Acabamos de celebrar nesses dias a festa litúrgica de Pentecostes, e agora? Bom, a melhor coisa é continuar a leitura dos Atos dos Apóstolos para entender o que isso significou para a igreja apostólica e entender como essa dinâmica se aplica também a nós em pleno século 21 e, de maneira especial, nesse contexto pandêmico. A primeira coisa que nós podemos com tranquilidade inferir do texto bíblico é que “Pedro” abriu as portas do cenáculo. Isto é, veio a público. A igreja estava então em compasso de espera e apreensão, muitos textos relatam as portas fechadas por medo da hostilidade das lideranças dos judeus. Agora, cheios do Espírito Santo, deixam para trás o medo paralisante de outrora e, com intrepidez, pregam o Evangelho. O texto afirma que todos falavam em línguas, mas, as Escrituras conservam o maravilhoso sermão de Pedro atualizando e aplicando com poder e graça as promessas do Antigo Testamento na pessoa e na obra exclusivas de Jesus Cristo. E essa foi a segunda coisa acontecida, a pregação e como resultado o ingresso de 3.000 vidas na comunidade dos discípulos. Continuando a leitura é possível entender a nova ética e a dinâmica da vida dos seguidores de Cristo em Atos 2.42-47 e o contínuo crescimento numérico da igreja. Também constatamos o aumento proporcional e inevitável da oposição, da perseguição e das muitas oportunidades de testemunhar em situações humanamente insuportáveis. A sublimidade dessa nova condição trazida pelo Espírito exigiu inclusive o martírio de muitos irmãos, a começar por Estêvão, o mais solene testemunho da glória de Cristo naqueles dias. Da dispersão dos discípulos (At 8.1), passando pela conversão de Paulo (At 9) e o Concílio de Jerusalém (At 15) até o fim do livro (At 28), o poder “pentecostal” da igreja está intimamente ligado com o propósito do Espírito Santo de tornar Cristo conhecido, recebido pela fé, proclamado às nações e exaltado na glorificação dos santos. Em meio a agitação missionária, lendo as cartas de Paulo, a igreja tinha a necessidade, e encontrava tempo, para continuar buscando a plenitude do Espírito. Cada crente deveria encher-se do Espírito (Ef 5.18), andar no Espírito (Gl 5.25), viver no Espírito (Gl 5.15-16) e orar no Espírito (Rm 8.26). Como evento, o Pentecostes é um ato único e jamais irá se repetir na história da Igreja. Esse ato único, também é definitivo, no sentido de que o Espírito Santo jamais se apartará da comunidade dos discípulos e que é a partir dela, que Ele atua no mundo arrefecendo as obras do maligno, restaurando a vida, preservando a bondade e a beleza e vindicando a justiça. Em nosso século e de modo ainda mais especial nesses dias, precisamos que cada crente busque uma relação mais íntima com o Espírito do Senhor; temos suprema necessidade nesses dias de sabedoria do alto, amor empático, fortaleza, discernimento dos tempos e das épocas, pureza no coração, intrepidez na proclamação, integridade no testemunho e determinação para servir. Somente o Espírito Santo poderá nos dar a conhecer a vontade de Deus e a maneira como servir-lhe no agora de nossa história. É o Espírito quem ilumina, interpreta e aplica de maneira infalível a Palavra de Deus na mente e no coração de quem a lê ou se submete a sua proclamação. Por isso mesmo, precisamos desse Espírito para não ler a Bíblia descolada da realidade em que vivemos e nem perder o nosso tempo nas filigranas e sutilezas doutrinárias, importantes em certos contextos e épocas, mas que podem drenar a nossa energia e nos desviar do que realmente importa nessa altura da história. O Espírito que nos conduz à verdade, não nos faltará agora, se estivermos cheios d’Ele. Não sucumbiremos à crassa idolatria de líderes políticos que se arvoram como salvadores. Não tropeçaremos na falaciosa ideia de que Deus tem um compromisso, qualquer que seja, com projetos políticos ou de poder. É idolátrico pensar que o Reino de Deus se identifique plenamente com qualquer plataforma ou sistema político. É igualmente pecaminoso ficar indiferente, não levanta a voz, não se posicionar do lado daqueles que Jesus incluiu em seu programa ministerial, os pobres, os vulneráveis e os marginalizados de toda ordem. E isso devemos fazer por amor a Cristo e não por motivações outras. Os ‘Sumo Sacerdotes’, ‘Agripas’, ‘Félix’ e ‘Césares’ dos nossos dias prestarão contas a Deus de sua administração. A eles, assim como os primitivos cristãos, a nossa lealdade e a nossa obediência nunca deve ser uma questão fechada ou cega. Aceitamos a legitimidade da autoridade (Rm 13.1) quando se presta a fazer o que é justo, conforme a verdade, para promover o bem e corrigir o erro. Mas, o Espírito nos faz entender também que mais importante antes obedecer a Deus, que aos homens (At 5.29). Então, que o Espírito Santo faça de nós uma igreja vibrantemente apostólica e missionária, nos livrando de tudo o que possa nos embaraçar, e impedir que livremente e sempre de boa consciência preguemos o Evangelho, testemunhemos de Cristo, amemos os irmãos, sirvamos o pobre e a todos supliquemos que consertem a sua vida com Deus. Para isso fomos chamados, para viver na plenitude do Espírito em meio a missão.
Reverendo Luiz Fernando é pastor na Igreja Presbiteriana Central de Itapira
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