Toninho Bellini fez história. Ele destronou Barros Munhoz do comando político da cidade que perdurava vinte e oito anos. Levou consigo uma base formada por ferrenhos opositores ao ex-prefeito. Apresentou à cidade um jeito diferente de governar. Acabou com a tradição de espocar rojões a cada boa notícia. Tem sido econômico no contato com a população. Descentralizou a administração pública. É aplaudido por parte da cidade e criticado por outra. Com as eleições do próximo ano será possível avaliar o tamanho de cada lado e saber se a guinada do eleitorado foi consistente. Em entrevista a Nino Marcati, Toninho Bellini fala, sem embaraços, sobre o seu governo, suas expectativas futuras e responde às críticas recebidas.
NM: A sua vitória, em 2004, foi alicerçada em três pontos: a sua postura inovadora como candidato, a forte rejeição a Barros Munhoz associada à tendência de mudança e a participação de alguns companheiros que representavam oposição ao ciclo político reinante. Alberto Mendes, Sonia Santos, Beto Trevelin e Manoel Marques eram os baluartes da tropa de choque. Desses, três desembarcaram do Novo Tempo e são críticos ferozes a você e à sua administração. Como você explica tamanha deserção?
TB: Não classificaria o que aconteceu como deserção. Como você sabe, deserção é um abandono, até um desaparecimento. E o que aconteceu, em todos estes casos, foi, pelo que entendo, bem ao contrário do que pode parecer, a conquista de um espaço político. E isso só aconteceu porque, de uma maneira que é bem clara para todos, o Novo Tempo possibilitou a conquista de espaços dentro do conceito político itapirense, no exato momento em que foi restaurada a democracia
NM: Você diria que a identidade do Novo Tempo foi abalada?
TB: De maneira alguma. A identidade Novo Tempo significa um projeto de desenvolvimento para a cidade que continua sendo implantado. Um projeto que envolve mais qualidade de vida, pacificação dos ânimos, organização da máquina administrativa, aplicação ponderada dos recursos econômicos, entre outros aspectos.
NM: Manoel Marques foi, por seis anos, acusado de ser o prefeito de fato. Com a ida dele para a Câmara vem ganhando força na cidade um comentário alternativo de que o grande mentor da sua candidatura e da sua administração é o médico Valentim Valério. Afirma-se que sempre foi dele a palavra final. E não pára por aí. Seria de Valentim a estratégia de colocar Manoel Marques no papel de “gerentão”, dando a cara dele para bater para livrá-lo do ônus das questões espinhosas. Essa ligação, aparentemente normal em política, teria sido o pivô dos desgostosos, não só dos saintes, como para Manoel e colaboradores próximos. Até onde vai a verdade desses burburinhos?
TB: É uma tática comum das oposições procurar atacar algum auxiliar direto do governante ao invés de atacar o governante
NM: Já que estamos no assunto, como é governar sem Manoel Marques?
TB: Em primeiro lugar, vamos lembrar que o vereador deixou a secretaria de Governo para reassumir sua cadeira na Câmara e se eleger presidente, mas não deixou o grupo político. Em segundo lugar, vamos lembrar que a forma de conduzir as decisões do município é diferente dentro do projeto Novo Tempo daquilo que se costumou ver anteriormente. Damos espaço a nossos secretários para que eles proponham, debatam e implantem iniciativas que julguem oportunas e valiosas para Itapira. Esta é uma das razões pelas quais sempre fomos bem sucedidos. Manoel Marques sempre teve um papel importante dentro de minha administração por estimular o debate e a implantação de iniciativas que a população sempre reconheceu como muito relevantes. Além disso, como secretário de Governo, ele tinha a função de fazer chegar aos públicos interno e externo da Prefeitura as minhas decisões a respeito dos mais diversos assuntos, fiscalizando ainda, de certa forma, a execução daquilo que havia sido previsto. Pela sua integração com minha forma de atuar, continua, mesmo fora da Prefeitura, a ser um colaborador valioso.
NM: Você tem sido um prefeito diferente. Descentralizou as decisões e acalmou a efervescência do paço municipal. Estabeleceu horários fixos de trabalho para você e para os funcionários. Tem honrado folha de pagamento no dia certo. O seu antecessor colocava a máquina pública em polvorosa, vinte e quatros hora do dia, sete dias por semana, e atrasava, habitualmente, os salários. O excesso de trabalho e o trauma da conta zerada desgastaram-no com o funcionalismo, migrando votos para a sua candidatura. Você avalia que a carga horária respeitada e o pagamento em dia são suficientes para atender as necessidades do município?
TB: São fatores fundamentais, mas, evidentemente, não são os únicos. Acontece que manter a carga horária correta e o pagamento em dia são formas de sinalizar ao contribuinte que aqui ele é respeitado integralmente. Porque ele sempre vai encontrar o funcionário que pode resolver a questão que ele tem a tratar e sempre vai encontrar este funcionário respeitado e em uma condição adequada de trabalho. Agora, a eficiência que o contribuinte merece também tem que estar presente em serviços de qualidade, em rotinas corretas de atuação, em equipamentos adequados para os serviços, em atendimento integral às necessidades de cada bairro e de cada morador e em muito mais. Se fizermos um balanço desta administração a partir destes aspectos, vamos ver que a situação melhorou muito para moradores de todos os bairros de Itapira a partir de 2005.
NM: Existem, no entanto, reclamações dos munícipes, tanto nos atendimentos administrativos, como nos trabalhos operacionais externos. Essas reclamações procedem? Há falta de pessoal?
TB: Como disse, a situação melhorou muito para o atendimento de todos os contribuintes a partir de 2005. Isso não quer dizer, no entanto, que todas as possibilidades de aperfeiçoamento da máquina pública já se esgotaram. Podemos melhorar a cada dia. E estamos fazendo exatamente isso. Se há falhas pontuais, nos apressamos a corrigi-las. Se há problemas estruturais, concitamos nossos secretários a encontrarem soluções para cada um deles.
NM: O Hospital Municipal, por exemplo, alardeia-se a falta de médicos, profissionais de apoio, insuficiência de materiais básicos como gesso, agulhas de injeção, remédios, materiais cirúrgicos etc. O setor da saúde tem se apresentado o mais instável do seu governo, com constantes trocas de comando. O Hospital Municipal tem cura?
TB: A falta de profissionais médicos sofre a interferência de diversos fatores, tais como a carência existente no mercado de trabalho e até salários pouco atrativos para a categoria profissional, mas cujo aumento no âmbito do serviço público sofre as restrições impostas pela Lei de Responsabilidade Fiscal. Em relação aos profissionais de apoio, principalmente técnicos de enfermagem, existe um projeto tramitando na Câmara Municipal solicitando a ampliação do quadro de profissionais desta categoria. Até o presente momento não detectamos falta “crônica” de materiais de consumo. Em algumas situações pontuais, como o eventual atraso por parte de fornecedores, pode ter ocorrido alguma falta específica, mas esta não é a realidade diária de nosso serviço de saúde. Em relação à possível instabilidade temos dois pontos a considerar. Primeiro, que sempre houve a continuidade da orientação dentro do setor. É fato que tivemos mudanças de secretários neste período, mas todos eles foram da mais alta competência. Ocorreu apenas que, por questões profissionais e pessoais, eles decidiram retornar à atividade privada que tinham anteriormente. Entretanto, em nenhum momento a orientação foi quebrada e em nenhuma circunstância o contribuinte itapirense deixou de ter atenção e cuidados de alta qualidade. Em segundo lugar, quando se fala do atendimento à população dependente do SUS, o serviço de saúde de Itapira é tido como um dos melhores da nossa região, com praticamente 80% dos problemas resolvidos dentro do nosso próprio município e o restante através de um sistema de referência e contra-referência muito bem organizado. Por fim, é preciso lembrar que o serviço municipal de saúde de Itapira é um todo, com rede básica, vigilância sanitária e epidemiológica, centros de especialidades médica e odontológica, e não apenas o Hospital Municipal.
NM: A Santa Casa passa por dificuldades históricas, mas tem buscado ajuda externa. Por que o Hospital Municipal não faz a mesma coisa? Ou faz?
TB: Inicialmente é preciso lembrar que a própria legislação impede alguns tipos de ação para obtenção de recursos no caso de hospitais municipais. Entretanto, podemos pedir e temos feito pedidos aos governos estadual e federal. Hoje, no caso de equipamentos de saúde para o serviço público, esta questão é tratada de forma técnica, dentro do consórcio de saúde e dentro da DIR XX, que é a diretoria regional de Saúde, baseada
NM: Tem uma informação que eu considerei como gravíssima. Recentemente o município recebeu ambulâncias do SAMU, mas não foram colocadas
TB: As ambulâncias do SAMU não estão em atividade ainda unicamente por questões relacionadas ao convênio que as trouxe para Itapira. O SAMU não é um serviço isolado de Itapira. Ele está conectado a uma rede, que envolve ainda Mogi Mirim, Mogi Guaçu e Estiva Gerbi. Cada uma das cidades tem suas próprias ambulâncias. No entanto, elas serão acionadas a partir de uma central de atendimento que será instalada
NM: A maioria dos funcionários recebe abaixo dos R$ 1.200,00 por mês. Para as funções que exigem ensino superior, a média gira em torno de R$ 2.000,00, segundo os dados que disponho. Valores, hoje, facilmente batidos pela iniciativa privada. Você não acredita num futuro apagão nos serviços públicos municipais?
TB: Não creio. Embora haja valores discutíveis, é certo, por um lado, que eles estão na média do praticado pelo serviço público da região. Ao mesmo tempo, temos a limitação da Lei de Responsabilidade Fiscal para a folha de pagamentos. Se em um momento a Lei evita abusos por parte da autoridade, por outro lado ela limita em muito a possibilidade de correção de eventuais distorções. Hoje, para garantir salários condizentes a todos os nossos funcionários, trabalhamos no limite imposto pela Lei de Responsabilidade Fiscal. Entretanto,com a melhor operacionalidade da máquina pública e com medidas mais efetivas que já tomamos, é possível estimar que a situação dos servidores públicos municipais deverá melhorar, sem que isso represente desrespeito à Lei.
NM: A sua administração vem usando a estabilidade na cobrança do IPTU e, certamente, esse ponto será explorado pela campanha situacionista. Essa liberalidade terá que ser revista e corrigida um dia para dar conta das despesas crescentes. Não correremos o risco de ver aqui o mesmo que ocorreu na vizinha Mogi Guaçu?
TB: De maneira alguma. Tudo o que fizemos em relação a impostos, e não apenas no tocante ao IPTU, foi consistente planejado e projetado. Observe que mesmo sem reajuste do IPTU a situação financeira da Prefeitura está equilibrada, com o pagamento de servidores e fornecedores
NM: A descentralização administrativa implantada por você é um ponto extremamente positivo. Deveria ser assim, em todos os municípios. Mas existem reclamações de que é comum não encontrar as pessoas responsáveis para dar respostas a determinadas necessidades e, o que é pior, nem a informação de quem seriam essas pessoas. Você tem conhecimento desses problemas? Eles existem?
TB: Ocorre que a prática anterior à nossa administração consolidou a falsa imagem de que o prefeito é o executor de todas as ações que dizem respeito à máquina pública. Então, para muitos o prefeito é, ainda hoje, a pessoa que define a cada dia para que região do município irão as máquinas que cuidam das estradas rurais, ao mesmo tempo em que é ele também que determina qual professora atuará em qual escola, qual será o itinerário de ônibus circular e por aí vai. Isso é uma lenda mal contada. Para isso existe uma equipe de governo atuando em sintonia e para isso existem funcionários públicos concursados da mais alta competência, todos devidamente treinados e preparados. Como a lenda ainda persiste, as pessoas não se acostumaram a procurar secretários e funcionários para encaminhar suas preocupações. E aí, quando querem procurar alguém, não sabem como fazê-lo. Mas todos os nossos secretários, assessores e funcionários têm minha instrução direta para atender os contribuintes itapirenses com atenção, respeito, dignidade e empenho, seja qual for o momento em que forem procurados e seja qual for o assunto. Agora, evidentemente, tudo dentro da norma jurídica vigente e com observação da hierarquia dentro de cada secretaria e dentro da administração como forma geral.
NM: Onde estaria a falha: nos comentários maledicentes, no processo ainda não assimilado por seus colaboradores ou nas pessoas que foram designadas para oferecer as soluções?
TB: Não vejo falha neste processo. Vejo uma continuidade que resultará em uma situação melhor para todos os contribuintes itapirenses.
NM: Aliás, a maioria dessas reclamações quando direcionadas a três ou quatro pessoas, entre elas, Manoel Marques, mesmo fora do governo, que acabam oferecendo as soluções. Por que isso ocorre, se é que ocorre?
TB: Por aquelas razões que acabei de falar. As pessoas acabam procurando uma, duas ou três pessoas que conhecem ou com quem tem afinidade e depois acabam sendo direcionadas a quem de fato pode atendê-las na máquina pública. Então, é uma espécie de treinamento. E tenho certeza de que dentro de algum tempo esta nova prática, que considero mais correta para a administração pública, acabará sendo assimilada por todos. Em suma: o prefeito não é uma lenda viva que resolve pessoalmente todos os casos da administração e a administração não é uma entidade fechada e impenetrável. Ela tem muitas portas e muitas pessoas capacitadas a atender nossos cidadãos.
NM: Quando eu olho para os projetos carimbados com a sua marca pessoal, vejo sucesso em programas como: musicalização nas escolas, cursinho popular, retomada do SAAE e a recente aprovação do Código Ambiental. Você concorda com essa avaliação?
TB: Concordo, mas acredito que há muito mais. Trabalhamos muito nestes quatro aspectos que você citou porque, como se pode facilmente perceber, são questões que estão diretamente ligadas ao desenvolvimento e à qualidade de vida de nossa população. Felizmente nestes casos, assim como em diversos outros, obtivemos sucesso e pudemos atender os justos anseios dos itapirenses. Imagine se não tivéssemos retomado o Saae, por exemplo. Ou imagine a imensa quantidade de jovens que não teriam condições de prestar o vestibular adequadamente preparados se não existisse o cursinho gratuito, que hoje eles cursam em escolas de alto nível como o Anglo, o Objetivo e a Interativa. E outras iniciativas mais. Isso é realmente uma maneira de administrar de acordo com o que a população deseja, merece e precisa.
NM: Quais seriam as outras iniciativas do seu governo que são merecedoras da gratidão popular?
TB: Entre diversas outras, lembraria a implantação da Escola
NM: Quais desses projetos você acha que entrarão para a história, sem que nenhum outro prefeito tenha coragem de paralisar?
TB: Todos são projetos relevantes para a população. Portanto, não creio que algum deles possa vir a ser objeto de consideração negativa, a ponto de fazê-lo parar.
NM: Por falar nisso, o Código do Meio Ambiente, foi aprovado por unanimidade pelos vereadores, mas entre as emendas aprovadas incluídas nas audiências públicas, parte não foi publicada oficialmente pela Prefeitura. Você tem conhecimento desse erro? Foram tomadas as providências?
TB: As propostas aprovadas nas audiências públicas deveriam ter sido apresentadas como emendas ao projeto de lei pela Câmara. Lembre-se de que no momento em que as audiências ocorreram o projeto de lei de nossa iniciativa já estava tramitando na Câmara Municipal. Nem poderia ser diferente. Portanto, o rito exigia que as propostas apresentadas e aprovadas pela população se transformassem em emendas da Câmara, seja através dos vereadores ou das comissões permanentes da Casa. Depois de aprovado o projeto, ele pode ser apenas promulgado ou vetado. Ele retornou a mim nesta condição, em um momento em que nada mais pode ser alterado. E então foi promulgado e publicado. Como eu já tinha conhecimento desta situação, determinei já há algum tempo a elaboração de um novo projeto de lei que incorporará aquilo que a população aprovou nas audiências públicas, mas não foi incorporado ao Código pela Câmara Municipal.
NM: As terceirizações da Coleta de Lixo, Merenda Escolar e Limpeza Urbana, independentemente das eventuais melhorias que possam ter agregado à população, trouxeram-lhe algumas dores de cabeça, como anotações desfavoráveis do Tribunal de Contas e processos judiciais. Você se arrepende dessas iniciativas?
TB: Foram anotações técnicas, baseadas unicamente na interpretação que foi dada a um ou outro aspecto das contratações. E como todos sabem, interpretação jurídica pode ser discutida. É isso que estamos fazendo, argumentando de acordo com o nosso ponto de vista. O que não se discute é sentença e decisão de magistrado. E o que importa, acima de tudo, é que não foram contratações consideradas ilegais ou lesivas ao interesse público. Pelo contrário.
NM: Isso significa que você faria tudo de novo, tudo do mesmo jeito ou buscaria aperfeiçoamentos?
TB: Como disse em uma resposta anterior, tudo pode ser melhorado. Teria as mesmas iniciativas normalmente, tenha certeza, porque estou convicto de que elas trouxeram uma melhor qualidade de vida para o povo de Itapira. Mas a experiência hoje talvez nos conduzisse a soluções mais rápidas e eficazes para sua efetivação.
NM: Você ainda se defende em um processo judicial por prática de Nepotismo ao oferecer um cargo a sua irmã e empregar a mulher de Manoel Marques e o marido da Sonia Santos. Em que estágio está esse processo?
TB: Já obtivemos uma vitória importantíssima neste processo, na medida em que o Tribunal de Justiça determinou que não deveremos devolver aos cofres públicos o valor dos salários pagos às pessoas contratadas. Só isso, de certa forma, já comprova nossa tese de que as contratações foram feitas de forma regular. Agora o processo está no Tribunal, onde aguarda decisão em recurso que apresentamos exatamente para consolidar nossa tese de que as contratações foram regulares.
NM: Independentemente do mérito, você desaconselharia o próximo prefeito de usar esse expediente?
TB: Tem algo que é muito mais amplo que isso. Penso que é muito grave nomear qualquer pessoa, mesmo não sendo parente, sabendo que ela não vai trabalhar ou não tem competência para o cargo. Não foi o caso naquelas contratações que fizemos, pois eram pessoas competentes que trabalharam nos cargos para os quais foram nomeadas. E você mesmo acabou de lembrar que hoje os horários de trabalho são cumpridos na administração municipal.
NM: É inegável que você elegeu o acesso da Sociedade Esportiva Itapirense às categorias superiores como prioridade pessoal, justificável pelo seu retrospecto futebolista. Ao que tudo indica está cada vez mais difícil de você realizar esse sonho. O seu empenho lhe rendeu dissabores. Há pleitos judiciais que estão complicando a vida do clube. Várias vezes, você foi obrigado a se envolver nas questões internas da agremiação. Precisou, inclusive, atuar, no caso dos patrocinadores principais, como cobrador especial, recolhendo pessoalmente as contribuições mensais em dinheiro, dado a impossibilidade de contabilizar os valores recebidos. Essas histórias são verdadeiras ou são frutos da imaginação dos seus adversários?
TB: O clube tem sua própria vida e eu sou, de fato, ou pelo menos me considero, seu mais entusiasmado torcedor. Isso atrai especulações de toda sorte, ao mesmo tempo em que também ajuda a Sociedade Esportiva Itapirense. Pessoalmente, incentivo a trajetória do time. Mas a maioria do que se fala não passa de outra lenda urbana, especialmente porque o clube tem uma diretoria própria e atuante, capaz de desempenhar todas as tarefas necessárias ao bom andamento das atividades. No seu retorno, a Esportiva foi presidida por um empresário local que era, ao mesmo tempo, seu maior financiador. Hoje ela é presidida pelo esportista Flávio Boretti que, por sinal, ainda conta com a colaboração deste empresário no conselho do clube. Então, não existe e nem haveria a necessidade de um envolvimento maior de minha parte neste processo.
NM: É fato, no entanto, a existência de um passivo trabalhista nada desprezível. Para quem ficará essa conta? O que vai garantir os pagamentos?
TB: Como disse, o clube tem sua vida própria. Tenho convicção de que a diretoria saberá resolver qualquer tipo de pendência existente, se é que existe.
NM: Na sua reeleição parte dos votos que você recebeu em 2004 migraram para candidata apoiada por Barros Munhoz. Na eleição legislativa do ano passado, o deputado aumentou a votação recebida aqui, consideravelmente, em relação a 2006. Levou 75% dos votos válidos. A que você atribui essa tendência. À sua administração, à falta de candidato alternativo ou ao trabalho do próprio deputado?
TB: Acredito que a longa trajetória política do deputado lhe garante uma certa sobrevida eleitoral. Por outro lado, estão sendo comparados resultados de pleitos diferentes e em épocas diferentes. Um caso é a eleição municipal, quando a tendência da população inclina-se de uma maneira; outra é a eleição parlamentar, em que a inclinação muitas vezes é diferente.
NM: Você integra o grupo que acha que o povo de Itapira vota
TB: Não voto nele, portanto me coloco apenas dentro do debate que diz respeito aos candidatos de meu partido e de minha base.
NM: A grande imprensa escancarou os processos que rolam na justiça contra Barro Munhoz. Qual é a sua avaliação sobre os eventuais arranhões que ele possa ter sofrido em Itapira e no Estado?
TB: A avaliação neste momento ainda é prematura. Creio que apenas dentro de algum tempo se saberá qual o resultado disso para o patrimônio político do deputado.
NM: Avalia-se que Itapira poderia ter crescido economicamente mais do que cresceu usando a locomotiva comandada pelo presidente Lula e buscado a influência, nada mais do que obrigatória, do Deputado Barros Munhoz. Esse casamento de interesses não aconteceu e Itapira deve ter perdido muita coisa com isso. Onde estavam os entraves: com você ou com o deputado ou com os dois?
TB: O presidente Lula foi um notável companheiro de Itapira, liberando recursos que nos permitiram realizar um grande número de obras para os itapirenses. Sou extremamente grato a ele pela atenção que sempre deu aos nossos pedidos. Estive pessoalmente com ele em algumas ocasiões e externei a ele esta minha gratidão em nome do povo de Itapira. Quanto ao governo do Estado, sempre disse que receberia de bom grado tudo o que nos fosse encaminhado E assim fizemos. De modo que não vejo entrave de minha parte, muito pelo contrário, pois tive a felicidade de ser extremamente bem atendido pelo presidente mais popular da História do Brasil e também recebi alguns recursos do governo do Estado, que era totalmente contra ao governo Lula, que tinha na sua base o partido a que pertenço.
NM: Gostei da rapidez e do formato da sua reação quanto à oferta das 400 casas propostas por Barros Munhoz. Você devolveu-lhe a batata quente e, ainda por cima, chamou melhorias para o município. Eu venho propondo essa postura a você faz tempo. Agora não é tarde?
TB: Pelo contrário. Acho que é momento certo. Primeiro, porque a oferta das casas foi feita agora. Basta tornar viável o que foi proposto. Segundo, porque realmente queremos atender este sonho da população, mas queremos fazê-lo garantindo condições dignas de moradia, assegurando infra-estrutura social para todos. Daí o pedido da creche, da escola e do posto de saúde. Finalmente, quero lembrar que ainda tenho mandato até o final de 2012. Tempo mais do que suficiente para que o governo do Estado possa fazer investimentos
NM: Você fez uma propaganda vistosa sobre a nova escola do SESI, depois de uma longa batalha. Quase perdemos. De qualquer maneira, parabéns pela conquista. Mas Carlinhos Sartori tem dito que a escritura ainda não foi registrada. Isso é verdade? Corremos algum risco de ainda perder essa obra?
TB: Só se perdermos por conta da atuação do próprio vereador Carlinhos Sartori. A exigência de início das obras 30 dias após o registro da escritura só existe porque o vereador apresentou emenda neste sentido ao nosso projeto de lei. É o inciso C do artigo 4º. da lei 4724, de março deste ano. Como ele provavelmente não entende de construção de obras deste porte, e não se preocupou em se informar a respeito, criou este problema para o SESI, que, constrangido, nos solicitou o adiamento do registro da escritura para poder dar andamento à licitação para contratação da obra. Aliás, em certos momentos tenho uma tendência a imaginar que o vereador apresentou e fez aprovar esta emenda, em um momento em que a oposição tinha clara maioria na Câmara, apenas para criar este constrangimento com o SESI e dificultar a execução da obra. Mas espero que esta análise seja apenas fruto da minha imaginação.
NM: Fazer o sucessor é tão importante quanto vencer a eleição, pois revela que além de sacramentar a administração que se encerra, mostra o grau de influência que o patrocinador mantém sobre o eleitorado que lhe apóia. Quais são as chances reais de você fazer o seu sucessor? Você está preocupado com isso?
TB: Chances reais e objetivas de fazer o sucessor, tenha a certeza de que existem. A avaliação geral é positiva e sólida. De maneira que não me preocupo com isso. Estou atento a isso, o que é diferente.
NM: Do seu grupo fala-se
TB: A decisão dentro do nosso grupo sempre é e será democrática e respeitosa, o que afasta, portanto, a possibilidade de ser imposto um nome guardado a sete chaves. Agora, a diferença fundamental dentro de nosso grupo, ao contrário dos demais, é que temos um grande número de pessoas com indiscutível capacidade de comandar a Prefeitura. E é sempre bom ter um grande número do que estar rasos de candidatos. Assim, tenho a certeza de que apresentaremos à população itapirense o melhor candidato que ela poderá ter. Este é um diferencial do nosso grupo. Se você quiser fazer um comparativo, é prático: em uma única pergunta, você apresentou, de chofre, quatro ou cinco nomes nossos que têm capacidade e consistência para disputar e comandar a Prefeitura. Falando rapidamente assim, você encontraria quatro ou cinco nomes na oposição?
NM: Para o grupo comandado pelo ex-prefeito, quanto mais candidatos vindos do Novo Tempo, melhor. Alberto Mendes é candidato declarado, Sônia e Manoel também querem e, agora aparece com força, Dado Boretti e Devaldo Cescon. Você acredita que poderá reverter esse quadro e aglutinar as forças em torno de um único nome?
TB: Como disse, nosso grande diferencial é ter muita gente capacitada. Mas ao mesmo tempo é um grupo coeso, com um projeto político único e bem fundamentado. Portanto, é claro que sairá um só nome de nosso grupo, como também é claro que sairá forte, com sustentação e pronto para vencer.
NM: Você bem sabe. Sempre admirei você como pessoa e como cidadão. Dei-lhe o meu voto nas duas eleições. Torci para o sucesso da sua administração. Vi avanços, mas esperava muito mais da sua politicidade. Faltou-lhe, no meu ponto de vista, um projeto de poder e mais sangue político nas veias. Desde a proclamação dos resultados penso em lhe fazer essa pergunta: você se vê como um político ou como um engenheiro que foi eleito prefeito?
TB: Vejo-me como um cidadão itapirense que teve a felicidade de merecer a confiança de seu povo por duas vezes seguidas. Agora, não me vejo como alguém que veio dar sua colaboração para o desenvolvimento da cidade com o objetivo também de se eternizar no poder. Mesmo se a lei eleitoral permitisse, não lançaria, por exemplo, minha esposa candidata à minha sucessão, principalmente se ela não tivesse vocação política e administrativa, o que não é o caso da Marina, que tem uma notável sensibilidade para as questões assistenciais. Ou meu irmão. O poder pelo poder se desgasta. E quero lembrar uma frase aqui de um cientista político: o longo uso do poder muitas vezes está associado ao mau uso do poder. Então, a alternância é até uma necessidade essencial da existência e continuidade da democracia.
NM: Você pretende se candidatar nas eleições de 2014 para deputado?
TB: Ninguém é candidato na véspera. As condições políticas de 2014 serão muito diferentes das atuais.
NM: Você tem pretensões de voltar a ser prefeito de Itapira?
TB: Embora o desejo do candidato seja sempre essencial para a disputa, é o desejo da população que torna viável sua candidatura. Hoje não é o momento de discutir o futuro.
NM: Prefeito, eu agradeço a sua atenção, a paciência, e, sobretudo, a coragem ao responder as perguntas formuladas, retiradas das dúvidas e comentários espalhados por Itapira. Mostrou, com isso, não temer a verdade que carrega em sua consciência. A entrevista foi deveras esclarecedora. Peço as suas considerações finais.
TB: Inicialmente, agradeço a sua disposição e do jornal Cidade de me ouvir nesta entrevista que considero que foi franca e sincera de ambas as partes. E quero dizer à população de Itapira, aproveitando este espaço, que desde o início da minha administração, em 2005, tenho procurado fazer o melhor por nossa cidade. Nasci aqui, vivo aqui e conheço de perto cada pedaço de nosso município. Itapira continuará sendo minha terra e meu lar. Arrisco-me a dizer que por isso conheço bem o que nossa população quer, precisa, deseja e merece. Tenho feito o melhor e quero continuar fazendo o melhor. Agradeço a todos o apoio recebido e reafirmo que vou continuar a retribuir este carinho. Muito obrigado.
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