As discussões nas redes sociais acerca das eleições chamou minha atenção. O notável fanatismo, sem generalizações, me fez parar para pensar em como anda a nossa democracia.
Se hoje podemos ir às urnas e votar, com liberdade, é porque o terreno foi preparado, outrora, resultando no atual regime democrático de direito. É de encher a boca para falar. É um ideal bonito. Só não dá valor quem não sabe o que é não ter liberdade. Não poder se expressar! Imagina? No auge da era das redes sociais, se por um descuido voltássemos algumas páginas da nossa história?
Na ditadura militar de algumas décadas apenas sonharíamos em expor nossa opinião e continuar levando a vida normalmente. Contudo, embora hoje tenhamos total liberdade de manifestar nossos pensamentos, será que estamos livres de censura? Será que conceber uma opinião e defendê-la incondicionalmente, bloqueando o que divergir, é ser livre? Das repressões físicas, sim. Das intelectuais, com pesar, acredito que não.
Parece-me que há uma autocensura, que não precisa de forças externas, bastando a bolha que criamos por nossa prepotência.
Parece-me, também, que política virou jogo de futebol, que partido virou time e, independente de jogar corretamente, será sempre defendido por ser o do coração.
Então penso, para que censura se o povo já faz, em si, o papel do tirano? E age, em si, cegando-se, criando a bolha, pretendendo uma vitória medíocre, não a do melhor, mas a do protegido.
Ter seu candidato eleito não é mais esperança de um país melhor, é grito de vitória! E quando o time cai fora do campeonato, vencer é não eleger o adversário.
Penso. O que é pior? A ditadura externa, com toda aquela gente que partiu, buscando liberdade expressiva ou o facciosismo interno, se expressando efetivamente, sem censuras, mas, também, sem nada a acrescentar, nem nada a infiltrar.
De um lado, a crítica, o desejo de mudança, o olhar de revolução.
Do outro, a crítica, o desejo de mudança, o olhar de ter razão.
Se antes, o governo fechava nossas bocas, hoje, arbitrariamente o povo venda os próprios olhos e tampa seus ouvidos, para o que diverge à sua convicção. Um gesto de imaturidade democrática e, igualmente, política.
Docemente, Elis Regina, cantava: “a esperança dança, na corda bamba de sombrinha e, em cada passo dessa linha, pode se machucar. Azar! A esperança equilibrista sabe que o show de todo artista tem que continuar”.
A minha esperança equilibrista sonha em ver o nosso povo mais democrático, generoso, menos arrogante, expondo ideias com o ímpeto de trocar conhecimento, buscar a evolução, contribuir e receber contribuição. Ela sonha com o acordar do gigante, que esta dentro de cada um, mas que é minimizado pelo preconceito, pelas ideias pré-concebidas e solidificadas nessa fase.
Se a esperança equilibrista de Elis, Chico, Caetano, Angélicas e Zuzus pudessem desejar algo, nesse momento da nossa história, tenho comigo que seria a autocrítica.
Que dia 26 de outubro sejamos críticos com nós mesmos e saibamos, com clareza, o motivo pelo qual caminhamos até as urnas. E, assim, que seja feita a democracia!
Letícia Maria Marcati é estudante de Direito da PUC Campinas
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