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Itapira, 24 de Novembro de 2024
Notícia
04/09/2014 | Estiagem provoca corrida por poços artesianos em toda cidade

Os maus presságios cau­sados pela pior estiagem das regiões sudeste e centroeste nos últimos setenta anos tem causado uma correria atrás de um tipo de serviço que exige bastante qualificação, a abertura de poços artesanais (os chamados poços caipira) e profundos, classificados como semi-artesiano e ar­tesiano. Por toda a cidade tem aumentado este tipo de benfeitoria. O problema é que existem bem poucos profissionais da área .

Segundo Mauro Apare­cido Alves de Godoy, espe­cializado em poços caipira, já não tem como pegar ne­nhuma nova empreitada. “Por causa da seca, tenho recebido muitos pedidos para aumentar a profundi­dade dos poços, exatamente porque muitos deles seca­ram”, relatou. Godoy conta que por conta deste tipo de atendimento, tem deixado de lado os poços novos. “Tenho muitos pedidos. As pessoas entendem que não se trata de um serviço que se realiza de um dia para o outro e por isso tem paciência”, comentou. Ele trabalha com mais dois aju­dantes e nem isso alivia o serviço. “Estou numa fase em que tenho serviço de segunda a segundo se eu quiser”, garantiu. Além de perfurar o poço em si, ele faz o trabalho de alvenaria, drenagens e até fossas as­sépticas.

Há 18 anos trabalhando nisso, ele diz que não se recorda de uma estiagem destas proporções e que acha natural que as pessoas fiquem assustadas. “Nin­guém pode ficar sem água. É um aperto só”, comenta.

Já o empresário Francisco Lima, 55, é especializado na perfuração de poços profundos. Consta no por­tfólio de sua empresa (FP Poços) poços de indústria como Nutron, Estrela e de várias chácaras de recreio em Itapira e também em toda região. A vazão e a pro­fundidade variam, segundo comentou, de acordo com o local onde a perfuração é feita. “Já cheguei a perfurar posto com quase 400 metros para encontrar água”, diz.

Lima ensina que o que diferencia um poço artesiano de um poço semiartesiano é um típico lance de sorte. Denomina-se poço artesiano aquele cuja pressão traz a água até a superfície sem necessidade de utilização de uma bomba. “Isto é muito raro de acontecer. Para você ter uma ideia, em 18 anos neste ramo somente uma vez consegui achar um veio de água com estas condições”, registrou. Aqueles poços profundos que precisam de bombas são chamados de semiartesianos.

Formado em Tecnolo­gia de Recursos Hídricos, Lima disse que esta é uma atividade que exige muita tecnologia para ser bem su­cedida. Ele fala que os poços que não exigem perfurações em grandes profundida­des são resultantes de água armazenada logo acima de rochas e que vem daí a limitação de seu alcance. “Em tempos de estiagem brava como esta fica mais difícil extrair a água de locais onde ela provavelmente já se infiltrou em camadas inferiores do solo. Quando os equipamentos que fa­zem estes poços de menor profundidade encontram material rochoso, via de regra não conseguirão ob­ter a água. Não por acaso muitos deles já estão secos”, observa.

Francisco Lima disse que tem pelo menos 32 clien­tes na fila de espera por um poço novo e diz que os interessados deverão ter paciência. Pelo ritmo que opera, consegue fazer de dois a três deles por mês. “Um poço demanda um cer­to tempo para ser perfurado e depois ser colocado em condições ideais de uso. Na prática é como uma obra de construção civil”, avisa. Ele também engrossa o coro dos que estão inconformados com a atual estiagem. “É um fenômeno que seguramente ocorre a cada período de 80 anos, mas que existe. O ser humano deve aprender com ele”, recomenda.

O aquecimento de sua atividade reflete também em outros setores, como atesta o empresário William Santa Luzia, 35, dono da Mecânica Tawita, no Distrito Industrial Carlos Ionezawa. Ele constrói as platafor­mas onde serão fixadas as enormes perfuratrizes utilizadas por Lima. Santa Luzia explica que conforme a profundidade atingida pelo equipamento, maior também é a estrutura a ser montada. “Chegamos a fazer estrutura que são muito pesadas”, admitiu

Corrida

O professor e doutor em geologia Erasto Boretti de Almeida, uma das grandes autoridades brasileiras no assunto, também defende que a sociedade de uma forma geral aprenda com os efeitos de um período de estiagem como este que estamos vivenciando. Ele nota que a corrida para perfuração de poços ve­rificada em todo o Estado de São Paulo é um sintoma evidente da cultura do im­proviso que segundo ele acomete principalmente os agentes públicos. “Tenho notado sim que de repente muita gente passou a querer um poço artesiano, com medo de ficar sem água. Noto também que muitas prefeituras também têm contratado obras deste tipo. É uma solução palia­tiva que evidentemente é muito bem vinda neste momento de grave crise hí­drica. Bastará que as chuvas retomem seu ciclo normal que tudo isso acaba caindo no esquecimento. Este é o erro. Na crise energética de 2001, nunca se vendeu tanto gerador de energia. Reestabelecida a normali­dade, isso também acabou sendo relevado a um plano secundário. É uma pena que muitas pessoas ainda ajam por impulso, pelas necessidades do momento, quando o planejamento, o estudo detalhado de cada situação, é que deve pre­valecer”, analisou.

Apesar de itapirense de nascimento, Erasto Boretti está radicado em São Paulo há varias décadas e eventu­almente vem descansar aqui na cidade, onde possui uma propriedade na zona rural. Ficou feliz ao saber que o município está investindo numa represa. “É uma obra indispensável que entre outros benefícios, tem o condão de normalizar os reservatórios subterrâneos”, acredita.

Fonte: Da Redação do PCI

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