Vivemos os tempos das retomadas. Ainda estamos como quem ‘pisa em ovos’, estudando os limites, fazendo testagens, adaptações e seguindo as orientações das nossas autoridades sanitárias. Também existe um clima de otimismo quanto a economia, a produção industrial, o comércio e o emprego. A primavera parece ter trazido um certo perfume de otimismo, de esperança, renovando em nós a percepção de que a pandemia dá sinais de que passará, é uma questão de tempo, de fazer o que é certo e necessário agora, aprender a conviver com certas renúncias pontuais, para ter o todo da vida de volta. A igreja também precisa ter a sua primavera espiritual, necessita renovar o seu bom odor de Cristo na vida de cada crente e da comunidade de fé, para que a fragrância de Cristo leve vida e vida em abundância para esse mundo moribundo. Não obstante a participação em nossas reuniões de adoração sejam, desde já, mais que surpreendentes e que um certo desejo de comunhão e participação presencial apareça como uma espécie de demanda represada, não podemos ignorar que os efeitos da dispersão na pandemia serão sentidos com força e em breve. A vida fraterna em comunidade e como o sistema muscular da piedade, se não for exercitado, definha, perde força e compromete a desenvoltura do corpo e a sua funcionalidade. Exercitar a presença na comunhão dos santos implica mutualidade, companheirismo, amizade, longanimidade, paciência, amor sacrificial e serviçal. Coisas se não de todo inexistentes no ambiente virtual e nas transmissões online, seguramente tão limitadas que não podem impactar e transformar de maneira profunda a pessoa e o seu caráter. A vida em comunidade é uma experiência de discipulado contínuo, formal, não formal e informal. A todo momento estamos aprendendo de Cristo, com Cristo e em Cristo no relacionamento com os irmãos, nunca sem tensões ou sem dificuldades, grandes ou pequenas, mas jamais insuperáveis, posto que o amor de Cristo nos constrange, o Espírito Santo nos guia e a Palavra nos empodera para o perdão, a constância no amor e a alegria na peregrinação rumo ao céu. Sem cobranças legalistas ou moralistas, precisamos entrar no clima da Palavra de Deus que ensina o seguinte: “Não deixemos de reunir-nos como igreja, segundo o costume de alguns, mas encorajemo-nos uns aos outros, ainda mais quando vocês veem que se aproxima o Dia” (Hebreus 10:25), se quisermos que esta primavera de fato aconteça em nosso meio. A melhor maneira de fazer isso é em primeiro lugar compartilhar as riquezas e as experiências vividas por aqueles que já estão frequentando as reuniões presenciais. Compartilhar aquela sensação dos discípulos de Emaús, os seus corações ardendo por ouvir as Escrituras e como experimentaram a presença de Jesus no partir do pão (Lc 24.13ss). Há espaço para contar como cantar os louvores de Deus em meio a dificuldades e tristezas pode ser libertador, assim como o experimentaram Paulo e Silas no cárcere (At 16.25). É nosso dever fazer coro ao salmista: “Quanto aos santos que há na terra, são eles os notáveis nos quais tenho todo o meu prazer” (Sl 16.3). Em segundo lugar devemos encorajar os nossos irmãos dizendo que a vida na comunidade é uma questão de natureza e identidade. É próprio dos salvos em Cristo reunir-se, é como o seu ecossistema, o seu habitat natural, é onde ele se desenvolve, encontra abrigo, proteção, nutrição e realiza mais plenamente a sua existência. O culto divino, público e comunitário nos recorda que não somos deste mundo e que estamos em uma peregrinação. A partir daqui a vida em comunhão forma a nossa identidade como discípulos de Cristo e membros do povo de Deus. Nos dá uma identidade social e histórica como pertencentes a um povo peculiar, distinto da humanidade, como uma vocação especial, transcendente, mas também com uma missão igualmente especial: “Vocês, porém, são geração eleita, sacerdócio real, nação santa, povo exclusivo de Deus, para anunciar as grandezas daquele que os chamou das trevas para a sua maravilhosa luz” (1 Pe 2.9). E por último, nunca é demais lembrar os nossos irmãos outras duas sentenças bíblicas que estão intimamente com a necessidade de uma vida mais plenamente inserida na dinâmica do povo que adora: “Está escrito: Nem só de pão viverá o homem, mas de toda palavra que procede da boca de Deus” (Mt 4.4) e ainda: “Busquem o Senhor enquanto se pode achá-lo; clamem por ele enquanto está perto” (Is 55.6).
Reverendo Luiz Fernando é pastor na Igreja Presbiteriana Central de Itapira
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