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Itapira, 24 de Novembro de 2024
Notícia
05/05/2020 | Luiz Santos: A sabedoria dos mais velhos

Um dia desses encontrei um texto que falava sobre as perdas e as consequências da COVID-19, que em dado momento dizia algo mais ou menos assim: “O mundo ficou, de certa maneira, menos sábio com a morte de tantos idosos”. Claro que isso provocou uma profunda reflexão. De fato, as estatísticas mostram que os idosos são as vítimas ´preferidas’ desse vírus, embora não exclusivas. Confesso que me emociono, mais especialmente, quando vejo a notícia de que um idoso de 90, 98, 102 anos sobreviveu à doença, lutou bravamente pela vida, passou dias numa UTI e de lá saiu para completar a sua longa peregrinação. Verdadeiramente a humanidade ficou um tanto mais pobre com essa extinção em massa de muitos idosos ao redor do planeta. Uma cota significativa de experiência acumulada se perdeu, parte de nossa reserva moral também se foi e muito do que significa ser humano também. É uma triste realidade saber que na Itália, na Espanha e aqui no Brasil um dos critérios de avaliação para um paciente ser encaminhado para um respirador é a idade. Quanto mais idoso, menos chance de ser assistido e mais chance de ser abatido por essa pandemia. Longe de mim querer arbitrar esse dilema moral que seguramente vivem os nobilíssimos profissionais da saúde, mas não posso deixar de anotar que um certo conceito que envolva utilidade, produtividade e lucratividade está presente, além de outros critérios filosóficos, econômicos, éticos e etc. Ponho-me a pensar nos idosos da igreja que sirvo como pastor. Um contingente significativo de anciãos compõe essa expressão concreta do Corpo de Cristo. São homens e mulheres com uma extensa folha de serviços prestados à igreja local e a sociedade civil. Suas memórias, suas experiências, seus erros e acertos, seus pecados e suas experiências de conversão ou restauração, são a memória vivente da graça e da misericórdia do Eterno no meio do seu povo. Ouvindo as suas histórias, o modo afetivo e saudoso como se recordam dos idos dias do primeiro amor, sempre sou tomado de grande encorajamento para enfrentar as dificuldades do presente. Tendo o privilégio de recolher as suas memórias como ouvinte atento do quanto testemunharam da bondade e das provisões de Deus quando atravessaram dias sombrios contando apenas com a luz do Evangelho, me faz pensar que assim como o futuro chegou em suas vidas, assim também a esperança me conecta com o futuro que me aguarda, enquanto atravesso esses dias de nuvens escuras. Os idosos da comunidade, os que trazem os seus cabelos brancos, recordam-me todos os dias por quais caminhos a comunidade passou até chegar aqui. A presença deles em cada culto, de certa maneira, me lembra de onde vim, quem eu sou e para onde devo caminhar. É uma temeridade uma igreja que só tenha idosos, sei disso, ela pode não se renovar e vir a deixar de existir. Todavia, não é menos perigoso para uma igreja não ter a presença de anciãos que costuma comunicar serenidade, equilíbrio, sobriedade e indicar os perigos e as armadilhas do caminho. Nesses dias loucos de pandemia a igreja, mais do que nunca, precisa proteger, animar, consolar, encorajar e valorizar os seus irmãos mais experimentados na fé. Precisamos deles para não perder o rumo, para não nos tornar presas fáceis dos modismos vazios de uma sociedade e igreja em constante mudança que perigosamente nos tentam a negociar os valores mais caros do Evangelho e do Reino, por gratificação imediata. Os nossos irmãos mais velhos nos servem de freios e contra-pesos para não excedermos os limites da prudência e da sabedoria, que não raras vezes a juventude parece ignorar. A dinâmica da vida fraterna em comunidade é feita sobretudo de memórias e experiências vividas ao longo do tempo que atestam, acima de tudo, a veracidade das promessas, o caráter santo e justo de Deus, os benefícios da cruz e a recompensa que segue uma longa obediência numa mesma direção. Os nossos “velhos” nos recordam e ensinam todos os dias: “Se da vida as vagas procelosas são, Se, com desalento, julgas tudo vão, Conta as muitas bênçãos, dize-as de uma vez, E verás, surpreso, quanto Deus já fez. Conta as bênçãos, dize quantas são, Recebidas da divina mão! Vem dizê-las, todas de uma vez, E verás, surpreso, quanto Deus já fez!” (Hinário Novo Cântico – Hino 63).

Reverendo Luiz Fernando é Pastor na Igreja Presbiteriana Central de Itapira

Fonte: Luiz Santos

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