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10/08/2011 | Entrevista: Munhoz defende candidatura Serra à prefeitura e ao Planalto

O jornal "Valor Economico" entrevistou o deputado Barros Munhoz, nesta quinta-feira, dia 10. Veja a íntegra: 

 

Em seu segundo mandato como presidente da Assembleia Legislativa de São Paulo (Alesp), o deputado estadual Barros Munhoz (PSDB) é dos tucanos mais críticos ao atual momento da sigla. Fiel escudeiro do ex-governador José Serra, do qual foi líder de governo, Munhoz não faz rodeio para dizer que a condução da campanha presidencial de 2010 "foi um desastre" e seu partido cometeu um "erro criminoso, nas últimas três eleições, que foi negar o legado do ex-presidente Fernando Henrique Cardoso". Apesar disso, o deputado acredita que Serra será candidato à Prefeitura de São Paulo em 2012. Não vê problema na possibilidade de o tucano deixar a prefeitura para concorrer a outro cargo, tal como ocorreu em 2006, desde que escolha um bom vice para seu lugar. E que isso pode acontecer porque, avalia, o candidato do PSDB à Presidência da República, em 2014, não será Aécio Neves.

Munhoz disse ao Valor ter convicção de que denúncias surgidas contra ele às vésperas da eleição à Presidência da Casa foram "fogo amigo". Com presidentes de outras 15 Assembleias estaduais Brasil afora, Munhoz articula a aprovação de uma proposta de emenda à Constituição (PEC), que permita aos Legislativos atuar em áreas que hoje são de competência privativa do Executivo. A PEC está na secretaria da mesa do Senado e deve ser recebida em plenário esta semana. A seguir, os principais trechos da entrevista:

Valor: Por que as Assembleias Legislativas no Brasil são tão pouco atuantes?

Barros Munhoz: Há uma visão desfocada da atividade parlamentar. De forma geral, temos o asfixiamento do poder legislativo nos níveis federal, estadual e municipal. O Brasil é dos únicos países onde o Legislativo legisla menos do que o Executivo. Além disso, a federação brasileira é uma ficção, tudo é em Brasília. O que é importante é de competência privativa do Executivo, só ele pode propor projetos de lei a respeito. Então 90% dos assuntos de interesse do país são de competência do Congresso. Dos 10% restantes, 90% disso é de competência do Executivo estadual.

"Não vejo o Chalita em condições de ser prefeito de São Paulo. Ele é ambicioso, mas não ganha a eleição"

Valor: Então por que há tantas críticas à atuação dos Legislativos?

Barros Munhoz: Há um vício de se avaliar o Legislativo pelo número de projetos aprovados por cada deputado. Se eu fosse homem de imprensa, inverteria essa ordem: o problema no Brasil é o absurdo número de leis que já existem e de novas leis que são criadas. Eu nem devia falar isso, mas é um país fantástico para os bacharéis e péssimo para a população e empresários. Como somos cobrados, às vezes os deputados apresentam projetos estapafúrdios, de cair no ridículo, só para dizer que fizeram. Você pode ser um brilhante parlamentar sem ter um projeto aprovado.

Valor: Quais as atividades dos parlamentares que ainda repercutem?

Barros Munhoz: Somos muito cobrados pela instalação de CPIs, que são o maior engodo. Quase sempre servem só para o embate político, pois assunto já está sendo averiguado no Ministério Público. Diante da cobrança, fazemos CPIs. Aí o que acontece? Mandamos o caso para o MP. É ridículo. O que um deputado entende do funcionamento de uma obra de metrô? Você não acha três ou quatro aqui que entendam. Para isso existe o Tribunal de Contas.

Valor: O seu partido protocolou 11 CPIs, um artifício para travar investigações sobre o governo que a oposição pretendia encaminhar.

Barros Munhoz: Verdade. E é condenável que se faça isso. Mas não adianta o PT criticar isso aqui e fazer lá na Câmara dos Deputados. O mesmo vale para o PSDB, que reclama lá e faz aqui. Isso joga contra a democracia.

Valor: Recentemente, o senhor enfrentou uma série de denúncias em relação à sua gestão em Itapira. Como anda o processo?

Barros Munhoz: Isto aconteceu pela ação de jovens promotores em busca de projeção. Qualquer pessoa de bom senso consegue entender: fui prefeito de Itapira três vezes, deputado reeleito, chefe da Petrobras em São Paulo, secretário da Agricultura e ministro da Agricultura, Abastecimento e Reforma Agrária, que valia por três ministérios [no governo Itamar Franco]. Lidava com orçamentos gigantescos e nunca fui acusado de nada. Assinava cheques de milhões de reais. Tudo fiscalizado e aprovado. Então, em 26 anos de vida pública, fui desonesto só por três anos?

Valor: Então a que se devem as acusações?

Barros Munhoz: A uma ação política, articulada por adversários que usam os promotores. Muito da propagação que houve, sem dúvida, foi fogo amigo.

Valor: Isto é, de gente do PSDB?

Barros Munhoz: Lógico. Na eleição à presidência da Casa, eu praticamente não tinha adversários fora do partido, todas as bancadas me apoiavam. É evidente que eram pessoas querendo impedir minha eleição. Do PSDB ou da base aliada.

Valor: O governador vetou a regionalização do orçamento paulista, aprovada depois de muita negociação entre os deputados. Como o senhor recebeu o veto?

Barros Munhoz: O que o governador sustenta é que seria muito difícil a implementação imediata desta medida, porque as definições regionais variam muito. O que é uma "região" para saúde, não é a mesma para educação ou para transportes, porque mudam os programas que atuam naquela área. Nós, deputados, erramos ao não atentar a essa questão.

Valor: E como analisa a situação do PSDB no Estado de São Paulo?

Barros Munhoz: Poderia estar melhor. O Pedro Tobias [presidente do diretório estadual do PSDB] é o presidente certo para este momento, está agitando o PSDB precisa se valorizar mais, ser aguerrido. Acho que o PMDB vai crescer, está fazendo grande trabalho de fortalecimento. O PTB também fez um bom trabalho junto aos diretórios municipais e vai crescer. Os partidos menores devem diminuir ou ficar no mesmo patamar. O DEM talvez caia também. PT e PSDB crescerão, mas menos do que o PMDB.

Valor: Como o senhor vê a disputa na capital?

Barros Munhoz: O PSDB tem um trunfo que nenhum outro partido tem, que é o Serra. Se ele for candidato, tem grandes chances de vitória.

Valor: O senhor acredita mesmo que ele será o candidato?

Barros Munhoz: Sim. Quando conversamos, ele repudiou frontalmente. Mas a vida é assim, nem sempre é como você quer. Para mim, ele será candidato para o bem do partido e dele. Em 1994, fui candidato ao governo de São Paulo pelo PMDB. Tive 1,6 milhão de votos [4º colocado]. Em 1996, voltei a ser candidato à Prefeitura de Itapira, para disputar 46 mil votos. E foi fantástico pra mim, porque recomecei minha carreira ali.

Valor: Mas isso não comprometeria as pretensões de Serra, de disputar à Presidência novamente? Ele já deixou a prefeitura antes de terminar o mandato uma vez.

Barros Munhoz: Acho que o povo de São Paulo entenderia. Mas ele tem que ter um bom vice, caso saia do cargo. Pode ser do PSDB ou de outro partido, não vejo problema.

Valor: E como avalia a candidatura do seu ex-correligionário, Gabriel Chalita (PMDB)?

Barros Munhoz: Não vejo o Chalita em condições de ser prefeito de São Paulo. Ele é ambicioso, quer ser prefeito a qualquer custo, como queria ser governador ou senador a qualquer custo. Mas não tem condição de ganhar a eleição nem de ser prefeito. É um bom quadro político, mas não é talhado para aglutinar uma equipe. É melhor para o Parlamento do que para o Executivo.

Valor: O senhor apoia prévias no PSDB para a escolha de 2012?

Barros Munhoz: Eu sei que é muito simpático defender prévia, mas primeiro temos que fortalecer os partidos. O PT faz prévia há bastante tempo e já está pensando em mudar. E o PT é institucionalizado, tem diretórios que se reúnem, discutem política, o que não ocorre nos outros partidos. É difícil exigir prévia em um quadro partidário como o nosso. No âmbito municipal, o PSDB é um livro de atas embaixo do braço, que se reúne muito esporadicamente. Pelo jeitão mais brigador do Pedro, pode até acontecer para a eleição ao governo, em 2014.

Valor: O senhor acha que o Serra aceitaria participar de prévias?

Barros Munhoz: Seria até humilhante, acho. Por tudo que ele foi e é, uma das maiores lideranças do Brasil, a gente já tem que ficar contente caso ele aceite concorrer.

Valor: Excetuando o Serra, vê outro candidato do PSDB em boas condições na capital?

Barros Munhoz: Vejo com simpatia o nome do senador Aloysio Nunes e do secretário de Meio Ambiente, Bruno Covas.

Valor: E sobre o PSDB nacional, qual a sua avaliação? Aécio é o nome para o futuro do partido?

Barros Munhoz: O PSDB está muito fragmentado, fragilizado. Acho que o Aécio dificilmente vai chegar a ser candidato a presidente. É um quadro fantástico, mas se não for o Serra, creio que será o Alckmin.

Valor: Por que?

Barros Munhoz: O Alckmin tem mais estofo, mais consistência. Aécio é um quadro muito querido, simpático, mas Alckmin e Serra têm mais condições.

Valor: Qual a sua avaliação da campanha do PSDB em 2010?

Barros Munhoz: Cometemos um erro criminoso, nas últimas três eleições, que foi negar o legado do ex-presidente Fernando Henrique Cardoso, escondê-lo. E a condução da campanha passada, feita pelo [Luiz] González foi um desastre. Pode ser um ótimo marqueteiro para São Paulo, mas para campanha nacional foi um horror. E colocar o Serra ao lado do [ex-presidente Luiz Inácio] Lula [da Silva] na propaganda foi um escândalo, constrangedor.

Fonte: Valor Econômico

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