A pandemia tem sido usada como justificativa para quase tudo na vida. Do divórcio ao consumo de bebidas e drogas, das maracutaias na política ao aumento da violência, e inclusive o abandono do Senhor e a separação do Corpo místico de Cristo, que é a igreja visível. De fato, a pandemia tornou muitos aspectos de nossa vida muito mais difíceis e limitou quase todas as nossas atividades. Os efeitos das restrições impostas podem serem vistas na economia, no sistema de saúde, na cadeia produtiva de maneira geral e na indústria do lazer. Sim, os efeitos da pandemia são reais. Mas uma coisa que ela não fez foi introduzir ou criar ídolos em nossos corações. Acredito, sem sombras de dúvidas, que o quadro geral de instabilidade, insegurança e até de certas frouxidões morais e espirituais proporcionados nesse tempo pandêmico deram ocasião para que os nossos ídolos, que sempre estiveram no coração, talvez encolhidos ou subjugados pela Palavra e pelo exercício da piedade, viessem à tona e mostrassem as suas garras. De alguma maneira, sobretudo no que diz respeito à prática da religião, os ídolos assumiram o controle de muitas vidas. O título desta pastoral, traduzido para o Português é: “O temos no Senhor”. É a resposta ao “Sursum Corda” da antiga liturgia: “Elevemos os nossos corações”, “Nós o temos no Senhor”. Verdadeiramente, esse é um convite Bíblico: “Uma vez que vocês ressuscitaram para uma nova vida com Cristo, mantenham os olhos fixos nas realidades do alto, onde Cristo está sentado no lugar de honra, à direita de Deus. Pensem nas coisas do alto, e não nas coisas da terra” (Cl 3:1,2 NVT) e por que esse convite é fundamental? O Senhor Jesus mesmo nos explica: “Onde seu tesouro estiver, ali também estará seu coração” (Lc 12.34 NVT). Aquilo que julgamos ser importante ou de maior valor para as nossas vidas a isso dedicamos maior afeto e apego dos nossos corações. Ao que prendemos o nosso coração é isso mesmo que controlará e condicionará os rumos da nossa vida. Por isso, afastando qualquer discurso negacionista em relação aos perigos letais da pandemia, mas também jogando para longe qualquer fala moralista, muitos irmãos têm desviado o seu coração do Senhor. Existe, dentro da pandemia, uma busca desenfreada por prazer, entretenimento, lazer e companhias outras que têm impedido os irmãos de participarem ativamente do culto divino. Tenho ouvido de crentes, que até três anos atrás participavam com certa assiduidade, eram oficiais e mesmo no início da pandemia tiveram alguma participação em ações de cuidado e assistência social, dizerem o seguinte: “de repente descobri que a igreja, o culto, os sacramentos não me fazem falta” e um deles até me disse o seguinte: “acho que amadureci nessa pandemia e agora percebo que não preciso da religião, do templo, do culto. Estou melhor assim”. Lamentável, mas essa postura não surgiu de uma hora para outra e nem foi a pandemia quem estabeleceu essa condição. Não. Ouso dizer que o que emergiu foi o homem velho que sempre esteve lá, sob camadas de religiosidade superficial e tradicional (no sentido de pertencer por costume), sem uma real experiência de conversão e de novo nascimento. Quando lemos a Bíblia constatamos justamente o inverso. Israel sofreu a separação, por vários motivos, do ajuntamento solene: “Minha alma desfalecida se consome suspirando pelos átrios do Senhor. Meu coração e minha carne exultam pelo Deus vivo. Até o pássaro encontra um abrigo, e a andorinha faz um ninho para pôr seus filhos. Ah, vossos altares, Senhor dos exércitos, meu rei e meu Deus! Felizes os que habitam em vossa casa, Senhor: aí eles vos louvam para sempre” Salmos 84:2-4 e ainda: “Às margens dos rios de Babilônia, nos assentávamos chorando, lembrando-nos de Sião. Nos salgueiros daquela terra, pendurávamos, então, as nossas harpas, porque aqueles que nos tinham deportado pediam-nos um cântico. Nossos opressores exigiam de nós um hino de alegria: Cantai-nos um dos cânticos de Sião. Como poderíamos nós cantar um cântico do Senhor em terra estranha?” (Sl 137.1-4 NVT). As Escrituras oferecem inúmeros testemunhos como esses, exatamente para ensinar-nos que sentir falta, ter saudade do ajuntamento, do culto presencial, será sempre um sintoma de maturidade e saúde espiritual. Separar-se da congregação, pelo contrário, será sempre um perigo: “Não deixemos de congregar-nos, como é costume de alguns; antes, façamos admoestações e tanto mais quanto vedes que o Dia se aproxima. Porque, se vivermos deliberadamente em pecado, depois de termos recebido o pleno conhecimento da verdade, já não resta sacrifício pelos pecados; pelo contrário, certa expectação horrível de juízo e fogo vingador prestes a consumir os adversários” (Hb 10.25-27 ARA). Inquira, examine o seu coração e descubra onde ele está hoje e o que ele mais deseja. Você descobrirá o que de fato possui valor para a sua vida e o que verdadeiramente é agora o seu ‘senhor’.
Reverendo Luiz Fernando é Ministro Presbiteriano em Itapira.
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