Para entrar na história. Nenhum cinquentão ou superior, com participação política nos tempos da ditadura, tinha pela cabeça que Itapira pudesse viver um dia de manifestação popular como o que foi assistido na manhã deste sábado. Organizaram-se na Praça Bernardino, num ambiente de descontração, porém focados nos principais pontos da pauta de reinvindicações.
Mais de mil. Segundo o tenente Guilherme, que assumiu o comando da PM nesta semana e com larga experiência em grandes concentrações, a passeata reuniu entre 1.000 e 1.200 pessoas. Houve organizador que acreditava que ultrapassaria dois mil, mas os mais centrados sabiam que se 700 comparecessem, o número poderia ser muito bem comemorado.
Palmas para a PM. Para quem acompanhou o trabalho da Polícia Militar na proteção aos manifestantes e no controle do transito, percebeu que todo trabalho foi planejado detalhadamente. Na praça o tenente conversou com os organizadores, combinou o percurso e se colou à disposição para qualquer eventualidade.
Parecia primeiro mundo. Enquanto um grupo de PMs avançavam o percurso direcionando os veículos, dois batedores seguiam à frente da passeata e na retaguarda o tenente e mais outro conjunto de policiais acompanhavam toda movimentação dos manifestantes, assim como as pessoas que assistiam aos protestos.
Serenidade. Quando os manifestantes aportaram na rotatória da rodoviária, que em principio seria o final da passeata, os organizadores resolveram levá-la até a prefeitura, para depositar os cartazes para que o prefeito Paganini possa tomar ciência dos dizeres e reinvindicações. Apesar da nova decisão não ter sido encaminhada à PM, conforme combinado, os policias se reorganizaram e mantiveram o sistema de proteção e organização do trânsito até a prefeitura.
Palmas para a GM. A Guarda Municipal se postou à frente da Câmara Municipal e na área interna da Prefeitura Municipal, cumprindo a missão de proteger o patrimônio do município. Da mesma maneira como nenhum manifestante ultrapassou o limite do direito à manifestação, a GM se comportou de forma totalmente isenta, sem esboçar nenhuma ação que motivasse reação negativa.
Perfeito. Alguns organizadores do movimento se declararam eleitores de Paganini e deixaram claro que esperam que o prefeito cumpra o seu papel de cuidar da cidade e priorizar as áreas essenciais. “Não somos contra os governos, só queremos ser ouvidos, só queremos que eles acabem com a corrupção e cuidem da saúde, da segurança e educação.”
Palmas para o movimento. Além de aglutinar mais de mil pessoas, um feito histórico para uma cidade como Itapira, os organizadores tomaram todas as providências para que o movimento se comportasse pacificamente do começo ao fim. Havia infiltrados mascarados e outros com ares de intenções duvidosas, mas que não conseguiram espaços para qualquer iniciativa. No final, um dos organizadores agradeceu a participação pacífica e esclareceu: “nós não queremos e não podemos permitir estragar a cidade que tanto amamos”. Cantou-se o Hino Nacional pela segunda vez.
Palmas para Itapira. Uma manifestante ao comentar sobre o sucesso da passeata chegou a dizer que agora está se sentindo mais itapirense do que nunca, percebeu que as pessoas estão se importando com a vida da comunidade. “Eu quero uma cidade que cuide da saúde e educação. Que permita ao meu filho brincar na rua, como eu brincava quando era criança. Eu não quero ver pessoas morrendo assassinadas a torto e a direito. E hoje eu vi que juntos, unidos, nós podemos chegar lá.”
Nem tudo são flores. Algumas pessoas se infiltraram no meio dos jovens manifestantes e pediam que eles gritassem determinadas palavras de ordem. Outros não ficaram satisfeitos com a pacividade. Algumas meninas e meninos gostaram tanto, que disserem que a passeata estava melhor que as baladas: muitos beijos diversificados tinham acontecidos. Uma manifestante chegou a questionar porque o assunto Santa Casa não entrou na pauta, já que se trata de uma instituição que se beneficia com a condição de filantropia.
Casa do prefeito. Assim que a passeata foi encerrada defronte a prefeitura, um grupo de aproximadamente 150 manifestantes, contrariando a base da organização do movimento, se dirigiu à casa do prefeito. Paganini chegou a manifestar interesse em conversar com os manifestantes, porém por conta da dissidência do grupo e da presença de meia dúzia de ativistas considerados agressivos, pelas observações da PM, a recomendação foi de que o prefeito não se expusesse. O grupo permaneceu cerca de vinte minutos gritado palavras de ordem e depois, se dispersou.
Recado dado. Mais tarde, Paganini declarou que as manifestações estão dizendo que os políticos devem refletir sobre o que está acontecendo e entender que tem que fazer mais do que a estrutura oferece, tem que ser mais vigilante, tem evitar o desperdício e aplicar nas prioridades. “Nós temos que cuidar do dinheiro público, como cuidamos do dinheiro da nossa casa ou da nossa empresa. Temos que fazer o melhor com o que temos em disponibilidade, sem gastar mais do que temos.”
E entendido. Paganini disse ainda, que nesse ponto está tranquilo com a sua consciência e não se vê como alvo principal dos protestos, pois desde o primeiro dia que entrou na prefeitura, trabalha de quatorze a dezesseis horas, todos os dias e maios um pouco nos finais de semana. Cobra dos secretários quer resultados e deplora desperdícios. “Estou seis meses no governo. Eu quero fazer mais. Eu vou fazer mais! Não vou decepcionar quem votou em mim. Como tentarei a aprovação dos que votaram contra.”
E completou: “Só nesta semana, exonerei o presidente do SAAE por conta de um aumento absurdo na conta da água e da relutância dele em reduzir o reajuste e devolver o que foi cobrado a mais. Recebi o novo tenente, nossa reinvindicação para melhorar a segurança. Concluímos a revisão das tarifas de ônibus e já está em prática. Exonerei a Secretária de Saúde pelo excesso de reclamações e deficiências nos atendimentos de saúde. E assim será daqui para frente. No meu governo, todos devem dar o máximo para buscar os melhores resultados.”
Peregrinação. Nessa segunda-feira, Paganini e os vereadores da base participarão de uma audiência com o Secretário de Segurança Fernando Grella. Na pauta, Paganini levará todas as reinvindicações da Policia Militar e da Policia Civil, o mapeamento da cidade e toda a situação da segurança local. Na quarta-feira, Paganini voltará a Brasília, para reuniões no Ministério das Cidades e dois deputados.
Não aguentava mais. Para quem se surpreendeu com a decisão do prefeito Paganini na manhã de quinta-feira que exonerou o presidente do SAAE, Dado Boretti, e colocou no comando, de forma interina, o secretário de planejamento e obras José Armando Mantuan é bom saber: Dado aceitou fazer os ajustes, mas continuou mandando as contas inalteradas e quanto à devolução dos valores pagos a maior insistia que isso só seria possível em setembro. Zé Armando, em um dia voltou o reajuste para 6,49% e programou a compensação dos valores para julho, pois o sistema exige uma semana para ser reformulado.
Dado, o cesteiro. Os “novotempistas” estão em festa com a exoneração de Dado Boretti, já que acham que o dissidente pisou na bola com eles e agora pagou caro pela mudança de grupo. Abandonou uma amizade de quarenta anos com o ex-prefeito para se tornar bode expiatório da nova administração. E bradam: “cesteiro que faz um cesto, faz um cento”.
Cartão vermelho. Os atuais governistas insatisfeitos com a situação constrangedora criada pelo vice-prefeito e ex-presidente do SAAE, estão dizendo que Dado sempre foi de provocar a própria expulsão como jogador de futebol. Seguindo a regra no campo político, ele acabou fazendo a mesma coisa.
No trono. A posição de Dado junto aos situacionistas começou a se complicar logo no início, quando ele se colocava como candidato em potencial nas próximas eleições, não perdia oportunidade para criticar Paganini e companheiros e se recusava a receber os vereadores. Mais recentemente, levava suas lamúrias para a sauna da Santa Fé. No dia seguinte, os amigos levavam os recados para o governo e os inimigos para os oposicionistas.
Vacilou. Não resta duvida que faltou tato político a Dado Boretti. Como vice-prefeito, independentemente de ser o presidente do SAAE, não poderia jamais sobrepor decisões técnicas às questões de ordem política. Nesse mundo, principalmente, no grau que caminha a paciência da população, nenhum setor público deve deixar a política de lado.
Na câmara foi diferente. Os manifestantes que lotaram a Câmara Municipal na última terça-feira, segundo avaliação dos vereadores foram além dos limites e chegaram a passar a ideia de que a situação poderia não acabar bem. Foram inúmeros os insultos desnecessários. Dizem que o presidente Carlinhos Sartori deverá requerer a presença da Policia Militar e Guarda Municipal repetindo o gesto do ex-presidente Manoel Marques.
Segurança? Espera-se que a ideia de chamar segurança para a Câmara não passe de boato, afinal aquela casa tem dado demonstração de respeito à democracia. Os manifestantes demostraram, na passeata, serem contra violência ou hostilidades desmedidas. Talvez uma reunião preliminar para estabelecer as regras de convivência seja o procedimento mais indicado. Há de se aprender a protestar e ser protestado, sem medo, nem violência.
Carta o cabelo! Dizem as línguas ferinas que Carlinhos Sartori estava recebendo as manifestações dos ativistas com relativa tranquilidade até alguém gritar: “corta o cabelo dele!” Aí o presidente que cultiva a vasta cabeleira com tanto esmero, imaginou a tesoura como uma guilhotina. Mas foi só uma provocação verbal, presidente...
A Cesar o que é de Cesar! Parte dos manifestantes na câmara se mostrou tão desconectada que tinha gente achando que o prefeito Paganini em algum momento apareceria para ocupar a tribuna. Coisa não acontece com regularidade. Lá pelas tantas, sobrou até para o vereador petista, o César da Farmácia, responsável pelo adiamento do projeto na semana passada. Foi preciso ir à tribuna e dizer, “ei pessoal, eu sou o César, aquele que adiou o projeto semana passada”!
Nino Marcati, da redação do PCI.
Comentários, artigos e outras opiniões de colaboradores e articulistas não refletem necessariamente o pensamento do site, sendo de única e total responsabilidade de seus autores.