Em nossa última pastoral falamos a respeito da excelência da oração para o incremento da vida espiritual. Falamos ainda que o tempo em preparação para a Páscoa (Quaresma), é um período que nos convida a aprofundar a nossa intimidade com Deus, um tempo forte para lutar contra a tibieza, a letargia e a negligência que não raras vezes acometem a nossa vida de discípulos e que esfriam os nossos afetos para com o Senhor. Todavia, apesar da oração ser a mais excelente atividade e virtude da religião, ela nunca está sozinha. Ela deve vir acompanhada da prática de boas obras. Na verdade, realizar boas obras é um privilégio dos crentes, mais que sua obrigação, ainda que também o seja. Entretanto, a prática das boas obras é uma consequência inevitável do entendimento do verdadeiro Evangelho. Mais do que receber bênçãos, os que entendem e recebem o Evangelho se tornam abençoadores dos seus semelhantes. As boas obras são ainda a nossa resposta amorosa de gratidão à obra boa por excelência que o Cristo realizou por nós na cruz e a excelentíssima obra do Espírito Santo em produzir fé, regenerar-nos, justificar-nos, santificar-nos, adotar-nos e nos encaminhar para a glória, preservando-nos deste mundo mal. Quando praticamos boas obras obedecemos aos Mandamentos em suas duas tábuas. Por meio delas, a um só tempo, amamos a Deus sobre todas as coisas e ao próximo como a nós mesmos. Prova disso é o ensino de Jesus na parábola do bom samaritano em Lc 10.25-37 e este sermão de Jesus: “Pois eu tive fome, e vocês me deram de comer; tive sede, e vocês me deram de beber; fui estrangeiro, e vocês me acolheram; necessitei de roupas, e vocês me vestiram; estive enfermo, e vocês cuidaram de mim; estive preso, e vocês me visitaram. Então os justos lhe responderão: Senhor, quando te vimos com fome e te demos de comer, ou com sede e te demos de beber? Quando te vimos como estrangeiro e te acolhemos, ou necessitado de roupas e te vestimos? Quando te vimos enfermo ou preso e fomos te visitar? O Rei responderá: Digo-lhes a verdade: o que vocês fizeram a algum dos meus menores irmãos, a mim o fizeram. Então ele dirá aos que estiverem à sua esquerda: Malditos, apartem-se de mim para o fogo eterno, preparado para o diabo e os seus anjos. Pois eu tive fome, e vocês não me deram de comer; tive sede, e nada me deram para beber; fui estrangeiro, e vocês não me acolheram; necessitei de roupas, e vocês não me vestiram; estive enfermo e preso, e vocês não me visitaram. Eles também responderão: Senhor, quando te vimos com fome ou com sede ou estrangeiro ou necessitado de roupas ou enfermo ou preso, e não te ajudamos? Ele responderá: Digo-lhes a verdade: o que vocês deixaram de fazer a alguns destes mais pequeninos, também a mim deixaram de fazê-lo” (Mt 25.35-45). Nesse período em preparação para a Páscoa as boas obras são gestos concretos de incremento da vida cristã que deseja voltar ao primeiro amor, do qual facilmente caímos ao longo da caminhada. É preciso esclarecer que as boas obras em nada mudam a nossa posição diante de Deus. Não as fazemos para sermos mais aceitos ou mais salvos ou mais justos. Também as boas obras não são graças suplementares à obra realizada por Cristo na Cruz em nossa salvação. Esta obra foi perfeita e suficiente. Na verdade, fomos salvos para poder realizar essas obras que agradam o Senhor e evidenciam a nossa nova natureza de filhos de Deus. Essas boas obras foram reservadas e ordenadas a nós antes mesmo de nossa conversão: “Pois vocês são salvos pela graça, por meio da fé, e isto não vem de vocês, é dom de Deus; não por obras, para que ninguém se glorie. Porque somos criação de Deus realizada em Cristo Jesus para fazermos boas obras, as quais Deus preparou de antemão para que nós as praticássemos” (Ef 2.8-10). Quais são esses gestos concretos que podemos realizar, acompanhados e empoderados por uma vida de oração? Faço uma lista nada exaustiva, porém, nada impossível de se realizar. 1. Tenha mais presente em sua mente e em seu coração, diante de Deus, familiares e amigos, colegas de trabalho, professores, patrões e pessoas do seu círculo que não conhecem salvadoramente o Evangelho. Orar pelos perdidos é uma excelente obra diante de Deus. 2. Seja uma presença mais efetiva e afetiva na vida dos pobres e necessitados. Abençoe suas vidas compartilhando o que você tem. A sua presença e a sua atenção sincera e compadecida, de tudo o mais importante, mas essa presença não pode se dar de mãos vazias para não tornar o amor uma caricatura. Cubra a nudez, sacie a fome, mate a sede, encaminhe a pessoa para outros atores sociais que possam contribuir efetivamente. Indignar-se com a indignidade das vidas marginalizadas é um jeito de praticar boas obras. 3. Visite lugares de sofrimento, abandono e alienação, como hospitais, asilos, clínicas psiquiátricas ou idosos que vivem isolados em suas casas, esquecidos dos parentes e amigos. Demonstre empatia, compaixão e amor gratuito. 4. Engaje-se na diaconia da Igreja, não terceirize a caridade, obedeça ao Senhor Jesus aqui: “Ao cair da tarde, os discípulos aproximaram-se dele e disseram: Este é um lugar deserto, e já está ficando tarde. Manda embora a multidão para que possam ir aos povoados comprar comida. Respondeu Jesus: "Eles não precisam ir. Dá-lhes vocês mesmo algo para comer" (Mt 14.15,16).
Reverendo Luiz Fernando é pastor na Igreja Presbiteriana Central de Itapira
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