Um problema que se arrasta por pelo menos duas décadas e que inferniza a vida de algumas dezenas de famílias que residem num empreendimento localizado na ligação interna entre Itapira e Mogi Mirim poderá resultar num protesto inusitado na cidade. Pelo menos é o que prometem alguns moradores do Condomínio Areião, um empreendimento que teria tido como idealizador um já falecido investidor da cidade. “Vamos acampar em frente a casa da pessoa que for responsável pelo loteamento”, prometeu um morador que pediu anonimato.
A se julgar pelo relato feito por diversos moradores ouvidos, a disposição de protestar contra a atual situação deve ser levada a sério. Segundo informou
o empresário Nilson Higino, atual síndico, a situação chegou a um ponto insustentável e de acordo com sua declarações, uma forma de protesto mais contundente está de fato em vias de ser efetivada e o alvo seria a dona de casa Doraci de Lima, viúva do empresário Antonio de Lima, o Toninho de Lima, o responsável, segundo moradores, pelo empreendimento.
Higino considera o fato da irmã deToninho de Lima, Luzia Aparecida Lima Duzzo, estar legalmente respondendo pelo processo bastante suspeito. De acordo com seu entendimento o caso sugere uma manobra para livrar da responsabilidade familiares do antigo proprietário e desta forma tentar protelar por mais tempo a infinidade de medidas aguardas pelos moradores. “Quem vendia os terrenos e assinava os recibos era o Toninho de Lima. Isto é público e notório. A mim causa enorme estranhamento que no momento em que existe um verdadeiro clamor coletivo de proprietários de imóveispara que este caso seja solucionado, apareça o nome da irmã dele como responsável legal. Fica implícito, na minha opinião, uma tentativa de se criar uma chicana jurídica para retardar ainda mais este processo . Levarei esta minha suspeita de que o assunto pode de repente estar sendo conduzido por pessoas inidôneas ao Ministério Público para que isso seja apurado”, prometeu.
O representante comercial Thiago Masotti contou que realizou negócios pessoalmente com o falecido Antonio de Lima. “Eu tenho o contrato de compra e venda assinado pelo Toninho de Lima, onde estão relacionadas as melhorias que ele prometeu aos compradores que haveria no local”, comentou. Eleaponta para outro fato grave dentro do intrincado enredo envolvendo o referido empreendimento, a ausência de escrituras. “Este é um fato da maior gravidade porque dá uma dimensão de clandestinidade ao loteamento”, afirmou.
O aposentado Antenor Ferrari, 77 anos, atual vice-síndico e há seis anos morando no local,afirmou que por causa da má qualidade da tubulação colocada no local para levar água às residências, que ocasiona enormes vazamentos, o SAAE (Serviço Autônomo de Água e Esgotos) de Mogi Mirim desligou o fornecimento. É a segunda vez nos últimos dois anos que a medida extrema foi adotada. Na primeira vez a interrupção durou cerca de 15 dias, desta feita já dura mais de um mês, sem solução aparente à vista. “Eu já não tenho mais saúde para ficar fazendo reparos na tubulação”, disse Ferrari. O aposentado conta que para contornar o problema custeia com outros membros da família água trazida semanalmente por um caminhão-pipa que abastece duas caixas de 500 litros cada. “É uma situação perversa, porque a gente já recebe muito pouco da aposentadoria e de repente tem que gastar para adquirir água. Dá vontade de ir embora em definitivo daqui”, lamentou.
A situação castiga principalmente aqueles moradores de menor poder aquisitivo . Dona Aparecida Laurindo Carvalho, que mora no local há 22 anos, desde que o loteamento teve início contou que tem que buscar água em garrafas pet num bairro vizinho. Em sua casa moram seis pessoas. “A gente toma banho de canequinha. Uso a água para cozinhar e para outras necessidades, mas tudo é muito difícil sem água”, se queixa.
A família da aposentada Maria do Socorro Leonardo Silva também se vira para buscar água todos os dias nas imediações. “A gente traz no braço todos os dias seis galões de 20 litros. Com esta água a gente cozinha, toma banho daquele jeito e mal dá para lavar as peças íntimas”, protesta a moradora. São dez pessoas divididas em duas casas.
O Condomínio Areião tem 62 propriedades e muitas reclamações
Aqueles que têm carro também reclamam. É o caso do engenheiro civil Antonio Carlos de Oliveira, ex-síndico e que reside no local há sete anos. “É uma pouca vergonha o que acontece aqui, retrato do descaso de pessoas que realizam um empreendimento sem oferecer a devida infraestrutura”, criticou. Ele disse que a situação ficou tão grave que obrigou alguns moradores a tomarem medidas drásticas, como por exemplo, fazer poços em seus quintais. O professor de educação físicaAndré Faria, 46, morador do condomínio há 14 anos, mostra indignado os galões de água que diariamente sai para encher. “Tenho que fazer isso(encher os galões) todos os dias. Eu ainda tenho carro e aqueles que não têm?”, questiona. Aponta a existência de outros problemas de infraestrutura que segundo ele devem se debitados na conta do empreendedor, como falta de calçamento nas ruas, guias, sarjetas e fechamento do terreno. André afirmou que é um dos moradores que vêm se mobilizando paracolocar um basta na situação. “Assim como eu, muitas outras pessoas que optaram por se fixar aqui nãogostariam nem de pensar em mudar para outro local. Então estamos nos organizando para ter atendidas estas nossas reivindicações que nada mais são do que direitos adquiridos. Não vamos deixar barato. Exigimos uma solução e rápido”, argumentou.
Outro lado
O advogado Juvenal Santi Lauri, que representa Luzia Duzzo, garante que a responsável vem tomando providências para resolver a questão e que na sua opinião é tudo uma questão de tempo. “São demandas que não se resolvem assim de uma hora para outra devido a vários outros componentes envolvidos”, afirmou.
A família de Maria do Socorro tem que baldear água de bairro vizinho
Situação das ruas é bastante precária
Situação levou morador a contratar abertura de um poço
Masotti cobra entrega de escrituras
André Faria carrega água em galões: inconformado
Aparecida: banho de canequinha
O engenheiro Antonio Carlos: “pouca vergonha”
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