Após merecidos dias de descanso em La Paz depois da difícil escalada de Chachacomani, principalmente em sua descida onde o corpo foi demasiadamente exigido, diferentemente do que a maior parte das pessoas imaginam, é hora de arrumar a mochila novamente para desta vez tentar a via francesa de Huayna Potosi.
Saímos de La Paz sábado de manhã com destino ao acampamento base da montanha, que está a aproximadamente 4.800 m de altitude. Chegar no pé da primeira montanha que escalei, 5 anos atrás, foi emocionante.
O movimento de pessoas era grande, subindo e descendo entre os acampamentos, normal nesta época, pois se trata de uma montanha muito explorada pela sua facilidade de acesso, poucas horas de La Paz, além de ser um dos 6.000 m mais fáceis do mundo. Isto não quer dizer que seja uma montanha fácil... muito pelo contrário!
Comemos algo, arrumamos as coisas e subimos ao acampamento alto, "rock camp", um refúgio construído de rocha a 5.130 m de altitude. Havia muitas pessoas lá e todas sairiam na madrugada seguinte para tentar chegar aos 6.088 m pela sua via normal, uma via tecnicamente fácil, sempre bem demarcada pelo alto movimento de escaladores.
Não há muito o que fazer lá em cima, então o jeito era comer algo e sair mesmo com o frio para curtir a paisagem maravilhosa que este refúgio proporciona, tirar umas fotos e tentar dormir cedo.
Durante a noite saí para ir ao "banheiro" e percebi que o tempo havia virado. Neve e um pouco de vento. Às 2h levantamos e às 3h saímos do refúgio. O tempo não estava nada bom... mas como diz um amigo: "não podemos ser montanhista somente de tempo bom!"... concordo com ele, mas confesso que esta combinação de vento e neve não é nada legal para um dia de ataque.
Para nosso azar o tempo só piorou, continuou nevando com muito vento... mas nossa esperança de que o tempo fosse melhorar ao sair o sol nunca morreu.
Diferentemente das outras montanhas que escalamos este ano, havia muita neve fofa, o que nos dificultou muito a subida. Além da dificuldade física imposta pelo terreno, a temperatura e a sensação térmica por conta do vento eram baixíssimas. Nestas situações o corpo consome muita energia para tentar se manter aquecido. Isto gera um desgaste físico e metal exorbitante.
Por volta das 8h da manhã chegamos no último trecho da escalada, uma parede (gelo) de aproximadamente 250 m de altura. Quem resolveu não aparecer por lá foi o sol. Tomamos algo quente, comemos e conversamos um pouco. O tempo até ensaiou melhorar, mas o forte vento que soprava do Vale dos Yungas trazia muitas nuvens carregadas. Uma vez na parede não poderíamos voltar. Calculamos a hora que voltaríamos ao refúgio, pois já estávamos atrasados, e percebemos que baixaríamos da montanha a tarde.
Numa decisão difícil, mas prudente, ouvimos a montanha e decidimos baixar.
Desistir de um cume é sempre uma decisão muito dolorosa. Mesmo assim, estava feliz, por chegar onde chegamos em tais condições. Na descida o tempo melhorou por alguns instantes, quando foi possível apreciar a beleza desta montanha.
Ao chegarmos no refúgio Nolberto vira pra mim e diz: "no era nuestro dia... la montaña és así!". Depois me disse que gostaria muito que tivéssemos feito mais este cume. Suspirei e respondi: "vamos fazer, meu amigo, vamos fazer!".
De volta a La Paz por mais 2 dias de descanso e no meio da semana sairemos novamente para fazer escaladas técnicas em gelo, aprimorar técnicas de travessias de glaciares, entre outras coisas.
Cada montanha tem sua lição, há que saber tirar proveito.
Fuerte abrazo!
Rudá
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