Um puritano chamado Thomas Guthrie escreveu: “Se você percebe que ama qualquer deleite mais que a oração, qualquer livro mais do que a Bíblia, qualquer casa mais do que a casa de Deus, qualquer ceia mais que a Ceia do Senhor, qualquer pessoa mais do que Cristo, qualquer satisfação mais do que a esperança do céu, fique alarmado”. E quando somos levados a fazer este autoexame, logo contatamos que não é muito difícil de nos depararmos com essa realidade instalada em nosso coração. Além de sermos limitados, falhos e pecadores, ainda estamos sob as condições inadequadas de um mundo caído e sujeitos às vicissitudes e contingências do tempo e espaço que influenciam a nossa psique e o nosso humor. Então, precisamos de tempos em tempos fazer uma espécie de inventário ou auditoria espiritual para ver como anda o estado de nossa alma, as condições do nosso coração e a nossa qualidade de relacionamento com Deus. Nesse sentido a estação litúrgica em preparação para a Páscoa (Quaresma), pode muito contribuir para que essa auditoria aconteça e sejam corrigidas a negligência, a tibieza e a preguiça nas coisas que dizem respeito a nossa vida espiritual e o nosso compromisso com o Reino de Deus nesta vida e neste mundo. Claro que tudo que o tempo em preparação para a Páscoa preconiza tem a ver, na verdade, com o ideal da vida cristã em todo o tempo e o tempo todo. Nesse período do ano cristão somos desafiados a praticar a oração com mais fervor e intensidade, ler as Escrituras com mais disciplina e proveito, amar os irmãos com sinceridade, jejuar, praticar boas obras e usar de caridade para com os pobres com mais compromisso e efetividade. Mas, pelas razões expostas anteriormente, devido a nossa condição geral, precisamos de tempos fortes para recuperar o fôlego, o ânimo e a alegria para uma vida cristã saudável, fervorosa, contagiante e significativa. Dentre as práticas mais essenciais nesse tempo litúrgico e claro, para toda a carreira cristã, a oração é a mais excelente e a mais indispensável para o cristão. Aqui, o Senhor Jesus Cristo, ofereceu-nos o seu exemplo pessoal. De todas as realizações de Jesus, a que está mais a nossa disposição para a emulação, humanamente falando, é a oração. O Senhor cultivava uma vida intensa de oração. A oração era o centro de sua agenda ministerial, o ápice das suas atividades pastorais e dentre as suas prioridades, a mais urgente. Cristo, na condição de homem e de filho, mantinha uma relação estreita e devota com o Pai por meio da oração. Os Evangelhos testemunham Jesus retardando o sono, privando-se do descanso ou antecipando a aurora para ter momentos de intimidade e colóquios a sós com o seu Pai. O Mestre nada fez que pudesse excluir a oração de sua vida. Antes de tomadas de decisões e fazer escolhas, Ele buscou a direção do Altíssimo. Para fazer milagres e prodígios, rogou que dos Céus o poder fosse manifesto, em face de um milagre estupendo como a ressurreição de Lázaro, orou para que Deus recebesse toda a glória. E, na hora mais crítica, na iminência de sua paixão e morte, em oração no Getsêmani e no alto da Cruz, descansou em oração na sábia e soberana vontade do seu Pai. Durante os seus discursos e ensinamentos, encontrou tempo e ocasião para ensinar a natureza, o objetivo, o fim e a suprema necessidade da oração para o crente conhecer a Deus, provar de sua bondade, vencer o mal e encaminhar-se para a vida eterna (Lc 5. 15-16; Mc 1. 32-35; Mt 14.13-23; Lc 6. 12-13; Mt 26. 36-44; Lc 22.41-43; Jo 11.41-42). Portanto, um tempo de renovo e incremento da piedade, da vida devota e de um despertamento pessoal necessariamente começa com a efervescência da prática de oração. Antes de se tornar um deleite para a alma, a oração é na verdade, uma luta renhida contra a indisposição da carne. Não se trata de ter vontade de orar, no início, mas de reconhecer a sua desesperada necessidade dela. Como diz um outro puritano, devemos orar até começar a orar e devemos orar sempre até sentir o desejo de orar. O prazer e o anelo nunca virão antes do esforço e da disciplina, quando o assunto é a oração. O tempo de colher as suas doçuras, muitas vezes, se parece com o que acontece com o agricultor. Há todo o esforço de preparar o solo, jogar a semente, aguar todos os dias, retirar as pragas e a ervas daninhas para no tempo aprazado pelo Senhor, colher e saborear os frutos. Oração alguma deixa de ser ouvida. Nenhuma oração fica sem ser respondida. A oração nunca nos deixa em um vácuo de desespero e absurdo. Nunca oramos o bastante até que Deus nos ouça. Na verdade, oramos o tempo necessário, até que sejamos capazes de ouvir a Deus. Que o desejo da participação nas alegrias da ressurreição seja o motivo suficiente para que desde agora você incremente a sua vida de oração.
Reverendo Luiz Fernando é pastor na Igreja Presbiteriana Central de Itapira
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