NOVA YORK, EUA - Um homem paralisado depois de um acidente de carro foi capaz de ficar de pé e dar alguns passos depois de receber estímulos elétricos em sua medula espinhal, no que os pesquisadores descreveram como um avanço no tratamento de ferimentos devastadores.
Rob Summers, de 25 anos, que jogava baseball na faculdade, também pode mover seus quadris, joelhos, tornozelos e dedos dos pés, e reconquistou algumas funcionalidades da bexiga e sexuais, afirmaram os médicos na última quinta-feira.
- Isso abre uma enorme oportunidade para melhor as funcionalidades diárias desses indivíduos. Mas temos um longo caminho pela frente - disse Susan Harkema, que liderou o estudo na Universidade de Louisville, em Kentucky, nos Estados Unidos. Os resultados foram publicados na revista médica "The Lancet".
- Não é uma cura, e Rob não está andando. Mas esta abordagem pode ter impacto em formas elementares - disse ela. - Permitir que as pessoas fiquem de pé por alguns minutos do dia pode mudar consideravelmente suas condições de saúde.
O paciente recebeu estímulos elétricos diretos contínuos na medula espinhal inferior, um processo elaborado para imitar os sinais do cérebro normalmente transmitidos para iniciar o movimento.
Os pesquisadores passaram mais de dois anos treinando as redes neurais da medula espinhal de Summers para produzir movimentos musculares. Depois disso, o dispositivo de estímulo elétrico foi implantando em suas costas por meio de cirurgia.
Os autores alertam que mais estudos precisam ser feitos antes que a técnica se torne uma prática comum. Mas os resultados trazem otimismo para paraplégicos que já haviam perdido as esperanças de recuperação. Só nos Estados Unidos, mais de cinco milhões de pessoas vivem com alguma forma de paralisia.
Susan, a autora do trabalho, e seus colegas acreditam que a descoberta vai pavimentar o caminho para alguns pacientes de medula espinhal, com a ajuda de uma unidade de estimulação portátil, para ficar em pé e dar alguns passos usando um andador.
Geoffrey Raisman, professor de regeneração neural da Universidade College, em Londres, disse que o caso era interessante, mas chamou atenção para o fato de que "não se trata de uma recuperação, mas uma melhora da função do tecido sobrevivente":
- Do ponto de vista de pessoas que sofrem de lesão da medula espinhal, análises futuras do procedimento podem acrescentar mais uma abordagem para obter algum benefício.
O estudo foi financiado pelo Instituto Nacional de Saúde dos Estados Unidos e a Fundação Christopher e Dana Reeve, do ator que interpretava o Super Homem e ficou tetraplégico após cair de um cavalo. Reeve morreu em 2004. Sua esposa, também atriz, faleceu em 2006.
Summers era um estudante da Universidade Estadual de Oregon e foi vítima de uma acidente de carro em 2006, quando tinha 20 anos. Ele ficou paralisado abaixo do peito, mas reteve alguma sensação abaixo do nível da sua lesão, o que torna incerto se o tratamento funcionaria com pacientes mais graves que perderam todas a sensibilidade. Ele também era um atleta quando sofreu o acidente e provavelmente estava em melhores condições físicas que outras vítimas.
Summers passou mais de três anos em Kentucky se preparando para a cirurgia. Agora ele é capaz de ficar de pé, mantendo o impulso muscular sozinho, e permanece de pé enquanto segura o peso por quatro minutos. Com ajuda de arreios e assistência de um terapeuta, ele consegue repetir os movimentos de pisar numa esteira.
Vivendo agora em Los Angeles, Summers disse que o procedimento mudou sua vida.
- Para alguém que por quatro anos foi incapaz de sequer mover um dedo, ter a liberdade e a habilidade de ficar de pé sozinho é a sensação mais maravilhosa. Meu físico e tônus muscular melhoraram muito, tanto que a maioria das pessoas sequer acredita que estou paralisado.
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