“O Senhor Deus colocou o homem no jardim do Éden para cuidar dele e cultivá-lo.” (Gn 2. 15).
As questões de Meio Ambiente e Ecologia estão na agenda da humanidade. Não há instituição ou organização que não esteja ás voltas com este assunto. Expressões como “desenvolvimento sustentável”, “responsabilidade social”, “reciclagem e reaproveitamento” já fazem parte do vocabulário das crianças em fase de ensino fundamental e até mesmo das escolinhas infantis.
Também as igrejas já incorporam em sua prática e prédica as mesmas preocupações. No ano passado, por exemplo, a Igreja Católica estudou e celebrou o tema do Meio Ambiente em sua Campanha Ecumênica da Fraternidade que acontece sempre no período da quaresma. Em nossos arraiais evangélicos já existem ministérios como a Rocha Brasil empenhada na educação ambiental e muitas publicações fundamentam a preocupação e a missão em cuidar do Meio Ambiente em bases bíblicas.
A Ecologia deve mesmo fazer parte da missão da Igreja. A Ecologia deve encontrar amparo na reflexão teológica, no pensamento missiológico e na prática evangelizadora da comunidade cristã. Todavia, antes de se falar em Ecologia como conceito amplo, devemos refletir numa “Ecologia Humana”, isto é, pensar sobre o lugar e o papel do homem na natureza e no cosmos.
A degradação e o desrespeito com a natureza passa inexoravelmente pela desconstrução da “Imago Dei” na percepção do próprio homem. Enfraquecidos ou destruídos os laços de comunhão e amizade entre Deus e o homem pelo pecado, todo senso de responsabilidade, respeito e valoração da vida e da moral perdem sentido. Um bom exemplo disso é o primeiro capítulo da carta de Paulo aos Romanos: “Trocaram a verdade de Deus pela mentira, e adoraram e serviram a coisas e seres criados, em lugar do Criador, que é bendito para sempre. Amém. (...) Além do mais, visto que desprezaram o conhecimento de Deus, ele os entregou a uma disposição mental reprovável.” (Rm 1. 25,28). Assim, alienado da vida de Deus, o homem vive sob o comando de seus apetites e da sua cobiça, buscando desesperadamente saciar sua fome de vida extraindo o que pode da natureza.
Pensar numa “Ecologia Humana” é redescobrir que em sua condição criatural o homem é a glória da criação, é aquele que ostenta e que atesta para as demais realidades criadas a Imagem do Criador. Na “Ecologia Humana” encontramos o mandato cultural do livro do Gênesis onde Deus coloca sob a responsabilidade do homem a tarefa de cuidar e cultivar o jardim, dominar a terra, submetê-la a si e etc. nunca como seu proprietário, mas como um administrador que deverá prestar contas de sua administração um dia.
Assim como o sábado, também a criação é um presente de Deus para o homem. Pela observância do “Shabbat”, descanso e pela vida harmoniosa com criação, a intenção do Senhor é fazer o homem gozar e participar de sua indizível alegria. Portanto, qualquer outra apropriação que o homem fizer, tanto do sábado, quanto da criação, que não o levem a experimentar a comunhão, a paz, a alegria e a glória de Deus, será sempre uma idolatria, sempre um pecado.
A consciência e as ações na Igreja em relação ao Meio Ambiente e a Ecologia devem partir sempre deste fundamento do mandato cultural e deste conceito Bíblico da “Imago Dei”. Nossas ações devem ser o fruto de uma amorosa e agradecida obediência na participação da alegria de Deus. Deve partir de nossa condição de mordomos, administradores, vice-regentes da criação da qual deveremos dar contas um dia.
Não obstante a ambivalência da natureza em face de sua contaminação pela corrupção do pecado, é tarefa dos cristãos ressaltar o caráter “hierofânico” da natureza, ou seja, que a criação reclama um Criador, exige um Criador, distinto dela, além dela, e da qual ela dependa para existir e se manter. As causas da Ecologia e do Meio Ambiente são grandes oportunidades para a Igreja e para os cristãos proclamarem a Evangelho, enquanto exercem por meio da Grande Comissão a obediência ao Mandato Cultural.
Reverendo Luiz Fernando
Pastor Mestre da Igreja Presbiteriana Central de Itapira
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