Eliane: remarcações correm soltas
O aumento da inflação tem dominado o noticiário econômico neste começo de 2014. A inflação oficial medida pelo IBGE de 5,91% entre janeiro e dezembro de 2013 superou a marca do mesmo período em 2012 e levantou dúvidas se o governo terá arsenal suficiente para impedir uma remarcação generalizada dos preços.
Para os entendidos no assunto, a inflação do ano passado só não furou o chamado “teto” (dois pontos percentuais sobre 4,5% considerado o centro da meta inflacionária) porque o governo segurou aumentos de preços administrados como energia elétrica e combustíveis.
Em Itapira a percepção é de que as preocupações dos agentes econômicos têm razão de ser. “Eu frequento muito os supermercados da cidade e não tem como não notar que em todos eles existe uma remarcação generalizadas dos preços”, contou a faturista Eliane Sartorelli. Ela afirma que itens como perfumaria, produtos lácteos, produtos de higiene e carne foram os que mais tiveram aumento de preço. “Infelizmente estou tendo aquela percepção de que meu salário está valendo cada vez menos”, criticou.
A servidora municipal Luzia Cecília Vieira, a Cila, disse que tem notado aumento em vários produtos e que por isso tem recorrido a uma antiga e eficiente estratégia para driblar o aumento dos preços. “Eu sou uma autêntica caçadora de ofertas. Eu pauto minhas compras por elas. Compro produtos de qualidade pagando menos”, garantiu.
Renato Zeferino, do setor de compras dos Supermercados Cubatão, não vê uma onda disseminada de remarcações, ao contrário do que dizem os consumidores. Segundo ele, é comum neste começo de ano representantes das indústrias negociarem reajuste de seus produtos. “Para se ter uma idéia mais clara sobre o nível dos reajustes aplicados a gente tem que esperar pelo menos até o final deste mês depois de conversarmos com todas as partes interessadas”, observou. Ainda assim ele atenta para o fato de que alguns produtos, especialmente gêneros alimentícios, têm apresentado uma oscilação, como é o caso da carne e do leite. “Alguns produtos apresentam uma sazonalidade que é ditada pela lei da oferta e da procura. No final e começo de ano, normalmente, as pessoas consomem mais carne, por exemplo. Isso interfere no preço. Mas já temos notado uma pequena desaceleração nesta tendência de alta. O frango por exemplo teve uma redução. Isso vai ocorrer também com outros produtos”, aposta.
A alta do dólar tem influenciado um outro produto que costuma causar alarme nos índices inflacionários, que é o pão. Donos de padaria reclamam que o preço da farinha já subiu cerca de 40% desde o final do ano passado. “Temos arcado comum aumento do preço da farinha muito expressivo, sem, no entanto, repassar este aumento para nosso consumidor. O problema é que se a situação persistir por mais tempo, não tem como segurar o aumento”, disse o empresário Paulo Pavinatto, da padaria São Jorge. Segundo ele, colegas de outras cidades já majoraram o preço do pão em até 25%.
A Argentina, principal fornecedora da farinha usada para a panificação no país, está restringindo sua exportação dentro da área do Mercosul. Com problemas de liquidez, o vizinho país estaria propenso a aumentar suas vendas para fora do bloco, atrás de divisas. O imposto do Mercosul é pequeno em comparação ao produto comprado de outros países da América do Norte e da Europa, ou seja, caso não haja uma estratégia clara do governo neste sentido, a farinha vai subir ainda mais.
Alimentos
A alimentação fora de casa é apontada junto com os serviços como os principais alimentadores da inflação em 2013. O representante comercial Edvaldo Pietrafesa praticamente almoça fora de casa todos os dias e tem opinião formada sobre o assunto. “Acho que depois de um realinhamento ocorrido de dois anos para cá, o preço da comida em restaurante tem mantido um patamar aceitável. Não tenho observado este abuso que tanta gente admite existir. Abuso eu tenho percebido dentro dos supermercados”, queixou-se.
Dentro do setor de construção civil a avaliação é parecida. Pedro Augusto Marchioretto, 30 anos no ramo, diz que houve uma acomodação nos preços dos principais insumos. “Se a inflação está assustando não é por causa do setor de construção civil”, aponta. Ele diz que a contribuição do setor para o aumento dos preços ocorre de uma outra forma. “O que tem subido significativamente é a mão de obra. Hoje o custo do serviço rivaliza como os gastos com material”, ensina.
Em outro setor estratégico, da venda de ferragens e aços especiais, o empresário Edson Yoshio Cachiba, o Shiô, da Itaferro, tem notado um movimento de reajustes. “Em vários produtos tivemos aumento de até 7,5%, portanto acima da inflação. É uma situação delicada porque você tem que segurar o máximo para não repassar este aumento para o consumidor
final. Mas chega um momento em que isso se torna impossível”, propõe. Cachiba lembra que o setor é um daqueles que estão sempre sendo monitorados muito de perto pelo governo por causa do poder das grandes companhias siderúrgicas.
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