Depois de quase um mês na Europa, retorno ao Brasil e à Igreja Presbiteriana Central de Itapira com muitas interrogações no coração acerca da evangelização. Visitei templos históricos, majestosos, lindíssimos. Estive em lugares que só conhecia pela literatura, lugares que no passado, às vezes nem tão distante, eram frequentados pelos heróis da fé evangélica. Além da célebre abadia de Westminster, fui à comunidade que foi pastoreada por Charles Spurgeon, o príncipe dos pregadores e também à Westminster Chapel, onde por muitos anos pregou o Dr. Lloyd-Jones, o maior pregador do século XX. Visitei também igrejas antiquíssimas que apesar de possuir vida paroquial ainda hoje, celebram mais um cristianismo fóssil, uma espécie de arqueologia da fé, do que a dinâmica transformadora da fé. Com raríssimas exceções, as igrejas na Europa de maneira geral, as que não desapareceram e que venderam o seu patrimônio para lojas, bares e boates, são comunidades de cabelos brancos, corpos curvos e rostos sulcados pelo tempo. São igrejas que não se renovaram com o passar dos anos, há pouquíssimos jovens, quase nenhuma criança, raros são os casais jovens e famílias que frequentam os cultos. Algumas delas deu-me a sensação de estarem vivendo a sua última geração e não demora muito, uma placa de “For Sale” será fincada no jardim da frente. As explicações para esse cenário agonizante da maioria das igrejas não são simples, muitas são as circunstâncias que podem muito bem estar fora de controle da liderança e da comunidade eclesial, como as transformações demográficas, culturais e sociais de um bairro ou distrito por exemplo. A forçada saída de um grupo social, por motivos econômicos ou políticos, pode influenciar a vida concreta da igreja. Todavia, encontramos coisas em comum nessas igrejas enfraquecidas, elementos que podem ou não coexistir em todas as comunidades. A primeira causa é o abandono da fé ortodoxa, da pregação genuína das Escrituras, do discipulado sério e comprometido. Muitas dessas comunidades já não creem na inerrância das Escrituras, não creem que a Bíblia é a palavra de Deus e já não ensinam as narrativas dos textos bíblicos como fatos, mas como mitos e arquétipos. A segunda causa. Afrouxaram a entrada de novos membros, aceitaram no rol homens e mulheres sem evidências mínimas de conversão e coração transformado e no lugar de incentivar os membros a pregarem explicitamente a Cristo num ministério pessoal de evangelização, mobilizam os crentes para as ações caritativas, sociais e de socorro, tão essenciais para a vida de qualquer igreja e cristão, sem qualquer conexão com o imperativo de falar de Jesus Cristo como o único e suficiente salvador. A terceira, essas mesmas igrejas, que hoje estão agonizando em um desesperado senso de inadequação no mundo contemporâneo, nutriram durante muitos anos a preocupação em ser relevantes em seus corações. Com isso, foram importando acriticamente elementos culturais e mundanos para o culto e a comunicação da fé. Abandonaram o “Princípio Regulador”, isto é, o ensino bíblico de que a adoração é conforme o que Deus deseja e não conforme o que o homem acha bonito ou emocionante. Esse culto relevante, preocupado excessivamente em conectar-se ao homem contemporâneo, não mudou somente a estética (tipos musicais, instrumentos, estruturas litúrgicas e espaciais), mas também o objeto do culto foi alterado. Não mais a necessidade primeira de agradar a Deus, mas a idolátrica necessidade de um culto que agrade ao adorador. Abandonaram também o vocabulário da fé, de modo que expressões como “expiação”, “justificação”, “pecado”, foram substituídas pela psicologização da fé. E por último, mas sem esgotar o assunto evidentemente, a diminuição do engajamento missionário. A lenta, porém real perda do compromisso missionário esfriou o coração de muitos crentes. Missões foram reduzidas às ofertas e a um ou outro momento de oração dentro do programa litúrgico ou atividade na semana. As igrejas deixaram de ser comunidades enviadoras, passaram a pensar que já haviam feito o bastante (de fato fizeram muito em duzentos e cinquenta anos, nós mesmos somos fruto daquele labor missionário), e viram desaparecer pouco a pouco as preciosas e jovens vocações missionárias. Essa experiência na Europa fez-me pensar que o mito de Sízifo é uma síndrome que pode se instalar no coração da igreja. Nesse mundo de constantes e vertiginosas transformações, parece não valer a pena possuir identidade sólida, convicções inegociáveis e fidelidade missionária, dá-nos sempre a impressão de inadequação e falta de propósito. É para um tempo como esse o nosso que somos chamados para permanecer firmes no que cremos e enviados com uma mensagem que não temos o direito de modificar, a Evangelização centrada em Cristo e nele somente é o que protege a igreja da esclerose espiritual degenerativa e progressiva.
Rev. Luiz Fernando é Ministro a Palavra na Igreja Presbiteriana Central de Itapira
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