Tradicionalmente o mês de agosto, à luz das comemorações dos inícios da Igreja Presbiteriana no Brasil com a chegada do missionário Rev. Ashbel Green Siminton em 12 de agosto de 1859, celebramos também o mês missionário. A pandemia impôs limitações e impedimentos para a continuidade de muitos projetos missionários ao redor do mundo. Não só as questões sanitárias e as restrições delas decorrentes, mas também a diminuição de ofertas e alteração nos orçamentos das igrejas e parceiros no sustento dos obreiros. Mas, o fato é que a pandemia também se tornou um tempo favorável, uma oportunidade única para a obra missionária em todos os quadrantes da terra. Somente o evangelho possui uma mensagem que dá sentido aos trágicos acontecimentos da pandemia do novo coronavírus. Somente o Evangelho da cruz de Cristo pode trazer consolo, esperança, superação, aceitação e vitória sobre os espectros do sofrimento e da morte onipresentes na vida de cada ser humano. Entretanto, não se trata apenas de uma mensagem em forma de discurso, de palavras. Não. A poderosa mensagem do Evangelho é também comunicada de maneira impactante, sobremaneira especial em contexto de missões, pela maneira como os cristãos vivem com moderação, sobriedade, esperança, ação de graças, generosidade e amor esses dias difíceis. O amor transformado em gestos concretos de socorro, auxílio, partilha, acolhimento e escuta é um poderoso e impactante testemunho de Jesus Cristo que se fez pobre para nos enriquecer, que se fez pão para nos alimentar, que se fez enfermo para nos curar, que sofreu para nos libertar e entrou na morte para nos salvar. Jesus realizou todas essas obrar por amor. Amor por seu Pai que se traduziu em obediência e amor aos homens, que se traduziu em serviço e sacrifício. O contexto da pandemia só pode limitar os nossos recursos, mas não pode limitar o nosso amor. Talvez limite os nossos métodos, mas não limita a nossa motivação, o nosso propósito. Com as fronteiras fechadas em muitos países, a missão foi obrigada a voltar e a fortalecer-se em seu habitat natural, a Igreja local. Os nossos irmãos que estão nos campos, isolados ou lutando com limitações, necessitam e mais do que isso, merecem saber que a igreja local, estabelecida e relativamente em paz, não se esquece deles. Temos o dever moral de orar incessantemente por eles e de nos interessar de maneira real sobre as suas necessidades. Confesso ser inadmissível que não nos sintamos responsáveis diretos pelo bem-estar e a segurança dos nossos missionários que estão além-fronteiras. Confesso ainda que é igualmente inadmissível que como Igreja local não nos sintamos desafiados a fazer mais, muito mais do que temos feito até aqui, para levar um testemunho de Cristo de maneira afetiva e efetiva, que tenhamos maior engajamento para reduzir os danos provocados por essa crise. Honramos os nossos missionários quando não permitimos que as missões se esfriem por aqui. Devemos assumir que é no mínimo vergonhoso que tenhamos involuído, cessando obras assistenciais e de promoção humana, justamente quando os pobres mais precisavam. E o pior, optamos por um tipo de ser e fazer a igreja, em que a maioria dos pobres não podem acessar, os cultos online. Excluímos duas vezes os vulneráveis. Confesso que ando tendo pesadelos quando penso nisso e quando leio: "Nem todo aquele que me diz: ‘Senhor, Senhor’, entrará no Reino dos céus, mas apenas aquele que faz a vontade de meu Pai que está nos céus” (Mt 7.21) e mais: “Pois eu tive fome, e vocês não me deram de comer; tive sede, e nada me deram para beber; fui estrangeiro, e vocês não me acolheram; necessitei de roupas, e vocês não me vestiram; estive enfermo e preso, e vocês não me visitaram’. "Eles também responderão: ‘Senhor, quando te vimos com fome ou com sede ou estrangeiro ou necessitado de roupas ou enfermo ou preso, e não te ajudamos? ’ "Ele responderá: ‘Digo-lhes a verdade: o que vocês deixaram de fazer a alguns destes mais pequeninos, também a mim deixaram de fazê-lo” (Mt 25.42-45). O tempo se afunila e a volta de Jesus parece iminente, os sinais estão por toda a parte e a tarefa permanece inacabada. Graças a Deus que a carta aos Hebreus nos traz alívio aqui: “Por isso Deus estabelece outra vez um determinado dia, chamando-o "hoje", ao declarar muito tempo depois, por meio de Davi, de acordo com o que fora dito antes: "Se hoje vocês ouvirem a sua voz, não endureçam o coração". Porque, se Josué lhes tivesse dado descanso, Deus não teria falado posteriormente a respeito de outro dia. Assim, ainda resta um descanso sabático para o povo de Deus; pois todo aquele que entra no descanso de Deus, também descansa das suas obras, como Deus descansou das suas. Portanto, esforcemo-nos por entrar nesse descanso, para que ninguém venha a cair, seguindo aquele exemplo de desobediência” (Hb 4.7-11). Ainda dá tempo, ainda há um hoje para a nossa obediência. É tempo de esforço, de empregar todas as nossas energias, de gastar o nosso tempo, de empregar os nossos melhores recursos e dar de nós mesmos para que Jesus Cristo seja amado, conhecido, adorado, obedecido por meio do amor efetivo e comprometido com os homens e as mulheres nessa página triste da nossa história. Mais do que nunca, missionar é preciso.
Reverendo Luiz Fernando é pastor na Igreja Presbiteriana Central de Itapira.
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