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Itapira, 25 de Novembro de 2024
Notícia
02/10/2014 | Luiz Santos: Lex Orandi (2)

 “Jesus contou aos discípulos uma parábola, para mostrar-lhes a necessidade de orar sempre, sem nunca desistir

(Lc 18.1 Trad. CNBB).

O tema da oração ocupou um lugar de grande destaque nas preocupações teológicas e pastorais dos Reformadores e dos Puritanos. Calvino dá o seguinte título ao Capítulo XX de suas Institutas: ‘Da oração, que é o principal exercício da fé, por meio da qual recebemos a cada dia os benefícios de Deus’.

Neste mesmo capítulo encontramos o seguinte: “Assim, pelo benefício da oração, conseguimos penetrar até aquelas riquezas que Deus celestial tem depositadas em si. Pois a oração é uma espécie de comunicação entre Deus e os homens, mediante a qual estes entram no santuário celestial, recordam ao Senhor suas promessas e instam-lhe a mostrar na realidade, quando a necessidade o requer, que aquilo em que acreditaram, simplesmente em virtude de sua Palavra, não era vão. Vemos, pois que  Deus não nos propõe coisa alguma a esperar dele sem que, ao mesmo tempo, mande que peçamos pela oração; tão certo é o que dissemos, que com a oração encontramos e desenterramos os tesouros, que se mostram e descobrem a nossa fé pelo Evangelho” (Instituições da Religião Cristã, cap XX, 2).

João Calvino nesta sua ‘Obra Magna’, deseja inspirar os cristãos e mesma insta com eles para que busquem a Deus em oração, pois de outra maneira jamais alcançarão, nem posse tomarão das riquezas espirituais e das bênçãos temporais contidas no Evangelho. É como se nos dissesse que nada alcançaremos de Deus sem a oração, nem nada d’Ele devemos esperar se não orarmos. Ao mesmo tempo em que nos enche de santas expectativas ao afirmar que aquilo que foi prometido será inexoravelmente entregue por Deus aos que orarem pela fé.

A geração que seguiu aos Reformadores conhecida como os Puritanos também dava grande ênfase à oração. Os Puritanos eram teólogos e pastores que valorizavam grandemente as experiências espirituais da Palavra de Deus. Experiências estas vividas sempre dentro do contexto da oração, da contemplação, do colóquio espiritual na intimidade do Senhor. John Bunnyan, John Owen, Thomas Goodywin, Richard Baxter, e mesmo os teólogos puritanos mais sistemáticos como Willian Perkins e W. a Brakel dedicaram boa parte de sua pena ao tratamento dos benefícios e da necessidade da oração.

Os Puritanos criam que sem a oração nenhuma verdade do Evangelho ou nenhuma promessa das Escrituras jamais seriam reais para o cristão. E mais, que sem a oração nenhum progresso ou vitória sobre os pecados, as tentações e a hostilidade do mundo seria possível. Na verdade, os Puritanos que viveram sob o regime ditatorial de reis e rainhas despóticos, e se viram exilados, expulsos de seus púlpitos, encarcerados injustamente e não raras vezes sentenciados à morte, não poderiam avançar como o fizeram em tantas áreas da vida e nem nos deixar seu precioso legado se não fossem homens dedicados à oração.

Aqui os Puritanos tiveram uma preocupação pastoral especial, pois muitos cristãos sentiam os ataques de Satanás fazendo-os crer ou que eles não eram dignos de serem atendidos por Deus devido aos seus pecados ou que suas orações nunca seriam respondidas ou se o fossem seria tarde demais. O inimigo servia-se das provações pelas quais passavam estes homens para instigar-lhes o desespero e a apatia espiritual. Assim, os Puritanos escreveram tratados e fizeram longas pregações para incutir nos cristãos a confiança, o zelo e a alegria por uma vida de oração que deveria ser cultivada nos lares em devocionais diárias, em particular e na Igreja em reuniões especialmente dedicadas a oração.

Foram mestres na arte de orar e de ensinar a fazê-lo. O maior resultado teológico-doutrinal desta época é sem dúvida a Confissão de Fé de Westminster e seus catecismos produzidos na célebre Abadia Inglesa, de mesmo nome, entre os anos de 1643-1649. No Catecismo Maior, um desses documentos confessionais que adotamos na Igreja Presbiteriana do Brasil, em sua pergunta 178 assim define a oração: “A oração é o oferecimento dos nossos desejos a Deus, em nome de Cristo e com o auxílio do Espírito Santo, com a confissão de nossos pecados e um grato reconhecimento das suas misericórdias”. Esta forma sintética descreve exatamente a natureza da oração cristã: Aproximamo-nos de Deus para revelar-lhe nossos sentimentos e necessidades; O fazemos confiados na autoridade e nos méritos de Cristo; Nunca estamos sós, o Espírito nos auxilia o que nos convém pedir; podemos e devemos confessar nossos pecados para que sejamos limpos e restaurados, mesmo a parte das coisas que pedimos, pois esta é nossa maior e mais real necessidade; e por último demonstramos gratidão, pois o fato de podermos com liberdade nos dirigir a Deus já é prova suficiente das suas misericórdias.

Sem uma vida de oração a fé não se sustenta, a esperança não nos anima e o amor não nos transforma. Façamos tudo em oração, nada realizemos sem antes orar muito.

Reverendo Luiz Fernando

É Ministro da Igreja Presbiteriana do Brasil em Itapira

Fonte: Luiz Santos

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