Muitos assuntos temos a discutir neste começo de ano: a ideia nefasta de esperança, a propaganda ideológica do Brasil como sexta economia mundial, os problemas recorrentes da chuva, ou melhor, da forma de ocupação de nossas cidades etc. Mas devo, a titulo de conclusão, elaborar mais alguns tópicos sobre a questão da representação. Estamos em ano eleitoral e nada melhor do que estabelecer uma crítica substancial daquilo que acontecerá em outubro: vamos eleger representantes que não nos representarão efetivamente. E não se trata de um defeito da democracia, mas da sua própria característica em um sistema social capitalista, onde os interesses das classes dominantes estão inscritos na própria forma de operacionalidade do Estado atual e burguês. Mas vamos com calma.
Antes de qualquer coisa. As páginas passadas, que pareciam meio fora da realidade, tinham como objetivo situar o leitor no terreno da representação. Elas demonstraram que mesmo sujeitos que defendem a tal democracia e a participação não defendem, ao mesmo tempo, a questão da representação. O motivo não é que fossem autoritários, mas demonstravam os problemas de gestão de um regime com base nas opiniões desqualificadas de muitos. Ou seja, para tais autores a democracia funcionaria melhor sem a lógica da representação, mesmo que eles supostamente propugnassem pelo bem comum. Enfim, devemos esquecer a ideia de que a representação é o substrato fundamental da democracia, visto que esta é concebida inclusive sem a tal representação.
Todavia, estamos nestes artigos defendendo a representação. Ou melhor, queremos entender a lógica da representação e analisar sua atual desconsideração, visto existir uma apatia do eleitorado em relação aos seus supostos benefícios, algo que leva inclusive a cálculos pragmáticos (o que eu vou ganhar agora se votar em fulano). No fundo, constatamos um descompasso entre representantes e representados. Vou refrescar a memória de quem nos acompanha. Várias decisões pelo mundo afora tem sido tomadas por nossos representantes a despeito do entendimento totalmente contrário da população em geral. Os governos tomam atitudes em total desconsideração em relação àquilo que a nação demonstra nas ruas e praças públicas. (continua)
Flavio Eduardo Mazetto (cientista político e professor) [email protected]
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