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Notícia
26/02/2020 | Luiz Santos: Caminhando para a Páscoa

A quarta-feira de cinzas marca, no calendário cristão, o início da preparação para a Páscoa. Essa prática litúrgica e catequética já pode ser encontrada em muitos documentos do cristianismo primitivo a partir do século II. Documentos como as Catequeses Mistagógicas de Cirilo de Alexandria são um bom exemplo disso. Sem falar os muitos sermões de Orígines, Fulgêncio de Ruspe, André de Creta e o meticuloso diário da peregrinação de Etéria (Egéria). Esses escritos dos pais da Igreja cobrem pelo menos quatrocentos anos de história da igreja antiga. Nos inícios a preparação para a páscoa, ou quaresma (quarenta dias antes da páscoa), era um itinerário espiritual realizado pelos catecúmenos, uma espécie de preparação intensiva para a celebração do batismo que se dava justamente no domingo de páscoa. O catecumenato antigo era uma verdadeira malha protetiva da comunidade de fé. Muitas provas por meio de escrutínios, testemunhos pessoais, pública profissão de fé e etc., eram exigidos dos candidatos à fonte batismal. E isso no tempo em que as grandes perseguições volta e meia sacudiam a Igreja. Muitos catecúmenos ficavam pelo caminho e não recebiam a autorização para descer as águas do batismo e não eram recebidos na comunidade cristã. Imperadores e grandes vultos intelectuais foram impedidos de conhecer os “santos mistérios” da salvação. Com a “conversão” de Constantino e o fim das perseguições, o catecumenato perdeu a sua importância e as massas passaram a ingressar indistintamente na igreja sem o devido preparo. Assim, para conservar o mínimo daquelas exigências que autenticavam e davam genuinidade pública de conversão, a Igreja conservou esse tempo de preparação para páscoa convocando a comunidade dos discípulos a reviver as promessas e os compromissos batismais, recordando a necessidade da conversão diária, da pureza dos costumes, da santidade do coração e da conformação da vida à cruz do Salvador. Evidentemente que muitos outros costumes, sincretismos religiosos, tradições humanas, superstições e até idolatrias foram importados ao longo dos séculos. Entretanto, a pedagogia deste tempo litúrgico permanece e penso que é até necessária para esses novos tempos de tanta superficialidade teológica, dispersão quanto a prática das disciplinas espirituais, capitulação cultural e negligência em nosso discipulado. Como viver este período que é como um grande retiro espiritual de quarenta dias para bem celebrarmos a páscoa de Jesus Cristo? Em primeiro lugar saturar as nossas almas com os ensinamentos bíblicos que apontam para a necessidade do sacrifício de Cristo, tanto quanto a sua realização histórica em catorze de Nisã do ano 30, bem como a sua eficácia e suficiência na salvação de pecadores. Do animal sacrificado por Deus para cobrir a nudez e a vergonha do primitivo casal, passando pelo ferimento na coxa de Jacó, por toda a legislação litúrgica dos sacrifícios do tabernáculo mosaico, pelas desconcertantes profecias do Servo Sofredor de Isaías, pelo Cordeiro de Deus apontado pelo Batista até o “Tetélestai”, certificar-nos que esse foi o modo, o único, diga-se, estabelecido pelo Pai a fim de reconciliar-se com a humanidade caída. De fato, “sem o derramamento de sangue não há perdão” (Hb 9.22). A segunda maneira é considerar a cruz, a sua centralidade na mensagem do Evangelho, o que ela significa para o cristão e de tudo o que nela se realizou em nosso favor e em nosso lugar. Isso deve significar, entre outras coisas, a séria consideração de nossos pecados atuais e daquelas coisas ainda não-convertidas em nosso coração. Pois, foram os pecados, os nossos pecados, os nossos ídolos, o nosso coração empedernido que “literalmente” pregaram o nosso Salvador no madeiro. Essa consideração deve levar-nos ao ódio do pecado, à dor de ter pecado contra tão amorável Salvador e o decidido abandono do mesmo. A terceira maneira é pensar no triunfo de Cristo realizado na cruz e a sua magnífica ressurreição. Como diz um Pai da Igreja, a ressurreição de Cristo foi o “amém” do Pai para o “Tetélestai”, para o “tudo está consumado”, para “a dívida está paga”, dita por Jesus no Calvário. Como Paulo ensina, foi para a nossa justificação que Cristo ressuscitou (Rm 4.25). Isso importa que devemos meditar em nossa posição diante de Deus, de como em Cristo fomos aceitos e tornados inimputáveis pelas nossas transgressões e recebidos nas moradas celestes, desde já na família de Deus e rever a nossa ética e a nossa moralidade, segundo a retidão de Cristo, nosso padrão. Por último, a preparação para a páscoa é um tempo propício para aprofundar a vida fraterna em comunidade, a oração comunitária e secreta e a prática de boas obras. Coisas essas que devemos incrementar nesses dias e que devem acompanhar-nos por toda a vida cristã.

Reverendo Luiz Fernando dos Santos, Pastor da Igreja Presbiteriana Central de Itapira

Fonte: Luiz Santos

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