Nos festejos dos 80 anos da Revolução Constitucionalista de 1932, ganham destaque aqui em Itapira as homenagens dirigidas às famílias descendentes de italianos, cujo principal órgão catalisador da referida comunidade aqui no município, o Círcolo Ítalo-Braziliano, tomou a iniciativa de organizar em sua sede, uma exposição relembrando a participação destas pessoas na consolidação do movimento belicoso que tomou de assalto todo o território paulista naqueles dias de 1932. A família Boretti, foi uma daquelas que tiveram seu nome perpetuado no panteão dos heróis de 1932, graças, principalmente, ao fato de Achiles Boretti ter se alistado entre os voluntários que foram conduzidos à frente de batalha. Teve também na figura de uma mulher uma participação de muito destaque, Stella Boretti. Quem fez a revelação foi a irmã de Achiles, a artista plástica Elenir Boretti Nobre, hoje com 93 anos. Ela contou que a tia Stella Boretti organizou na cidade uma espécie de rede clandestina de abastecimento para alimentar os combatentes revolucionários.
Elenir conta que àquela época, os Boretti já haviam deixado em parte a lida da roça para se estabelecerem como empreendedores. Seu pai Clodomiro Boretti, por exemplo, havia constituído uma indústria de massas. Outros parentes tinham uma fábrica de refrigerantes. Essa familiaridade com a atividade industrial e culinária acabou, conforme seu relato, sendo preponderante para que Stella conseguisse adesões de amigas suas para receber donativos e até no preparo da comida levada no front aos soldados paulista, pratos à base de massa, polenta e frango.
Segundo a aposentada, a comida era feita num imóvel da rua comendador João Cintra, onde funcionava uma sorveteria, tudo “às portas fechadas”. “As tropas legalistas já estavam patrulhando a cidade e minha tia sabia perfeitamente o risco que estava correndo”, comentou. Elenir não soube precisar por quanto tempo Stella Boretti exerceu esta atividade, mas garante que foi por alguns dias apenas.
Ela conta que quando o conflito atingiu seu ápice, seu pai tomou o cuidado de enviar a maior parte da família para São Paulo na casa de parentes. E Stella também foi embora. “Nossa família e mais uma outra, a qual não me recordo agora neste momento, foram enviadas de caminhão até São Paulo até que a situação se amainasse” , relembrou.
Indagada se Stella teria agido daquela forma por caridade ou por se identificar com o movimento constitucionalista, a sobrinha fala que “talvez um pouco dos dois”. Segundo ela, Stella Boretti além de uma alma caridosa era “uma pessoa bastante culta”. “Tenho comigo que ela tinha sim a dimensão do movimento que de repente estava batendo às portas de nossas casas e abraçou a causa, ao seu modo, à sua maneira. Eu sempre tive um carinho muito especial por ela”,
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