Cresce a cada dia no Brasil o número dos que a si mesmo se chamam de disgregados. Os ‘desigrejados’ são de todo o tipo. Existem aqueles que não suportam não possuir a primazia e nem um lugar de honra e destaque e não querem ficar sob a liderança de um outro. Não são humildes ao ponto de serem submissos a uma autoridade religiosa conhecida, estabelecida e legitimada pelos demais irmãos. Não estão dispostos a prestar contas de seus atos e não aceitam a correção fraterna. São pastores de si mesmos, observam e mesmo desenvolvem um conjunto seletivo de doutrinas que se acomodam bem ao seu estilo de vida e aos seus, nem sempre, santos propósitos. São pessoas ácidas e críticos virulentos e contumazes. Arrogam-se como os únicos que estão certos. A tudo reputam como falso, herético, invenção de homens e etc. são pessoas amaríssimas e costumam fazer grandes estragos em famílias e crentes não muito firmes em suas convicções. A ninguém, de fato evangelizam e nunca edificam, só confundem. Existem os ‘desigrejados’ que foram machucados pela liderança da igreja. Sim, é possível que tenham sido feridos pela arrogância, inaptidão, falta de traquejo ou um pecado deliberado por parte de um pastor, presbítero ou um leigo proeminente na comunidade de fé. Não receberam ajuda nem tratamento. Não foram estimulados a exercer misericórdia e liberar o perdão. Ficaram isolados e ensimesmados nas próprias dores e feridas, que hoje já não possuem forças e nem coragem suficiente para caminhar com irmãos e irmãs numa comunidade que deveria ser terapêutica e que no fundo causou tanta dor. Consideram-se ‘desigrejados’ também aqueles que em determinado momento se deixaram levar por um espírito de rebeldia dentro da igreja, participaram ativamente de cisões e defenderam uma posição que mais tarde verificou-se equivocada. Ao deixar o grupo cismático não conseguem retornar à comunidade de origem. Sentem-se envergonhados e já não conseguem encarar os irmãos. Depois de perambularem de igreja em igreja, se frustram e abandonam de vez o convívio dos discípulos. Há também os preguiçosos, negligentes e acomodados que se dão por satisfeitos com uma comunidade virtual. Tudo o que fazem é acompanhar cultos, estudos, conferências de seus líderes (ídolos?) preferidos. Não querem sair de sua zona de conforto, sentem-se seguros porque têm poder sobre a mensagem e o pregador, à distância de um mouse ou de um “touch” de seu smartphone. Mas, o que os ‘desigrejados’ têm em comum que os torna hereges? É o fato de promoverem uma ‘decapitação teológica’. Conquanto afirmem crer no ‘Cabeça’, desprezam o corpo. Dizem que pertencem a Jesus, mas não querem nada com os discípulos dele. Estão amputados do corpo, são membros sem vida e se não forem enxertados novamente, logo-logo apresentarão os inequívocos sinais de putrefação e deterioração completa. Ora, o que pode a cabeça fazer por um membro amputado? De onde um membro cortado do corpo pensa receber vida? Na alegoria da videira, Jesus mesmo estabeleceu tal conexidade quando disse: "Eu sou a videira; vocês são os ramos. Se alguém permanecer em mim e eu nele, esse dá muito fruto; pois sem mim vocês não podem fazer coisa alguma. Se alguém não permanecer em mim, será como o ramo que é jogado fora e seca. Tais ramos são apanhados, lançados ao fogo e queimados” (Jo 15.5,6). A deserção da vida corporativa na Igreja sempre foi um desafio desde a era apostólica, uma exortação da Carta aos Hebreus nos dá tal testemunho: “Não deixemos de reunir-nos como igreja, segundo o costume de alguns, mas encorajemo-nos uns aos outros, ainda mais quando vocês veem que se aproxima o Dia. Se continuarmos a pecar deliberadamente depois que recebemos o conhecimento da verdade, já não resta sacrifício pelos pecados, mas tão-somente uma terrível expectativa de juízo e de fogo intenso que consumirá os inimigos de Deus” (Hb 10.25-27). Mais que uma moda ou movimento, ‘desigrejar-se’ é colocar-se deliberadamente em perigo. Deixar-se levar por discursos inflamados de um zelo cego é atentar contra a obra da cruz que entre outras coisas criou também a igreja visível, na qual desde agora, subsiste a igreja invisível, espiritual, uma, santa, universal e apostólica. Oremos pelo quebrantamento daqueles que dizem não precisar da Igreja. Oremos pela cura dos que foram feridos. Oremos pelo avivamento dos acomodados. Oremos pela restauração dos cismáticos. Estimulemos uns aos outros para que esta heresia nunca se instale entre nós, nossas famílias e nossos amigos.
Reverendo Luiz Fernando é ministro do Evangelho na Igreja Presbiteriana Central de Itapira
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