O Senado argentino deve aprovar nesta quarta-feira (25) o projeto de lei que expropria 51% das ações da empresa petrolífera YPF, administrada pela Repsol. A votação começa às 10h30 e o governo tem ampla maioria, além do apoio de 62% dos argentinos, segundo pesquisa da consultoria Poliarquia. Mas muitos que apoiam a medida questionam os motivos da presidenta Cristina Kirchner.
“Não tenho como votar contra porque sempre defendi o princípio de que o petróleo é nosso e nunca deveria ter sido privatizado”, disse à Agência Brasil a senadora Norma Morandini. Jornalista e irmã de dois desaparecidos da ditadura argentina (1973-1985), ela foi candidata à Vice-Presidência pela Frente Ampla Progressista – a segunda colocada nas eleições presidenciais de 2011. Mas, apesar de sua posição coincidir com a ideologia da presidenta Cristina Kirchner, ela questiona os métodos e motivos.
“É verdade que a empresa espanhola Repsol, ao comprar a YPF argentina, não investiu na exploração e na produção de petróleo e gás no país. Mas também é verdade que tínhamos outros meios para lidar com a situação”, diz ela. Segundo a senadora, bastava retirar da Repsol as concessões das áreas que a empresa não explorou como devia. Essa medida está prevista na lei. Mas tanto o ex-presidente Néstor Kirchner (2003-2007), quanto sua mulher e sucessora, Cristina Kirchner (eleita em 2007 e reeleita em 2011), “nada fizeram, até que a crise energética estourou”, acrescenta Morandini.
A presidenta Cristina Kirchner respondeu às críticas: “Reescrevemos a história quando podemos e não quando queremos”. Morandini e senadores da União Cívica Radical (UCR), o maior partido da oposição, dizem que falta uma politica energética a longo prazo. Caso contrário, a expropriação em si não aumentará a produção de combustível, nem incentivará a exploração de novas reservas de petróleo e gás.
“Não tem jeito: é preciso investir dinheiro para explorar e produzir petróleo e gás. A Repsol não investiu o suficiente, mas o governo tampouco tem dinheiro para financiar tudo sozinho”, disse à Agência Brasil o economista Fausto Esportorno. “A YPF, mesmo nas mãos do Estado, vai precisar de sócios com dinheiro para investir. E quem investe precisa ter como garantia um projeto de longo prazo”.
De todas as provas que o governo terá que enfrentar, a aprovação da lei de expropriação é a menor. O problema será transformar a YPF em uma empresa controlada pelo Estado, capaz de produzir energia suficiente para sustentar o país – a preços aceitáveis.
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