Continuando nosso debate sobre o carnaval, pediria aos leitores que não me acusem de moralismo. Não é isto que estou falando. A questão não é a nudez, as músicas com segundas intenções ou os gestos repetidos mecanicamente sem saber a finalidade dos mesmos. O problema é a lógica de tal evento. “Hoje, o desfile das escolas de samba e dos blocos carnavalescos internacionalizou-se e ganharam um caráter puramente empresarial. Enfim, na era das privatizações até o carnaval foi vendido. O festejo popular atual virou um negócio muito lucrativo”.
Assim, não se trata de simplesmente importar o jeito dos trios elétricos para Itapira. Bem, é lógico que tal solução é bem fácil: basta arrumar uma verba do governo, os comerciantes ficarão contentes, a população vai pular entusiasmada, mas não resolveremos o problema do carnaval, pois este não é apenas pular ou desaguar nossa ânsia de liberdade sem controles e limites. Podemos até ter ruas cheias, mas estaremos reproduzindo a lógica que leva os bicheiros de SP a ficar se estapeando por notas medíocres para quesitos absurdos.
Retomar o carnaval em Itapira, não é apenas retomar uma questão de nossa cidade. É um problema cultural e mercantil. Trata-se de pensar efetivamente que modelo de carnaval queremos. Trata-se de um grande desafio: revolucionar o carnaval no sentido da pura e simples brincadeira, sem qualquer necessidade de suntuosidade (que é diferente de beleza), de altos custos (que é diferente de criatividade), sem qualquer necessidade de astros e estrelas (pois a festa é do anonimato). Eis aqui um caminho para pensarmos e não sairmos em defesa de um modelo que é uma caricatura monstruosa da própria necessidade do capital: fazer festa com a exploraçao da classe explorada.
Flavio Eduardo Mazetto (cientista político e professor) [email protected]
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