uma em Mogi Mirim, uma em Pedreira e uma em Águas de Lindóia. Em todas elas destacam-se o método de ensino diferenciado e que une teoria e prática. Na Escola Estadual ”Doutor Francisco Tozzi”, de Águas de Lindóia, um dos projetos desenvolvidos envolveu alunos skatistas e aspirantes a engenheiros e resultou na construção de uma pista de skate. Surgido dentro das disciplinas eletivas de português e matemática, a ação envolveu um grande número de alunos que, através de um objetivo em comum, passaram a ter mais contato com as áreas de Matemática, Engenharia, Física, Português e Arte.
A diretora Luci Cruz, da Escola Cândido, explicou que todos os pais, alunos, docentes, funcionários e comunidade em geral foram convidados para participar da exposição do projeto feita pela dirigente regional de ensino Elin de Freitas Monte Claro Vasconcellos e por seus supervisores. “Na oportunidade, todos os presentes tiveram a oportunidade de tirar as suas dúvidas, que foram sanadas pela equipe da dirigente”, afirmou Luci.
Apesar de todos os benefícios, em especial para a comunidade do bairro Jardim Raquel, que é marcada por diversos problemas de âmbito social, 18 dos 30 componentes do Conselho de Educação decidiram pela não implantação no projeto. Deste modo, o Cândido de Moura não terá o modelo implantado para o próximo ano e novas oportunidades de seleção são incertas. Essa é a segunda vez que há a negativa para a implantação do programa naquela unidade, sendo que a primeira dela ocorreu em 2012, também por negativa da maioria dos votantes.
Resultado gerou indignação
Em contato com pessoas daquela comunidade, ficou fácil perceber a indignação por um grande número de pessoas. Muitas delas afirmavam não entender o por quê de um projeto tão benéfico para o bairro ter sido negado. Pelo e-mail da redação, uma cidadã enviou um texto, que está registrado na íntegra, preservando apenas seu nome completo.
APENAS UM DESABAFO (M.C.B.)
“ Trabalho na Escola Estadual Professor Cândido de Moura, que fica em uma comunidade carente, porém de crianças acolhedoras. Crianças carentes de amor, carentes de oportunidades, carentes de qualidade, carentes do mundo, do mundo além do ‘portão’, do ‘portão’ da sua casa, além do ‘portão’ do bairro, além do ‘portão’ da escola.
Aluno que tem o direito de saber, que o mundo não se resume, não se limita. Que o mundo é além, é o aqui, é o agora, é o amanhã. E o agora forma o amanhã e o amanhã é o futuro. E o futuro é hoje, o futuro é daqui um segundo, o futuro é o piscar dos olhos.
A escola teve a oportunidade de mudar para transformar em uma Escola de Tempo Integral e, por uma democracia, opinião e votação, a Escola perdeu tal oportunidade, a população perdeu. Perdeu de 18 ‘não’ por 12 ‘sim’.
Fico tentando entender que democracia é essa onde, com quase 700 alunos, tivemos 30 pessoas que decidiram por uma comunidade. E fico tentando entender: porque a comunidade votou contra.
Causou-me estranheza a comunidade com a oportunidade de ter para seus filhos uma escola padrão, uma escola modelo, formando cidadão, com qualidade, com projetos, materiais para estudos, laboratórios, equipamento com lousa digital, coisa de primeiro mundo, alimentação, tenha perdido essa oportunidade.
Teríamos uma escola de apenas Ensino Fundamental, os nossos alunos do Ensino Médio teriam seus direitos garantidos em outra escola do bairro. Os alunos do Ensino Fundamental que por algum motivo não pudessem frequentar a Escola de Tempo Integral, porque faz cursos ou porque tem que olhar o irmão, também teria seus direitos garantidos em outra escola do bairro.
O que me indigna é o porquê do egoísmo. Se você não quer, se você não pode, deixa para quem quer.
Por que falar não à oportunidade? No que não seria bom para o aluno? Querem melhorias, mas porque não aceitam a mudança? Se isso não é bom para o aluno me mostre o que é, então. Mostre-me o que fazer para mudar para o bem do aluno. Onde ficam os direitos dos alunos que querem? Dos pais que querem? Se não tentarmos como vamos saber? E por que não tentar? Por que não acreditar no aluno? Acreditar nessas crianças que precisam da gente? Fazer com que minha escola vença?!
Acredito no meu trabalho que, em conjunto, é capaz de formar cidadão. Teríamos uma grande mudança e, às vezes, a mudança assusta, mas não mudamos uma casa sem reformas.
O ambiente faz o aluno. As oportunidades fazem as pessoas. As pessoas formam uma sociedade. Estudam-se médicos para cuidar de doentes. Estudam-se professores para Educar. “
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