Feita esta consideração sobre a subordinação metodológica do representante à questão da estrutura política e jurídica do Estado (uma questão marxista, como podem perceber), voltemos ao representante. Qual o melhor caminho para escolher o representante, tanto nas eleições, como também na hora de partidos escolherem seus candidatos. Para começo de conversa: a maioria dos partidos é absurdamente antidemocrática. A cúpula escolhe o candidato mais palatável para a opinião pública, aquele que pode ter poder de convencimento e de marketing, é lógico. A maioria das convenções são apenas fachadas para sacramentar o nome que cimentou a possibilidade de vitória. Em alguns casos nem convenção se realiza. O PSDB-DEM há um bom tempo e o PT, também, mais recentemente, tem feito tal prática. O nome que emplaca na mídia é selecionado para a disputa. Então o problema estaria no procedimento, que estaria contaminado e precisaria ser purificado. Mais uma vez, devo discordar de meu ponto de vista. Não o problema não é o procedimento. O problema é, de novo, o representante.
Vamos explicar. Vemos na mídia municipal e principalmente nos grandes meios de comunicação nacional, vários pretendentes a representante da população. Tais nomes são enaltecidos pelas suas qualidades, pela sua capacidade de conciliação e negociação, pelo seu traquejo político na busca do bem comum. Apresentam-se as ações do protagonista que o credenciariam para ser o representante digno do povo. Nada mais idealista e conservador, pois recupera algo espetacularmente nocivo para uma dinâmica popular da política: o personalismo político. O que é isto? É a escolha de um personagem sem elaboração de qualquer projeto político junto aos próprios representados. Ficamos tecendo elogios aos candidatos a representantes, quando deveríamos dizer que eles não são representantes de ninguém por definição, pois não foram indicados para desenvolver um programa de mudanças definidos efetivamente pelos representados. Sinto muito informar aos caros postulantes a representantes que desfilam pela mídia: vocês representam, desde já, a mesmice na política, o desprestigio da participação, a cidadania regulada, a restrição da democracia (os apoiadores midiáticos também merecem os rótulos acima). No fundo, estarão reforçando o domínio do capital (bom, na verdade, alguns nomes querem exatamente defender os interesses empresariais sobre os direitos dos trabalhadores) e reforçando a exploração das classes oprimidas, como também impedindo um mínimo de educação para a luta, o protesto, para uma democracia real de luta de classes.
Flavio Eduardo Mazetto (cientista político e professor) [email protected]
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