A Igreja quando recebeu, ainda no Antigo Testamento, o seu comissionamento missionário, recebeu-o como um chamado para abençoar de maneira total e integral as nações (Gn 12). O conhecimento de Deus implicava necessariamente também na proclamação de uma libertação em termos totalizantes. Não somente a libertação da escravidão dos ídolos e das falsas religiões, mas também a libertação de toda sorte de tirania, opressão, escravidão (Ex 3) e também a diminuição das distâncias sociais e o socorro e a transformação da pobreza indigna e desumanizante. A responsabilidade social, bem como toda ação e assistência social são preocupações tais nas Escrituras que encontramos 97 citações para o termo “pobre” (88 no AT e 9 no NT), 63 citações de “pobres” (36 no AT e 27 no NT), 17 para “pobreza” (12 no AT e 5 NT). Também a riqueza de significado e a diversidade de vocábulos atestam como a Bíblia entende a multiforme variedade da pobreza: em hebraico: ANI: pobreza causada por aflição e opressão (Is 3.14). EBYON: Necessitado e dependente, o que passa necessidades básicas: Dt 15. RASH: Os empobrecidos por espoliação, o que ficou sem nada (1Sm 2.8; 1Sm 12. 1-5). MACHSOR: Deficiente (Pv 6.10,11; Pv 21.17). DAL: Fraco, frágil (Am 5.11). RAEB: Faminto (Ez 18. 5-7). CHELKAH: Infeliz (Sl 10.14). Em grego no NT: PTOKOS: Mendigo, que não tem segurança alguma e é dependente dos outros (Lc 21. 2-4; Mt 26.11; 1 Jo 3.17; Mt 5.3; 2Co 8.9). Desde logo compreendemos que as Missões exigem este compromisso e esta responsabilidade para com o pobre e a pobreza, seja ela de que natureza for. Entretanto, o serviço social por si só, não legitima e nem esgota a índole missionária do povo de Deus. Outras instituições também fazem assistência social e ação social até mesmo com mais recursos, capacidade e eficiência que a Igreja. Também estes, segundo a esfera que lhes é própria, são instrumentos nas mãos de Deus. Todavia, para a Igreja, numa perspectiva bíblica, não há que se falar em Missões sem falar em ação social. Não existe missão parcial ou exclusivamente de natureza religiosa. Não existe legitimidade e nem autoridade em um Evangelho que só se preocupasse com a alma e o porvir. É certo que o anúncio, ensino e pregação da Palavra de Deus possuem a primazia. Foi para isto que fomos salvos, “para proclamar as grandezas, as excelências daquele que nos tirou das trevas” (1 Pe 2.9). Entretanto, o anúncio deve ser acompanhado de sinais e gestos concretos que creditam o que falamos e ensinamos. A ação social, em forma de ministérios ou ONGs cristãos são a tradução concreta do amor que recebemos, sentimos, vivemos e queremos comunicar. Os pobres sempre desafiaram os discípulos e a Igreja em sua missão: “Vá vende os seus bens e dá o dinheiro aos pobres” (Mt 19.21). “Pois os pobres vocês sempre os terão consigo.” (Mt 26.11). “manda embora o povo para que possa ir aos campos e povoados vizinhos comprar algo para comer. Ele [Jesus], porém, respondeu: Dêem-lhes vocês algo para comer” (Mc 6. 36,37). “Se alguém tiver recursos materiais e, vendo seu irmão em necessidade, não se compadecer dele, como pode permanecer nele o amor de Deus?” (1Jo 3.17). E os discípulos e a Igreja nunca se furtaram a esta provocação, antes pelo contrário, respondeu aos anseios de Deus pelos desvalidos, reconheceu o rosto desfigurado e sofredor de Cristo nos pobres e rejeitados e deu os seguintes passos, sem os quais a nossa presença também em Itapira carecerá de qualquer validade ou relevância: 1. Devemos desenvolver e nutrir empatia e compaixão para com os abatidos: Mt 14. 14. 2: “teve compaixão deles e curou os seus doentes”. 2. Socorrer imediatamente: “eu tive fome, e vocês me deram de comer; tive sede, e vocês me deram de beber; fui estrangeiro e vocês me acolheram; necessitei de roupas, e vocês me vestiram; estive enfermo e vocês cuidaram de mim; estive preso e vocês me visitaram.” (Mt 25. 35,36). 3. Estruturar-nos: é o que aprendemos de Atos 6, na instituição dos diáconos. Devemos pregar com audácia o Evangelho. Devemos ser criativos e usar de boas estratégias para ganhar o maior número possível de almas para o senhorio de Jesus Cristo. Mas, jamais podemos esquecer a recomendação do Concílio de Jerusalém para a equipe missionária de Paulo: “somente nos pediram que nos lembrássemos dos pobres.” (Gl 2.10).
Reverendo Luiz Fernando é Ministro da Palavra na Igreja Presbiteriana Central de Itapira
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