Tornou-se terreno comum a ideia de que temos problemas na educação. Na realidade, temos muitos, todavia isto é extremamente positivo. Seria muito ruim se a educação atual não apresentasse problemas, visto não ser pensada a partir das realidades complexas dos alunos, não ser construída por um viés democrático de participação – especialmente de professores e comunidade-, seu conteúdo ser uma medida da voracidade das editoras e seus contratos de reciprocidade com governos e suas apostilas mirabolantes, além, é claro, da perspectiva neoliberal das pedagogias transformando educação em aprendizagem-treinamento, convertida em preparação para o mercado de trabalho, gerando lucros e dividendos para a “privataria” educacional das escolas particulares.
Mas, e a ideia de que a educação serve para o mercado de trabalho, não deve ser apoiada? Paulo Freire, um dos grandes educadores brasileiros tem o seguinte questionamento: “uma das questões centrais que temos de lidar é a promoção de posturas rebeldes em posturas revolucionárias que nos engajam no processo radical de transformação do mundo”. Ou seja, os dirigentes educacionais conhecem muito bem a rebeldia descontrolada que temos nas escolas e querem transformá-las em docilidade e adestramento para um sucesso medíocre na arena cruel do mundo do trabalho.
Neste sentido, defender que a educação deve ter como fundamento “as oportunidades na carreira profissional” (conforme Paganini-PSDB), a garantia de “disputar os melhores empregos do mercado” (conforme Manoel-PV), “a formação do caráter e o preparo das novas gerações para os novos desafios” (Alberto-PDT) é definir a educação como um elemento de reprodução e continuidade de um paradigma de sociedade que gera exploração, desigualdade e sofrimento. No entanto, este é o pensamento geral dos candidatos a prefeito em nossa cidade (reportagem Jornal A Gazeta Itapirense). Não conseguem fugir de um modelo educacional que identifica nos alunos e professores os problemas da educação não funcionar, quando em realidade são as vítimas de uma sociedade capitalista que apreende a educação como mercadoria.
Os candidatos ao cargo majoritário reforçam uma educação que coloca a responsabilidade pelo fracasso no próprio indivíduo, visto que todas as “pretensas e supostas oportunidades” estariam abertas na escola. No entanto, trata-se de um modelo educacional adequado à flexibilização da reestruturação produtiva neoliberal, onde subjaz uma formação da mão de obra que não tem como foco o compêndio de saberes que a humanidade produziu. Não está em vista a produção de um aluno pensante, crítico, que discuta a realidade que o circunda, que traga o seu cotidiano para o espaço da educação escolar e que se possa problematizar este cotidiano muitas vezes apenas um reflexo da própria sociedade consumista e individualista.
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